Preta Gil fala sobre tratamento de câncer e detalha por que decidiu se separar: “Instinto de sobrevivência”

A artista falou sobre os desafios do tratamento e deixou um alerta para o público

Preta Gil

Abriu o coração! Nesta segunda-feira (5), em entrevista para a revista Marie Claire, Preta Gil falou sobre o diagnóstico do câncer e o tratamento – que envolve quimioterapia, radioterapia e, posteriormente, uma cirurgia. A cantora ainda contou detalhes da septicemia pela qual foi acometida e precisou ser reanimada. Preta também desabafou sobre a separação do personal trainer Rodrigo Godoy, após oito anos juntos.

A artista foi diagnosticada com um câncer colorretal em janeiro deste ano. Em março, após um quadro de sepse pela infecção da quimio, ela teve quatro horas de perda de consciência, foi reanimada e ficou 20 dias na Unidade de Terapia Intensiva. “O câncer tem essa característica física, de você precisar parar para se tratar. Hoje estou bem, e ainda assim agora eu estou conversando e sentindo várias sequelas da radioterapia, que não são poucas, mas elas não me paralisam. Intelectualmente estou funcionando muito bem”, disse.

Com o susto durante o tratamento, Preta reviu os planos iniciais, saiu do Rio de Janeiro e se mudou para São Paulo, onde deve ficar até a cirurgia. “Fui convencida pela minha família a mudar meu tratamento para São Paulo para buscar um direcionamento mais específico. Cheguei aqui e me apresentaram outra realidade. A escolha do cirurgião foi decisiva também. Então vou seguir a radioterapia até a cirurgia, e depois entender o desdobramento, porque tudo pode acontecer, inclusive ter que voltar à quimioterapia”, explicou.

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A filha de Gilberto Gil também refletiu sobre morte. Segundo ela, o tema ainda é considerado um tabu por parte do público, mas que tem aprendido muito com o pai. Apesar de saber que o fim “pode estar próximo”, ela afirmou que se sente preparada. “A morte é um assunto muito tabu, principalmente no Ocidente. Ninguém fala da morte. Mas eu tenho um pai que fala de uma forma natural sobre isso. Temos conversado bastante”, disse.

“Depois da septicemia, tivemos uma conversa tão verdadeira, tão bonita, que eu realmente comecei a ver a morte de outro jeito. É uma realidade que a finitude pode chegar para mim mais rápido. Sempre tive muito medo de morrer, hoje não tenho mais. No fundo, porque sei que a morte não vai chegar agora. Mas estou preparada. De uns anos para cá, aprendi a usufruir da sabedoria do meu pai. Muitas coisas podem parecer assustadoras em um primeiro momento, mas são reveladoras e transformadoras depois”, acrescentou.

Preta Gil mostra bastidores da luta contra o câncer. (Foto: Reprodução/Instagram)

Com as mudanças, Preta apontou uma “urgência de viver” e de celebrar as pequenas vitórias. A cantora, que comemora 50 anos em 2024, já planeja uma “festa da vida”: “Fiz um disco em 2021 que iria lançar e já não quero. Quero fazer outro, porque agora as minhas vontades estão muito ligadas à minha urgência em viver”.

Ela ainda deixou um alerta para o público, sobre o que pode influenciar no diagnóstico. Ela contou que quando a família se mudou para o Rio de Janeiro, nos anos 1980, ela foi “seduzida” pelo mercado de fast-food. “A alimentação, o sedentarismo e questões de estilo de vida podem influenciar no surgimento de um câncer. Tenho essa consciência, mas estou trabalhando na terapia para não me punir por isso”, explicou.

“Não fumo e não bebo, mas ultraprocessados, açúcares e refrigerantes faziam parte da minha dieta. Agora tudo mudou. No momento em que saiu o meu diagnóstico, a Bela [Gil] estava sentada na cama comigo e fez uma lista do que eu não posso mais comer. Estou seguindo à risca”, garantiu.

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Fim do casamento

Em meio ao tratamento, Preta Gil encarou uma separação de Rodrigo Godoy, após oito anos de relacionamento. No Brasil, de acordo com o Conselho Nacional de Mastologia, 70% das mulheres em tratamento oncológico são deixadas pelo marido. Apesar da decisão ter partido dela, a artista se considera parte do número.

“Infelizmente eu faço parte dessa estatística, sim, porque de fato o relacionamento acabou. Por mais que não estivesse bom até então, e por mais que eu tenha decidido separar. A decisão foi minha, mas já estava acabando. O casamento não superou um tratamento oncológico. Não é tão pragmático. A gente fica tentando justificar. Existem nuances em uma separação tão sofrida como foi a minha. Mas eu faço parte, sim. A gente não conseguiu passar por isso”, desabafou.

Preta e Rodrigo terminaram o relacionamento. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Preta e Rodrigo terminaram o relacionamento. (Foto: Reprodução/ Instagram)

Mesmo com o casamento em crise, a decisão de terminar foi questionada pelos amigos da cantora. “Meu instinto de sobrevivência me fez querer me separar, mesmo eu estando com câncer, porque não estava me fazendo bem. E é machista achar que preciso ficar casada para ser cuidada. Por que o marido é mais importante que a mãe, o pai, a irmã, o amigo? Isso é um traço do patriarcado, que coloca essa importância tão grande no homem. Depois de um tempo, percebi que essa decisão é prova da profundidade do meu mergulho. Se, neste momento, não for para descer fundo, repensar, então para quê? Estou tendo uma segunda chance de viver e isso tem um propósito”, observou.

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Alerta

Surpreendida pelo diagnóstico no começo do ano, Preta usa o Instagram – que acumula mais de 10 milhões de seguidores – para alertar sobre os sintomas e a doença. “Não é normal ficar dez dias com intestino preso, fazer fezes com sangue, com muco, achatada. Procurem um médico. Eu achava isso normal. Não é! Vou usar minha visibilidade e repetir que é preciso beber água, se alimentar bem, comer fibras. A nossa geração foi envenenada pela indústria. Precisamos ficar atentos, não vou cansar de repetir. Quando eu ficar curada, vou dar muita atenção a isso, criar uma fundação, otimizar processos, justificar o propósito de tudo isso”, afirmou.

Preta falou sobre os desafios da doença. (Foto: Globo/Marcos Rosa)
Preta falou sobre os desafios da doença. (Foto: Globo/Marcos Rosa)

Nas redes sociais, ela também busca “defender suas bandeiras”, principalmente para incentivar seu público. “Meu pai diz que eu não carrego, mas que eu sou a própria bandeira! Ao defender a minha existência como uma mulher gorda, bissexual, preta, isso há tantos anos, quando nada desses assuntos era pauta ainda, coloquei meu corpo a esse serviço. Agora vou falar sobre me curar de um câncer, sobre tratamento, autocuidado”, explicou.

“Sempre fui vidraça. Racismo, homofobia, todos esses preconceitos cansam, ferem. Mas, quando a vida está no limiar, é outro rolê. E não se trata de mim, que tenho uma vida de privilégios. Tem gente na fila do SUS esperando um exame de colonoscopia há um ano. E então morre”, continuou.

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Apesar das dificuldades e das diversas transformações que encarou nos últimos meses, Preta Gil fez questão de agradecer sua rede de apoio – familiar e pública. “Eu não romantizo em nenhum momento essa doença, porque ela não tem nada de bom. Mas, dentro das adversidades, das vulnerabilidades, a gente se fortalece e se transforma. Estou recebendo uma enxurrada de amor. Sempre dei muito amor. Agora estou me permitindo receber. E estou vendo tudo isso em vida”, concluiu.

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