Nesta quarta-feira (9), Julia Konrad foi convidada do “Desculpa Alguma Coisa“, videocast comandado por Tati Bernardi no UOL Universa. Durante o bate-papo, a atriz falou sobre ter sofrido estupro conjugal em um antigo relacionamento e contou como se deu conta de que foi vítima de uma violência.
“Quantas mulheres não acordam com o marido ali dentro? Isso acontecia comigo. Eu acordava e [o sexo] já estava acontecendo. Mas era namorado, eu achava que estava tudo bem”, detalhou Julia.
No videocast, ela confessou que demorou muito para que entendesse as violências sexuais que partiram do ex-companheiro, justamente por estar vivendo um relacionamento amoroso. “[Pensava] ‘está doendo, espero que ele termine logo’. Aí você entende que, em algum lugar, teu corpo não responde àquilo. Eu achava que era frígida, que era um problema totalmente meu. É meio que essa lavagem cerebral. ‘O problema sou eu, então é isso'”, admitiu.
Com o incômodo cada vez maior, Konrad decidiu abordar o assunto com o então parceiro, que não teve uma reação positiva. “Conversei no início do relacionamento, tentei. A reação foi bem violenta. Muito violenta. Daí fiquei meio que: ‘Tá, talvez seja eu'”. E aí fui cada vez mais me apagando, me anulando e, pra mim, era normal sangrar, doer, quando ia fazer xixi depois”, relembrou.
Para compreender que havia sido vítima de uma violência, Julia precisou de ajuda externa, já que não havia se dado conta até então. “Só fui entender tudo isso anos depois. Quando eu decidi escrever a carta (carta aberta em que relatou o estupro), foi um ano depois de ter elaborado isso. Caiu a ficha na terapia”, contou ela.
“Eu tinha uma questão no sexo. Eu estava muito animada porque gostava de transar. E aí começamos a investigar passados e parceiros e caiu a ficha. Minha terapeuta pegou na minha mão e disse: ‘Julia, isso que você está me descrevendo é uma violência sexual. Você foi vítima de abuso sexual, de estupro’. Fui desbloqueando memórias, lembrando de mais coisas, fui elaborando tudo isso, até que eu precisava fazer algo com tudo aquilo”, contou ela.
A atriz explicou, ainda, que as expectativas da sociedade para com as mulheres foram como uma “venda” sobre seus olhos, impedindo-a de identificar o abuso. “Estupro conjugal não é um termo novo, mas a maneira como você entende o que é, é novo. Antigamente você via como um cara que casou com a menina novinha e força relações sexuais ou o cara que bate, uma coisa violenta. O que a gente está entendendo hoje são as nuances do consentimento, quando ele existe”, explicou.
“Há algumas dinâmicas de poder em alguns relacionamentos nos quais o consentimento não é dado porque não tem como você dar o consentimento porque a pessoa se sente coagida. (…) Isso é o que mais acontece. É uma dinâmica normal, construída por séculos, em que a mulher é vista como propriedade, tem o dever de satisfazer o marido. A gente vive em uma sociedade que prepara a gente pra isso. E aí você tem um monte de mulheres com disfunções, que não têm libido, acham que o problema é com elas”, lamentou.
Por fim, Julia admitiu que sua transformação a ajudou a compreender que não deseja ser mãe e que a decisão foi como “virar uma chavinha” em suas relações. “Se eu não quero ser mãe, por que eu preciso de macho? Por que preciso ir atrás de relacionamentos longos, casamento? Eu já convivi com três pessoas com quem me relacionei e hoje acho que estar vivendo uma situação amorosa, que não existe rótulo, tem me liberado uma energia”, finalizou. Assista ao bate-papo completo:
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