Desde a morte de Gal Costa, em novembro de 2022, Wilma Petrillo, que atuou como empresária da cantora, e Gabriel Costa travam uma batalha judicial pela herança da artista. Nesta terça-feira (9), em entrevista ao Estadão, Wilma, que também reconheceu a união estável com Gal, falou da relação com o rapaz e a decisão de adotá-lo como filho. Ela rebateu, ainda, as acusações de agressão e golpes, comentou sobre a doença de sua companheira e os problemas financeiros pelos quais estariam passando.
As declarações de Petrillo ocorrem no mesmo dia em que a Justiça negou a exumação do corpo da artista. De acordo com o Poder Judiciário, a solicitação feita por Gabriel extrapola a esfera administrativa e registral da Vara de Registros Públicos, que ficou responsável por analisar o requerimento. A juíza do caso pediu que o processo seja encaminhado à polícia, por meio da Central de Inquéritos Policiais e Processos (CIPP), para apuração dos fatos narrados pelo jovem e investigação de possível crime cometido por Wilma.
Adoção de Gabriel
Na conversa, Wilma alegou que a escolha de adotar Gabriel partiu dela e de Gal. “Eu mais. Enchia o saco dela. Gal dizia que não tinha mais idade para isso. Eu dizia que isso de idade era bobagem. Na época, apareceu uma reportagem na TV Globo, com a Gloria Maria, sobre um recém-nascido que a mãe embrulhou em um saco plástico e lançou em uma lagoa [da Pampulha, em Minas Gerais]. Gal ligou para Gloria Maria e disse que queria adotar esse bebê. Mãe Cleusa [do terreiro do Gantois, na Bahia] disse para Gal não adotar essa criança, que já estava muito estigmatizada por tudo o que tinha ocorrido”, recordou ela.
“Depois disso, começamos a procurar uma criança em abrigos do Rio e São Paulo. Até que, no Rio, encontramos o Gabriel. Ficamos apaixonadas por ele. Procuramos a Luci [a advogada, que atualmente trabalha na defesa de Gabriel e que foi procuradora de Gal nos anos 1990], mas ela era funcionária pública, não podia advogar. Substabeleceu o caso para um colega meio doidinho. Cobramos a Luci, ela enfiou o dinheiro no bolso e perdemos a adoção na Justiça em segunda instância. Eu fiquei desesperada. Em São Paulo, encontrei o Paulo Henrique Lucon [advogado e ex-juiz que agora assina uma declaração a favor do reconhecimento da união estável entre Gal e Wilma, anexada ao processo] e conseguimos a adoção”, explicou Petrillo.
Questionada pela reportagem se considera ser mãe de Gabriel, a empresária respondeu: “Não tenho a menor dúvida. Tudo o que eu fiz, qualquer mãe faria. Ou fiz até melhor que qualquer mãe. Cuidei de Gabriel com tanto amor, com tanto carinho. Médico, dentista, psicanalista, psicólogo, escola… Cansei de ir a reuniões. Quando eu viajava, trazia para ele, juro por Deus, três, quatro malas de roupas e brinquedos. Tudo o que uma mãe faz e mais um pouco eu fiz. Então, você imagina minha tristeza de agora ver tudo isso”.
Briga na Justiça
Contudo, desde que Gal veio a óbito, a relação com Gabriel mudou. Wilma apontou quando ou o que teria feito a ligação entre eles se deteriorar. “Eu tinha uma relação fantástica com o Gabriel. De amor, com muito amor. Uma criança que eu cuidei, amei, desde os dois anos de idade. A partida de Gal só nos uniu. Ele me dizia: ‘Agora eu só tenho a você. Minha mãe já foi, a primeira já foi (a biológica)’. Eu respondia: ‘Eu também, Fufo’. Eu dizia: ‘Vamos vender essa casa que só nos traz péssimas recordações, vamos para Nova York, para a Europa’. Gabriel tinha muitos amigos, mas, hoje em dia, não tem mais. Essa mulher o afastou de todos”, afirmou Wilma, referindo-se à atual namorada dele, Daniela Tonani.
Ela ressaltou que foi em meio ao envolvimento de Gabriel com a fonoaudióloga que os problemas começaram. “Meus advogados me ligaram e disseram que tinha ocorrido uma loucura. Uma coisa bárbara com o Gabriel. Quando eles falaram ‘com o Gabriel’, eu entrei em pânico. Pensei em um acidente, algo de grave. Aí eles me explicaram que Gabriel havia entrado com uma ação, pedindo a anulação do reconhecimento da minha união estável com Gal. Eu fiquei atônita”, admitiu.
Petrillo também disse acreditar que Daniela é quem exerce tal influência sobre o rapaz. “Só pode vir dela. Eu conheço o filho que eu tenho. Ele jamais faria isso. Quando teve aquela avalanche de falarem mal de mim, e eu nem sei por que, começaram a falar que eu manipulava Gal. Gal não era uma pessoa manipulável. As pessoas não conhecem Gal. Acham que ela era uma figura doce, que obedecia a todos. Não obedecia a ninguém. Gal tinha personalidade. Foi uma pessoa muito forte. Que veio da Bahia, sem dinheiro. Você acha que era manipulável?”, refletiu.
