A nova série documental “Surviving R. Kelly”, produzida pelo canal Lifetime, estreia ontem (3) nos Estados Unidos e explora as décadas de abusos sexuais supostamente cometidos por R. Kelly, um dos artistas mais bem sucedidos da indústria musical norte-americana. De acordo com a produtora executiva Dream Hampton, diversos músicos que foram convidados a dar depoimentos na série recusaram a oportunidade. Em entrevista ao Detroit Free Press, Hampton revelou que Jay-Z, Lady Gaga, Eryka Badu e Dave Chappelle — todos antigos colaboradores de R. Kelly — recusaram participar. Outros artistas que também passaram a oportunidade foram Questlove, Mary J. Blige e Lil’ Kim, contou Hampton ao Shadow and Act.
“A maioria das pessoas simplesmente não quer tocar no assunto”, explicou. “Eu lembro que o Questlove falou: ‘Eu faria qualquer coisa por você, mas não posso fazer isso’. Não é porque eles defendem o R. Kelly, é porque a situação é muito complicada e difícil. É esse fechar de olhos que o permitiu continuar”, disse Hampton.
Segundo a Pitchfork, Questlove respondeu à entrevista em um tweet que já foi deletado: “Eu sempre pensei que o Kels era um lixo”. E ainda acrescentou: “Minha razão para recusar aparecer no documentário, que eu apóio 10000000 por cento, é que eu não queria aparecer na parte dos ‘bons tempos’, falando o quanto ele é ‘genial’. Me pediram para falar da genialidade dele. Eu NUNCA achei ele tudo isso”.
Os únicos músicos que aceitaram participar de “Surviving R. Kelly” foram o cantor John Legend e a cantora de R&B Stephanie “Sparkle” Edwards, que testemunhou contra Kelly no julgamento de 2008. Dream Hampton, aliás, foi só elogios para a participação de John Legend: “Para mim, isso faz do John Legend um herói ainda maior do que eu pensava”.
No Twitter, John respondeu: “Todos nós devemos agradecer à minha amiga Dream Hampton pelo trabalho dela, muito necessário, em criar ‘Surviving R. Kelly’. Essas sobreviventes merecem ser ouvidas. Eu espero que traga um pouco de justiça para elas”.
We should all thank my friend @dreamhampton for her very necessary work to create #SurvivingRKelly. These survivors deserved to be lifted up and heard. I hope it gets them closer to some kind of justice.
— John Legend (@johnlegend) January 4, 2019
“Para todo mundo dizendo o quão corajoso eu sou por aparecer no documentário, não foi um risco para mim. Eu acredito nessas mulheres e não dou a mínima para proteger um estuprador de crianças em série. Decisão fácil”, acrescentou.
To everyone telling me how courageous I am for appearing in the doc, it didn't feel risky at all. I believe these women and don't give a fuck about protecting a serial child rapist. Easy decision.
— John Legend (@johnlegend) January 4, 2019
De acordo com a BBC, uma exibição da série documental que ocorreu em dezembro, em Nova York, precisou ser evacuada. Após o caso, diversos indivíduos receberam telefonemas ameaçadores.
Em 2002, R. Kelly foi indiciado após ser descoberto um vídeo pornô de um homem com uma menina. Segundo testemunhas, ela tinha 14 anos na época da gravação. “Muitas pessoas viram o vídeo, ele estava circulando nas ruas”, John relembra no documentário, segundo a People. R. Kelly e a mulher negaram que o vídeo pertencia a eles, e o músico nunca foi acusado de estupro. Em 2009, R. Kelly foi inocentado em 21 instâncias em casos relacionados à pornografia infantil. Em 2017, de acordo com uma reportagem investigativa do Buzzfeed News, R. Kelly mantinha pelo menos seis mulheres em suas propriedades em Chicago e Georgia. Em regime de “escravidão sexual”, elas precisavam atender aos desejos dele e eram punidas se quebrassem as regras — ficando sem comida, água ou sendo proibidas de irem ao banheiro. Porém, essas acusações nunca foram formalizadas na justiça.
Veja um trecho do documentário abaixo. É de partir o coração:
Que mais artistas sejam como John Legend e as mulheres corajosas que denunciaram Kelly!
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