O heptacampeão de Fórmula 1, Michael Schumacher, vive em reclusão há 11 anos, desde o trágico acidente de esqui que o deixou gravemente ferido. Entretanto, segundo informações da imprensa alemã, o sigilo em torno do estado de saúde do ídolo das pistas pode estar chegando ao fim, após relatos de que ele teria sido visto em público pela primeira vez desde o acidente, em dezembro de 2013.
O acidente
Schumacher estava em férias com a família nos Alpes franceses quando o acidente aconteceu. O ídolo da Ferrari — que esquiava frequentemente e era bastante habilidoso no esporte — estava nas pistas com o filho, Mick, que na época tinha apenas 14 anos. A dupla participava de uma excursão rotineira nas encostas de Méribel, quando Schumacher decidiu se aventurar fora da pista, entrando em uma pequena faixa de neve não tratada entre a Piste Chamois e a Piste Biche.
O local era salpicado de pedras, ocultas pela neve. Apesar de sua habilidade como esquiador, Michael foi pego de surpresa ao atingir uma dessas pedras. A força do impacto o catapultou no ar, impedindo-o de evitar uma colisão de cabeça com outra rocha próxima. A força da batida foi tão intensa que quebrou a casca do capacete, que absorveu a maior parte do impacto. Como resultado, Schumacher sofreu uma fratura no crânio, levando a uma lesão cerebral traumática.
Segundo testemunhas, Schumacher estava consciente e agitado após a colisão, mas não conseguia responder às perguntas e se movia de forma irregular. O campeão foi resgatado por patrulheiros de esqui e um helicóptero, sendo levado rapidamente para o Hospital Moutiers, onde chegou às 11h53.
Após o primeiro atendimento, o ídolo da Fórmula 1 foi transferido para o Centre Hospitalier Universitaire de Grenoble, uma unidade médica especializada em neurocirurgia. Lá, ele passou por duas intervenções médicas para reduzir a pressão no cérebro.
O então anestesista-chefe do hospital, Jean-François Payen, revelou na época que Michael estava “lutando pela vida” e em estado crítico, ressaltando que seus ferimentos eram “muito graves”. O hospital foi colocado sob um rígido cordão de segurança, e apenas visitantes de confiança podiam visitar Schumacher — entre eles, a esposa Corinna, a filha Gina-Marie, Mick e o amigo e ex-diretor da Ferrari, Jean Todt.
A equipe médica de Schumacher foi liderada pelo professor Gérard Saillant, especialista em lesões cerebrais e espinhais, além de amigo próximo do piloto. O especialista realizou uma segunda cirurgia para tratar um hematoma no lado esquerdo do cérebro de Schumacher, que sobreviveu às duas intervenções, mas permaneceu em estado crítico por vários meses.
Quatro meses após o acidente, Schumacher começou a ser retirado gradualmente do coma induzido, processo que foi concluído em junho de 2014. O ex-piloto foi então levado ao Hospital Universitário de Lausanne para reabilitação contínua, antes de deixar as instalações em setembro do mesmo ano e seguir para a casa da família em Gland, na Suíça, às margens do Lago Genebra.
Uma investigação da época revelou a causa da gravidade dos ferimentos. Segundo as autoridades locais, Schumacher estava em uma velocidade normal no momento da colisão e não excedeu suas habilidades. No entanto, sequelas de fraturas na cabeça e no pescoço, resultantes de um acidente de moto em fevereiro de 2009, teriam agravado os ferimentos de 2013.
Anos depois, em 2018, surgiram rumores de que Schumacher havia sido “movido” para uma mansão particular na ilha espanhola de Maiorca por sua esposa, Corinna. Elisabetta Gregoraci, ex-esposa do antigo chefe de Schumacher na Benetton, Flavio Briatore, reforçou o burburinho na mídia ao detalhar a suposta realocação do piloto.
“Michael não fala, ele se comunica com os olhos”, disse Gregoraci, na versão italiana do reality “Big Brother”. “Eles se mudaram para a Espanha e a esposa dele montou um hospital naquela casa. Apenas três pessoas podem visitá-lo e eu sei quem são”, declarou. Com a repercussão, a família de Schumacher se manifestou, negando que ele tivesse sido movido da casa na Suíça.
Invasão de privacidade e extorsão
Desde o acidente, Corinna e os filhos mantiveram sigilo absoluto em relação ao estado atual de Michael. Essa regra foi respeitada por entes queridos, amigos e pela comitiva mais ampla de Schumacher, que acreditam que o piloto e sua família “merecem privacidade para manter sua dignidade”.
O segredo foi tão rigoroso que Corinna chegou a negar visitas até mesmo ao irmão do piloto, Ralf, além de ex-colegas do esporte, como Rubens Barrichello — que foi companheiro de equipe do heptacampeão de 2000 a 2005 na Scuderia Ferrari —, entre outros.
A manutenção do segredo e as rígidas regras em torno das visitas, combinadas com a curiosidade dos fãs sobre Schumacher, deram origem a uma série de rumores sobre sua condição. A família acabou sendo vítima de diversos ataques, incluindo um jornalista que se fantasiou de padre para tentar visitar o hospital onde Schumacher estava internado, dias após o acidente.
Seis meses depois, a família de Schumacher enfrentou uma segunda tentativa de expor detalhes sobre a situação do ex-piloto, quando um executivo da empresa de resgate aéreo que transferiu Schumacher da França para a Suíça supostamente tentou roubar seus registros médicos e vendê-los a vários meios de comunicação europeus por 50 mil euros.
