Hugo Gloss

Irmã de Paulo Gustavo, Ju Amaral, faz relato tocante sobre como sobrinhos lidam com ausência: ‘Dizem ‘papai veio visitar’, e meu olho enche de lágrimas’

Um dia de muitas emoções… Hoje, 4 de maio, completa um ano da morte do humorista Paulo Gustavo, vítima da Covid-19. Juliana Amaral, irmã do ator, falou pela primeira vez sobre a tragédia, em nova entrevista ao jornal O Globo, divulgada nesta terça-feira (3).

Durante o bate-papo, a produtora e assistente de direção detalhou a relação com o irmão. Juliana, que ainda se refere a PG no presente, revelou que eles se chamavam de ‘alma gêmeas’. “A única forma de definição que consigo é a que sempre falávamos: que somos almas gêmeas! Nunca houve assunto proibido entre a gente. Conversávamos até no olhar. Todos os momentos ao lado do meu irmão foram de pura emoção. Somos apaixonados um pelo outro. Somos melhores amigos”, ressaltou.

Em relato sensível, Amaral afirmou que ela e a mãe, Déa Lúcia (que inspirou a personagem icônica Dona Hermínia, na comédia “Minha mãe é uma peça”) passam por altos e baixos no luto. “Vivemos juntas, ela cuida de mim, e eu cuido dela. Há dias em que a gente está no rir; em outros, no chorar. A nossa fé é que nos faz levantar da cama todos os dias. Mas o entendimento e a aceitação [da morte] ainda pretendo alcançar na doutrina espírita”, disse.

Paulo Gustavo com a mãe, Déa Lúcia, e os filhos. (Foto: Reprodução/Instagram)

Devido à proximidade dos irmãos, Juliana ainda recebe mensagens de apoio dos milhares de fãs que o comediante reuniu ao longo da carreira. Os recados lhe ajudam com a saudade. “Recebo milhões de mensagens. Não consigo ver todas, mas me emociona muito o que as pessoas escrevem, e são sempre os mesmos temas, como: “Seu irmão me salvou”; “Seu irmão faz muita falta e estou fazendo terapia pra suportar a ausência física dele”; “Graças a seu irmão, meus pais me aceitaram”; “Graças a seu irmão e à personagem Dona Hermínia, eu aceitei o meu filho”; e por aí vai… Sempre sou abordada com muito respeito e carinho. Choro sempre”, admitiu.

Amor aos sobrinhos

Além da espiritualidade e do apoio do público, para lidar com o luto, a carioca se apegou ao amor pelos sobrinhos Gael e Romeu, de 2 anos, frutos do relacionamento de Paulo Gustavo com o dermatologista Thales Bretas. “Meus sobrinhos são lindos, engraçados… São os meus amores, e eu sou alucinada por eles. E eles, por mim”, revelou.

Para Amaral, a ligação com os gêmeos a ajudou a compreender a ausência do irmão. No entanto, ela confessou que o processo é um pouco mais complicado para as crianças. “Eles são muito pequenos ainda para esse entendimento. Às vezes, os dois dizem que o ‘papai Paulo veio visitar’, e aí, já viu, meu olho enche de lágrimas. Mas eu disfarço pra eles não me verem chorar. Outro dia, Gael disse ao apontar para o céu: ‘Olha lá a luz do papai Paulo’. Romeu também já falou, quando acordou chorando: ‘O papai Paulo não virou estrelinha, ele estava aqui agora brincando comigo!'”, declarou a produtora, emocionada.

Juliana com os sobrinhos, Gael e Romeu. (Foto: Reprodução/Instagram)

Morte poderia ser evitada

Um ano após a morte do ator, Juliana deixa evidente sua revolta já que a tragédia poderia ter sido evitada, caso a vacina contra o coronavírus tivesse chegado antes no país. “Dizer que não me revolto seria uma hipocrisia. Estou buscando na minha espiritualidade e fé esse entendimento e conforto. São muitas as dores presentes em mim”, afirmou.

“Não só pelo meu irmão, porque, assim como ele, milhares de pessoas morreram por falta de uma vacina que já existia. Mas pelas milhares de famílias afetadas por essa tragédia. Aproveito para falar da importância de se tomar a vacina. A vida social voltou aos poucos graças a ela. Tomem a vacina!”, incentivou.

Ela também comentou o projeto “Lei Paulo Gustavo” — que propunha o repasse de R$ 3,8 bilhões para o enfrentamento dos efeitos da pandemia de Covid-19 sobre o setor cultural. A ação foi vetada pelo presidente Jair Bolsonaro, a quem Juliana não poupou críticas. “Foi vetado, mas ainda vamos vencer essa. A minha parte eu vou fazer. As eleições estão aí para todos exercerem o poder de eleger um presidente que respeite o cargo que ocupa e a nação do país que o elegeu, o que definitivamente não é o caso do atual”, disse ela.

“Um governo que nega a ciência e a pesquisa, que não incentiva a cultura, que desdenha dos mortos pela Covid, que não respeita a diversidade religiosa e sexual, e que é a favor do armamento da população. Meu irmão e eu sempre fomos profundamente críticos e contrários a todos esses posicionamentos”, pontuou.

Por fim, Juliana revelou que não deixará a obra do irmão se apagar e, ao ser questionada sobre projetos inéditos inspirados por Paulo, fez mistério. “Farei tudo que eu puder em nome dele, por ele e no que ele acreditava. Infelizmente, não posso adiantar nada [desses trabalhos], pois ainda é segredo. Mas já, já todos vão saber”, concluiu.

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