Há 25 anos, Fernanda Montenegro era derrotada no Oscar de 1999, na categoria de “Melhor Atriz” por “Central do Brasil“. Apesar de não ter levado a estatueta dourada para casa – e para os brasileiros! –, a estrela afirmou que a indicação foi um momento marcante em sua carreira, assim como toda a experiência em torno da premiação mais importante do cinema.
“Foi e ainda é uma experiência bonita e importante. A concorrência, no que diz respeito a mim, como atriz latino-americana, era jupiteriana“, declarou a atriz, em entrevista ao Splash, do UOL. Na ocasião, Fernanda concorria ao prêmio com Cate Blanchett por “Elizabeth”, Meryl Streep por “Um Amor Verdadeiro”, Emily Watson por “Hilary e Jackie”, e Gwyneth Paltrow por “Shakespeare Apaixonado”. Paltrow acabou levando o troféu.
Durante a cerimônia, a brasileira revelou ter recebido a torcida de Ian McKellen, que também concorria ao Oscar de “Melhor Ator” naquele ano pelo seu trabalho em “Deuses e Monstros”. Mais tarde, McKellen entrou no gosto popular por seus papeis como Magneto em “X-Men” e Gandalf em “O Senhor dos Anéis”. O vencedor da categoria, entretanto, foi Roberto Benigni por “A Vida é Bela”.
“O grande e celebrado ator inglês Ian McKellen, concorrendo ao Oscar nessa mesma premiação, chegou até mim e, sério, falou — ‘espero, sinceramente, que você ganhe o Oscar’. Respondi — ‘eu espero, também, que você ganhe’. Nós dois perdemos. Se esse referencial artístico, inglês, não levou, imagine!“, refletiu. Apesar disso, ela contou que, no geral, possui boas lembranças da cerimônia. “O Oscar, do qual participei, foi uma festa imensa. Descomunal“, concluiu Montenegro.
Vinicius de Oliveira, que interpretou Josué em “Central do Brasil”, também falou ao Splash sobre o Oscar e lamentou a derrota da atriz. “Nunca perdoei o fato da Fernanda não ter ganhado o Oscar. Isso para mim é mais dolorido do que o filme em si, porque tínhamos grandes concorrentes, o próprio a ‘Vida é Bela’. Ele fala de holocausto, assunto importante e tem destaque no Oscar“, disse ele. “Já a Fernanda Montenegro? É duro perder para uma atriz fraca em um papel fraco. O papel da Fernanda no ‘Central do Brasil’ é algo extraordinário“, elogiou.
Vinicius tinha apenas 12 anos quando estrelou o longa de Walter Salles. Ao veículo, ele compartilhou o que sentiu ao presenciar de perto uma premiação de cinema. “Comemorei quando foi anunciado que concorreríamos, mas como era moleque, não sabia da dimensão do que era o Oscar. A maior alegria foi saber que eu viajaria para os Estados Unidos, em Los Angeles, e ver diversos artistas que eu admirava“, declarou.
Nos bastidores de “Central do Brasil”
Além das revelações sobre o Oscar de 1999, Fernanda e Vinicius também relembraram dos bastidores do filme nacional. No longa, Dora, personagem de Montenegro, trabalha escrevendo cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ela, então, decide ajudar Josué, interpretado por Oliveira, a encontrar o pai desconhecido após o atropelamento de sua mãe.
A atriz contou que já havia tentado trabalhar com o diretor, mas que a parceria só aconteceu em “Central do Brasil”. “Há sempre uma sadia ambição humana e artística quando temos um projeto de realização a serviço da nossa vocação inarredável. Walter Salles e eu já tínhamos tido contatos para filmagens no passado, que não aconteceram“, explicou.
“Nós nos reencontramos no projeto ‘Central do Brasil’. Aceitei com muito prazer fazer parte dessa produção. Sempre admirei a criação celular, intimista, extremamente honesta de seus filmes. Aceitei fazer parte desse projeto tão apaixonante. Mas, essa produção não teria acontecido se o menino, Vinícius de Oliveira, não tivesse sido encontrado. Foi uma filmagem votiva“, falou.
Para Montenegro, a obra continua na memória dos brasileiros. “É uma temática mostrando que mesmo diante do abandono social, o ser humano sobrevive pela coragem e fé na própria vida. É uma saga de resistência. Walter Salles é um cineasta comovedoramente sensibilizador“, pontuou. Vinicius, por sua vez, concordou. “Volta e meia encontro alguém que me diz que ‘Central do Brasil’ foi o que levou a pessoa a trabalhar com cinema. É um orgulho muito grande“, finalizou.