Neste domingo (13), em texto publicado na Folha de S. Paulo, a atriz Cássia Kis se pronunciou contra as críticas que tem recebido após ataques a jornalistas, declarações polêmicas sobre a comunidade LGBTQIA+, o aborto e o uso de anticoncepcionais. Ela ainda falou sobre sua participação em manifestações contra o governo do presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva.
No texto intitulado “A vida como ela é: Tenho o direito de manifestar minhas preferências políticas”, Kis afirmou que foi alvo de “mentiras, assédio moral e muita pressão” e negou ser preconceituosa. “Não sou nem nunca fui homofóbica; sou no máximo mentirofóbica e idiotofóbica”, disparou Cássia.
A atriz ainda usou o espaço concedido pelo veículo para “perdoar” aqueles que condenaram seu posicionamento recente. “Nos últimos dias, muito se tem falado a meu respeito. Falado mal, diga-se. Inclusive entre colegas de ofício a quem sempre respeitei como criaturas humanas e como profissionais, a boataria tem sido grande. Pois bem: sejam pessoas que creem piamente no que dizem, sejam pessoas simplesmente maliciosas, ou ainda pessoas que seguem um rastilho de pólvora e repetem o discurso alheio sem se inteirarem dos fatos, desde já digo a todas elas o seguinte, neste espaço para mim aberto pela Folha: estão perdoadas, do fundo do meu coração”, começou ela.
Kis continuou o desabafo afirmando que “com a verdade não se brinca” e reforçando que não está “representando” ao se defender de “falsos rumores com potencial destrutivo”. Os rumores em questão seriam episódios de homofobia supostamente protagonizados pela atriz dentro e fora do ambiente de trabalho, além de comportamento inadequado nos bastidores de “Travessia” e da série “Desalma“, do Globoplay, mencionados por 15 artistas em um compliance da TV Globo, que veio à tona no dia 4 de novembro.
A lista de denúncias aumentou, com reclamações formais de cinco jornalistas da emissora, que reportaram ataques da atriz à imprensa pelo WhatsApp. Sobre as acusações, Kis escreveu: “Embora eu não deseje o mal de ninguém, nem por isso aceito as pechas equivocadas que alguns têm lançado sobre mim. E por quê? Porque aprendi o valor de uma boa reputação, construída com trabalho e amor ao longo de muitos anos. E também porque aprendi que com a verdade não se brinca. Portanto, não posso simplesmente dar de ombros perante os murmúrios que atingem tanto a pessoa como a artista”.
Na sequência, ela alegou estar sendo vítima de assédio moral de “contornos policiais” após, em mais de uma ocasião, declarar apoio ao presidente Jair Bolsonaro. “Dizem que, por assumir uma posição política conservadora, eu estaria ‘envergonhando’ a classe artística. Se fosse apenas isso, tudo bem. Mas o zum-zum-zum chegou além, pois me atribuem intenções que não tenho, palavras que não disse e crises que não criei. A pressão sobre mim —verdadeiro assédio moral— ganhou contornos policiais, pois me chega a notícia de que estou sendo formalmente acusada de ‘homofobia’por um grupo de ativistas do Rio de Janeiro”, disse a atriz.
O trecho refere-se a declarações feitas por ela durante a live com Leda Nagle, em 27 de outubro, na qual afirmou: “Não existe mais homem e mulher, mas mulher com mulher e homem com homem, e homem com homem não dá filho, nem mulher com mulher. Como a gente vai fazer?”.
A fala rendeu uma denúncia contra a atriz no Ministério Público do Rio de Janeiro. Após a repercussão, o Grupo Arco-Íris, movimento que defende pautas da comunidade queer, protocolou na Justiça do Rio de Janeiro uma ação contra a atriz sob a alegação de que ela foi homofóbica, pedindo R$ 250 mil de multa e, ainda, uma retratação pública.
Em seu longo depoimento, Kis mencionou também a religião. Segundo a artista, ela reencontrou no catolicismo “o barro de que é feita” e, após seu envolvimento em manifestações bolsonaristas que pedem intervenção federal, ela entende que seus acusadores estão “politizando sua fé”.
“Meus detratores dizem que política e religião não se misturam, porque o Estado é laico. Mas eles estão justamente politizando a minha fé, talvez imaginando que rezar o terço, ir à missa aos domingos e me confessar com um sacerdote sejam atos políticos. Estão enganados. Ocorre que a Cássia que reza é a mesma cidadã que tem o direito constitucional de manifestar suas preferências políticas. Uma só pessoa, duas coisas diferentes”, escreveu ela.
Por fim, Cássia Kis concluiu dizendo que, apesar das críticas, muitos brasileiros estão comovidos com o que ela tem enfrentado. “Aos fãs, aos amigos, aos familiares, aos colegas de profissão e também aos inimigos de última hora, digo: neste momento de turbulência, a dor de ver gente boa virando-me a cara é superada, sim, pela alegria de encontros memoráveis com pessoas de carne, de ossos e de fé”, pontuou.
“Não há um só dia em que eu não seja parada na rua por brasileiros comovidos com o meu proceder, e só trago isso a público para mostrar que existem corações pulsantes fora da bolha das redes sociais, fora dos pasquins de fofocas que se alimentam de escândalos. A propósito, a solidariedade desses desconhecidos supre a falta de apoio de pessoas que, me conhecendo há tempos e tendo partilhado comigo ótimos momentos, tanto na vida pessoal como na profissional, não levantam a voz em minha defesa, talvez por medo de serem mal vistas. É a vida. A vida como ela é na realidade, não como é pintada nos contos de fadas”, concluiu.
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