A empresa negou veementemente o envolvimento no caso, mas o homem foi preso em Zurique. Na manhã seguinte, horas antes de seu julgamento, ele foi encontrado sem vida, após se esforcar dentro da cela. Sua identidade nunca foi divulgada, mas o Ministério Público de Zurique confirmou que ele “agiu sozinho”.
As tentativas de expor o piloto não pararam por aí: em 2015, um “amigo” não identificado, com acesso à casa de Schumacher, conseguiu tirar uma foto do piloto e contrabandeá-la. A imagem estaria supostamente sendo oferecida a grupos de mídia europeus por um milhão de euros. No entanto, as autoridades alemãs intervieram, declarando que a fotografia e a tentativa de vendê-la eram uma “violação da privacidade”. A imagem nunca foi divulgada.
Outros incidentes, como uma tentativa de extorsão e uma “primeira entrevista após o acidente”, criada por IA pelo jornal Die Aktuelle, também levaram a família de Schumacher a processar os criminosos e outros veículos de imprensa.
O que diz a família
Até hoje, pouco se sabe sobre o estado atual da saúde de Schumacher. Entretanto, ao longo dos anos, alguns membros do círculo íntimo dele, como a esposa Corinna e o filho Mick, falaram sobre a lenda das pistas.
Corinna, responsável por proteger a privacidade de Michael, tem se manifestado pouco sobre o assunto desde 2013. Suas falas mais significativas sobre o estado do marido vieram no documentário Schumacher, lançado pela Netflix em 2021. Além de reafirmar seu amor duradouro pelo piloto, ela explicou que sente falta da antiga vida que tinham juntos, mas afirmou que o homem com quem se casou ainda está presente. “Sinto falta de Michael todos os dias. Mas não sou só eu que sinto falta dele. São os filhos, a família, o pai dele, todos ao seu redor”, declarou Corinna.
“Todo mundo sente falta de Michael, mas Michael está aqui. Diferente, mas aqui. Ele ainda me mostra o quão forte ele é todos os dias”, destacou. A esposa do piloto acrescentou: “Nunca culpei Deus pelo que aconteceu. Foi realmente um azar, todo o azar que alguém pode ter na vida”.
O ex-diretor da Ferrari continua a ter acesso ao piloto. De acordo com o Daily Mail, acredita-se que ele visite Schumacher regularmente para assistirem juntos às corridas de Fórmula 1. Ao longo da última década, Todt se tornou um “porta-voz” de confiança da família, revelando poucos detalhes sobre a saúde do amigo. “Vejo Michael com muita frequência – uma ou duas vezes por mês. [Quando questionado sobre como ele está] minha resposta é a mesma o tempo todo – ele luta”, disse ele em 2020.
Em 2019, o ex-presidente da FIA também insinuou que a capacidade de comunicação de Schumacher é extremamente limitada. “É claro que a nossa amizade não pode ser a mesma de antes, só porque não existe mais a mesma comunicação de antes”, disse ele. Este ano, ele lamentou a mudança causada pelo acidente: “Infelizmente, o destino o atingiu há 10 anos. Ele não é mais o Michael que conhecíamos na Fórmula 1”.
Mick Schumacher, filho de Michael, seguiu os passos do pai e entrou no mundo do automobilismo. Além de conquistar títulos nas categorias júnior de Fórmula 3 e Fórmula 2, ele também passou pela Fórmula 1, onde foi piloto da Haas por dois anos.
Atualmente, Mick é piloto reserva de Fórmula 1 da Mercedes — equipe que seu pai ajudou a lançar em 2010. Além disso, compete pela Alpine no Campeonato Mundial de Endurance da FIA e frequentemente homenageia o legado do pai.
Em 2017, o jovem pilotou o carro de F1 da Benetton de 1994 em uma exibição em Spa-Francorchamps. Ele também conduziu a Ferrari F2004, na qual Schumacher conquistou diversos recordes de carreira, na pista de Mugello em 2020. Em julho deste ano, Mick apareceu vestindo o macacão original da Mercedes e o capacete de corrida de seu pai durante o Festival de Velocidade de Goodwood.
Mesmo mantendo a privacidade de seu pai, Mick sempre fez depoimentos emocionantes sobre o relacionamento deles. No documentário da Netflix, o jovem piloto expressou seu desejo de poder conversar com o pai sobre sua carreira na categoria. Visivelmente emocionado, ele acrescentou que “desistiria de tudo” pela oportunidade de simplesmente discutir Fórmula 1 com o pai, que ele descreve como seu maior ídolo. “Desde o acidente, claro, essas experiências, esses momentos que acredito que muitas pessoas têm com os pais, não estão mais presentes ou estão em menor grau. E na minha opinião, isso é um pouco injusto”, disse Mick.
“Acho que eu e meu pai nos entenderíamos de uma maneira diferente agora. Simplesmente porque falamos uma linguagem semelhante – a linguagem do automobilismo – e teríamos muito mais o que conversar. E é aí que minha cabeça está a maior parte do tempo. Pensando que seria tão legal… eu desistiria de tudo só por isso”, finalizou Mick, à beira das lágrimas.
Primeira aparição pública
De acordo com o jornal alemão Bild, o ex-piloto teria participado do casamento da filha, Gina-Maria, na Espanha, no último sábado (28). A cerimônia entre Gina e seu parceiro de longa data, Ian Bethke, aconteceu em Maiorca.
Segundo o veículo, a família tomou medidas preventivas para evitar que imagens de Schumacher vazassem ao público, como o recolhimento dos celulares de todos os convidados. Entretanto, a suposta participação do piloto na cerimônia sugere que sua família pode estar flexibilizando a rigidez em relação ao estado de Michael, oferecendo aos fãs a esperança de ver o ídolo das pistas novamente.
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