Letícia Sabatella falou sobre o diagnóstico tardio do Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível um, aos 52 anos. Para o “Fantástico” deste domingo (17), a atriz explicou como os sintomas foram se encaixando com suas características, relembrou a infância e destacou que ainda está buscando compreender sobre o assunto. Letícia contou sobre TEA pela primeira vez no podcast “Papagaio Falante” no início do mês.
No dominical, Sabatella começou lembrando como enfrentou dificuldades na infância e chegou a ser isolada pelos colegas da escola. “Quando eu tinha 9 anos, todas as meninas do colégio pararam de falar comigo por causa do meu jeito. Eu não entendi por que”, disse. A atriz explicou que sempre teve a imaginação fértil. “Eu catava tudo quanto era coisinha, pedrinha… Ficava apaixonada pelas coisas. Aquele prego tinha vida”, contou.
Outro ponto importante para ela é lidar com a hipersensibilidade sensorial e como isso mexe com suas emoções. “Principalmente auditiva. Tem horas que eu chego a passar mal, parece agressão. Eu gosto muito do toque, mas se alguém ficar fazendo assim (carinho), dá vontade de falar: ‘Pode parar?'”, comentou.
“Todo mundo me vê. Sou uma pessoa muito sensível. A hipersensibilidade é uma característica. Todas às vezes que isso aconteceu (explosões), sempre teve gatilhos fortes, cansaço, ansiedade…”, continuou. “São situações que eu me sinto, de algum modo, em uma injustiça de compreensão, sabe? Mas minha vontade era de não ter reagido daquela maneira”, explicou. Assista:
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A artista ainda abordou sua relação com os estudos e alguns rótulos que foi ganhando ao longo da vida. “Eu estava sempre estudando e sempre me formando em alguma coisa. Parecia que eu tinha que acrescentar e me construir. Sempre fui de algum modo reconhecida como pisciana, artista, sonhadora, romântica, idealista. Até em algumas situações mais abusivas como maluca, louquinha”, desabafou.
Na reportagem, Sabatella disse que ainda tem muito o que aprender sobre o TEA, mas que ter o diagnóstico já é um caminho. “Eu reconheço que estou aprendendo sobre esse assunto. Não sei sobre ele. Eu sei sobre mim, muito intuitivamente. Isso é o valor de um bom diagnóstico para margear o seu caminho, porque uma pessoa que não se conhece fica mais suscetível a ser oprimida”, disse. No entanto, para a atriz foi um alívio descobrir. “A sensação mesmo foi libertadora. Estou nesse flerte de buscar a melhor compreensão sem desespero algum em relação a isso”, revelou.
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Assista à reportagem completa:
No podcast “Papagaio Falante”, comandado por Sérgio Mallandro e Renato Rabelo, a atriz disse ter sido diagnosticada com TEA (transtorno do espectro autista). Ao falar sobre sua sensibilidade, ela destacou que, embora o diagnóstico seja recente e não tenha estudado o suficiente para compreendê-lo, descobriu com a ajuda de uma psiquiatra e neurologista.
“Ainda é uma coisa que é uma antecipação eu falar, porque não estudei o suficiente para falar sobre isso, mas já sei que é. Eu descobri com investigação de uma psiquiatra e neurologista que eu estou dentro do transtorno do espectro autista, num grau leve“, disse. “E o fato de eu escolher o teatro, escolher a arte, foi meu mecanismo de aprender de algum modo superar ou acomodar essa realidade, esse modo de ver as coisas, que traz muita hipersensibilidade, uma ingenuidade“, declarou.
Após a participação no podcast, Letícia falou sobre a aceitação do autismo em uma postagem no Instagram. “Quantas vezes eu perdia a amizade ou as pessoas ficavam magoadas comigo porque eu não conseguia sair de casa. Eu não conseguia ir ao cinema, porque é uma experiência sensorial muito forte, como se eu tivesse tendo um sonho premonitório que iria definir a minha vida, de tão sensível“, desabafou.
“Há um tempo atrás eu estava fazendo algumas perguntas, pedindo uma luz. Porque eu sempre me senti, desde criança, que às vezes eu despertava acordada para uma consciência que me pegava de uma hora para outra”, continuou. “Por um lado, receber um diagnóstico tardio, faz entender que [nada na vida até aqui] foi limitante. Pra Clara (filha de Letícia, de 30 anos) também. Ela já fez muitas coisas que se ela fosse se atentar a um tipo de olhar, ou um tipo de compreensão do diagnóstico, ela não ia achar que poderia ser capaz de fazer”, disse.
Sabatella ainda destacou como poderia ter sido caso recebesse o diagnóstico ainda criança. “O cuidado é: o diagnóstico aliviaria muitas tensões, talvez traria muito mais inclusão em escola, em ambientes de demanda ou protege também, me protegeria de algumas roubadas, de algumas crenças, medos, insegurança, de autoestima prejudicada”, supôs. “Eu comecei a achar muito interessante o diagnóstico por conviver com pessoas e compreender as pessoas que lidam com isso e que percebem o alívio que isso traz. O diagnóstico é menos estigmatizante do que os adjetivos, que podem vir reducionistas. Esses sim que podem tachar“, encerrou.