Diretor é preso por dar golpe de R$ 62 milhões na Netflix e não entregar nenhum episódio de série; investigação aponta destino do dinheiro

Série de ficção científica foi interrompida após suposto uso indevido do orçamento

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O diretor Carl Erik Rinsch, conhecido pelo filme “47 Ronins”, foi indiciado por fraude e lavagem de dinheiro nos Estados Unidos, após supostamente desviar US$ 11 milhões (cerca de R$ 62 milhões) da Netflix. O valor havia sido destinado à produção da série de ficção científica “Conquest”, que nunca foi concluída. Em vez de investir na finalização do projeto, Rinsch teria gasto parte do dinheiro em carros de luxo, móveis caros, colchões e investimentos em criptomoedas e no mercado de ações.

De acordo com a Variety, Rinsch foi preso na terça-feira (18), em West Hollywood, Califórnia, e pode pegar até 90 anos de prisão caso seja condenado por todas as acusações. O caso vem sendo investigado desde 2023 e ganhou novos desdobramentos após a Justiça norte-americana determinar que ele devolvesse os valores à Netflix.

“Conforme alegado, Carl Erik Rinsch orquestrou um esquema para roubar milhões solicitando um grande investimento de um serviço de streaming de vídeo, alegando que o dinheiro seria usado para financiar um programa de televisão que ele estava criando, mas ele nunca existiu”, disse o procurador interino dos Estados Unidos Matthew Podolsky em uma declaração.

Em 2018, a Netflix venceu uma disputa contra Amazon, HBO e Apple para adquirir os direitos de “White Horse” (mais tarde rebatizada como “Conquest”), uma ambiciosa série de ficção científica criada por Rinsch. O projeto já contava com o apoio do ator Keanu Reeves e havia sido apresentado com um trailer e seis episódios curtos.

“47 Ronins” foi o único longa de Carl Rinsch (Foto: Reprodução/Netflix)

O acordo

previa um orçamento de US$ 61,2 milhões, com um investimento inicial de US$ 44,3 milhões. A produção deveria ser realizada em várias partes do mundo, incluindo Brasil, México, Hungria, Romênia e Uruguai. No entanto, os custos rapidamente saíram do controle, e Rinsch informou à Netflix que só conseguiria entregar um único episódio com o dinheiro recebido.

Em 2020, o diretor solicitou mais US$ 11 milhões sob a justificativa de que eram essenciais para concluir a primeira temporada. A Netflix liberou o valor, mas, ao longo dos meses, a plataforma percebeu que o projeto estava paralisado. Durante uma reunião com executivos da empresa, Rinsch, em vez de discutir a produção, teria falado sobre teorias envolvendo a pandemia de COVID-19, Deus, o universo e a reprodução. Em seguida, o ator principal do projeto abandonou a série, e a Netflix decidiu cancelar “Conquest” e declarar o prejuízo.

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Destino do dinheiro

Ao invés de utilizar os US$ 11 milhões para concluir a série, Rinsch transferiu a maior parte do valor para sua conta pessoal e fez apostas no mercado financeiro. Ele investiu em ações de uma empresa biofarmacêutica, perdendo cerca de US$ 5,9 milhões em negociações. Depois, apostou em criptomoedas e, surpreendentemente, obteve um grande lucro, transformando US$ 4 milhões em quase US$ 27 milhões.

Com o dinheiro, o diretor começou a gastar em itens de luxo. De acordo com a acusação, ele comprou: cinco Rolls-Royces e uma Ferrari por US$ 2,4 milhões; móveis e antiguidades no valor de US$ 5,4 milhões; colchões de luxo por US$ 638 mil; roupas de cama e lençóis finos por US$ 295 mil; utensílios de cozinha por US$ 180 mil; hospedagens no Four Seasons e aluguel de casas de luxo por US$ 395 mil; relógios e roupas de grife por US$ 652 mil; honorários advocatícios no valor de US$ 1,07 milhão para processar a Netflix e lidar com seu divórcio.

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Rinsch ainda alegou que todas essas compras eram “necessárias” para a segunda temporada de “Conquest”, mesmo que a Netflix nunca tenha encomendado novos episódios. Ele também justificou os gastos afirmando que queria evitar ser tributado pelo IRS (a Receita Federal dos Estados Unidos).

Após uma longa disputa judicial, a Netflix venceu um processo arbitral contra o diretor e conseguiu uma ordem para que ele devolvesse US$ 11,8 milhões. No entanto, Rinsch não fez o pagamento e, em agosto de 2023, entrou com uma petição para tentar anular a decisão. Ele argumenta que o contrato com a Netflix exigia apenas um episódio e não os 13 que a plataforma alegava.

O grande júri federal indiciou Rinsch por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e cinco acusações de transações ilegais com fundos ilícitos. Ele pode pegar até 90 anos de prisão caso seja condenado por todas as acusações. Por enquanto, a Netflix não comentou a prisão do diretor. O caso segue em investigação.

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