Na biografia “A Mulher em Mim“, lançada nesta terça-feira (24), pela editora Buzz, no Brasil, Britney Spears se abriu sobre momentos delicados. A cantora desabafou sobre sua tutela, os bastidores desastrosos do VMA de 2007, e o aborto após descobrir que estava grávida de Justin Timberlake. Na obra, porém, ela confessou que uma de suas lembranças mais leves foi em solo brasileiro.
A Princesa do Pop se apresentou no Rock in Rio de 2001, com a “Oops!… I Did It Again World Tour”, para cerca de 250 mil pessoas. No relato, Britney afirmou que se sentiu “livre e destemida” quando chegou ao Brasil.
“Quando penso naquela época, eu estava realmente vivendo um sonho, vivendo o meu sonho. Minhas turnês me levaram para o mundo todo. Um dos momentos mais felizes que vivi durante as turnês foi tocar no Rock in Rio 3, em janeiro de 2001. No Brasil, me senti livre como uma criança em alguns aspectos — uma mulher e uma criança ao mesmo tempo. Eu me sentia corajosa àquela altura, cheia de pressa e ímpeto”, escreveu.
A cantora revelou que ela e a equipe aproveitaram as belezas naturais da Cidade Maravilhosa enquanto estavam no país. “À noite, meus dançarinos e eu mergulhávamos nus no mar, cantando, dançando e rindo uns com os outros. Ficávamos conversando por horas sob a lua. Foi muito bonito. Exaustos, fomos para as saunas, onde conversamos mais um pouco”, lembrou.
No auge da carreira, aos 19 anos, Spears admitiu que aceitava participar de algumas “loucuras”. “Eu era capaz de cometer alguns pecados na época — nadar nua, ficar acordada conversando a noite toda —, nada exagerado. Tinha gosto de rebelião e de liberdade, mas eu só estava me divertindo e agindo como uma jovem de dezenove anos”, explicou.
Assista à performance de “Baby One More Time” no Rock in Rio:
Carreira de atriz
Em “A Mulher em Mim”, Britney Spears também lembrou o período em que atuou e como a experiência foi, no mínimo, complicada. O primeiro longa protagonizado por ela foi “Crossroads: Amigas para Sempre”.
“O primeiro filme que eu fiz foi ‘Crossroads’, com roteiro de Shonda Rhimes e direção de Tamra Davis. As filmagens foram em março de 2001, mais ou menos na mesma época em que eu estava gravando o álbum ‘Britney’. No filme, eu interpretava uma ‘garota boazinha’ chamada Lucy Wagner. A experiência não foi fácil para mim. Não tive problema com qualquer pessoa envolvida no projeto, mas sim com o que a atuação fez com a minha mente”, contou.
Britney explicou que usava uma técnica em que os atores desenvolvem os pensamentos e as emoções da personagem a partir de memórias reais. Segundo a cantora, porém, ela não conseguia separar a ficção da vida real. “Acho que comecei a atuar usando o Método — só que eu não sabia como sair da minha personagem. Realmente me tornei essa outra pessoa. Alguns atores utilizam isso, mas em geral estão conscientes de que estão fazendo isso, eu não separava as coisas”, disse.
“Com a câmera ligada, eu era ela, e então não sabia mais diferenciar quem era quem, fora ou dentro da gravação. Eu levei isso muito a sério. Tão a sério que Justin chegou a perguntar para mim: ‘Por que você está andando assim? Quem é você?’. Ainda bem que Lucy era uma garota gentil e escrevia poemas, e não uma serial killer. Devia ter interpretado a mim mesma diante das câmeras. Mas eu queria tanto fazer um bom trabalho que continuei tentando ir cada vez mais fundo na personagem”, explicou.
Este, para ela, foi o começo e o fim de sua carreira como atriz. Na época, Spears também fez o teste para a protagonista de “Diário de Uma Paixão”, mas acabou perdendo o papel para Rachel McAdams – o que a deixou “aliviada”.
“O pessoal do casting ficou entre mim e Rachel McAdams, e, mesmo que tivesse sido legal reencontrar Ryan Gosling depois da época de ‘O Clube do Mickey’, estou feliz por não ter feito. Se tivesse atuado nesse filme ao invés de trabalhar no álbum ‘In the Zone’, eu ficaria agindo como uma herdeira mimada da década de 1940. Tenho certeza de que grande parte desse problema aconteceu porque foi a minha primeira experiência como atriz”, ponderou.
Arrependimento por recusa
Mais tarde, ela recebeu convite para atuar em “Chicago”, mas, apesar da tentação, também recusou. “Naquela época, me perguntaram se eu gostaria de participar de um musical. Eu não tinha certeza se queria atuar novamente depois de ‘Crossroads’, mas fiquei tentada por esse. Era ‘Chicago’. Os executivos foram até onde eu faria um show e me perguntaram se eu queria fazer o filme. Eu havia recusado três ou quatro filmes porque estava vivendo meu momento com o palco. Não queria que nada me distraísse da música. Eu estava feliz”, lembrou.
No livro, porém, ela admitiu que se arrependeu da decisão e que deveria ter encarado o desafio: “Agora olho para trás e penso que eu deveria ter aceitado o papel. Eu tinha poder naquela época; queria tê-lo usado de modo mais ponderado, queria ter sido mais rebelde. Teria sido divertido fazer ‘Chicago’. São vários tipos de dança — todas as minhas favoritas: afetadas, femininas, estilo Pussycat Dolls, passos para despir-se do espartilho. Eu queria ter aceitado a proposta. Eu poderia ter interpretado uma vilã que mata um homem, e dançaria e cantaria enquanto fizesse isso”.
“Eu provavelmente teria encontrado maneiras, teria treinado, para não me tornar uma personagem de ‘Chicago’ da mesma forma que tinha feito com Lucy em ‘Crossroads’. Queria ter tentado fazer algo diferente. Se ao menos eu tivesse sido corajosa o bastante para sair da minha zona de conforto, feito mais coisas que não estivessem ligadas apenas ao que eu sabia. Mas eu estava comprometida a não criar problemas e a não reclamar mesmo quando algo me chateava”, concluiu. “Chicago”, como se sabe, se tornou um clássico e faturou seis estatuetas do Oscar, incluindo de “Melhor Filme”