Em seguida, Wilma desabafou sobre ter que enfrentar Gabriel na Justiça. “É muito difícil. Você criar uma pessoa com todo amor, com afeto, preocupação. Eu jamais imaginei que passaria por uma situação dessas. Em um primeiro momento, não acreditei. Fiquei pensando: ‘O que teria ocorrido para ele ter uma reação dessas?’. Aí, voltei o filme e comecei a me lembrar do interesse de Daniela na herança. Ela me perguntou sobre quanto era a herança de Gal”, destacou. Ela também disse se espera uma reconciliação com Gabriel.
“Quando eu vi tudo isso, pensei: ‘Esse não é meu filho, ele não foi educado assim’. Eu só estou fazendo tudo isso por causa do meu filho. Quando foi comigo, eu não estava nem aí. Mas, quando meu filho é colocado em uma cilada, de uma maldade, de uma crueldade sem tamanho. Você pegar um menino de 17, 18 anos, uma mulher de 50 anos, e colocá-lo em um quarto de hotel vagabundo, na Avenida Paulista. Sabe Deus se ele está indo à escola [Gabriel está no segundo ano do Ensino Médio]. Gabriel me bloqueou no WhatsApp”, lamentou.
Acusações e relação com Gal
Wilma também rebateu as acusações que recebeu após uma matéria da revista Piauí, em que há denúncias contra ela de estelionato, golpes e agressões verbais e físicas contra funcionários, e contra a própria Gal. “Primeiramente, eu não respondi porque eu acho que essas coisas quanto mais você mexe, pior ficar. Como era só comigo – e eu já não tinha mais a posição de empresária de Gal – eu pensei: ‘Eu vou responder à menina que trabalhava no escritório e dizer que eu ficava nua, que não deixava ela ir ao banheiro em uma sala que tinha dois banheiros? Uma menina que trabalhou lá porque eu tinha pena dela’. Ela resolveu processar a gente na Justiça do Trabalho. Aí disse que eu tirava a roupa quando estava calor. Para que eu faria isso? Tinha ar condicionado, meu amor. Ela, realmente, não tinha autorização para fechar os shows de Gal, porque não tinha competência nenhuma”, argumentou.
Ela também se manifestou sobre as acusações de agredir a cantora, e descreveu como era a relação entre elas. “Você acha que eu batia em Gal? Fala sério. Nunca bati em Gabriel. Como Gal havia tido relações que não foram legais, que ela não sentia saudade, nós combinamos que a nossa seria fechada [para o público]. E assim foi. Eu tinha uma cumplicidade com Gal enorme. Tanto que ela ia dizer alguma coisa, eu já sabia. Eu tinha com Gal um amor… Olha que fui casada, amei muito na minha vida. Gal era muito especial para mim. Quando eu tive o câncer, ela ficou desesperada, com medo que eu fosse morrer. Disfarcei que era forte. Se bem que eu não estava me importando muito se eu fosse morrer. Aliás, eu sabia que não iria morrer”, ponderou.
Wilma também negou que o relacionamento com a artista era envolto por brigas constantes. “Não, desculpa, mas eu vou te decepcionar. Às vezes, divergíamos em algumas coisas. Por exemplo: ‘Eu gosto desse copo. Ah, mas eu não gosto’. Agora, tumulto? Briga de bater? Jamais. Te juro. Nunca ocorreu. Eu não sou desse tipo. Gal muito menos. Eu iria bater em Gal por quê? Porque eu a achava feia, gorda, burra, que não cantava? É de uma estupidez dizer uma coisa dessas. As empregadas podem testemunhar. Aliás, minha empregada se ofereceu para testemunhar”, justificou.
Reconhecimento de união estável
A empresária afirmou que, apesar de todas as alegações de Gabriel, o filho sabia que ela e Gal eram um casal. “Sabia. Ele me perguntou. Nosso casamento era público. Gal era uma pessoa pública. Eu não, pois sempre me recolhi. As mães do Dante começaram a comentar com Gabriel. Ele, então, chegou para mim e perguntou. Eu respondi que sim, que éramos casadas. E ele tem um amigo no Ipiranga cuja mãe também tem uma relação homoafetiva. Ele sabia mesmo. Eu e Gal usávamos aliança. Ele percebeu que nossos anéis eram iguais”, pontuou.
Como se sabe, Gabriel pede a anulação do depoimento em que reconheceu união entre Petrillo e Costa, alegando que estava sob o efeito de remédios. A defesa do rapaz afirma que esses remédios eram ministrados pela própria Wilma. “O psiquiatra prescreveu uma medicação porque ele tem TDAH (diagnosticado na infância) e estava com ansiedade e depressão. Mas eu nunca administrei para ele. Eu apenas escrevi nas caixas os horários que ele deveria tomar cada um. Ele disse que sabia tomar, que não era criança. Eu, então, disse: ‘Eu tenho total confiança em você’. Ele nunca tomou os remédios”, defendeu-se. “É uma mentira. Estão apelando. Eu jamais faria isso. Ele não mudou de psiquiatra”, acrescentou ela.
Herança e problemas financeiros
Ao Estadão, Wilma Petrillo confirmou que as finanças de Gal “sempre foram problemáticas”. “Ela vendeu a cobertura do Rio e enterrou tudo na construção de Trancoso. Vendeu Trancoso, comprou essa casa em Salvador. E não tinha todo o dinheiro para isso. Pegou empréstimo no banco. Os juros eram impagáveis”, listou. Ela apontou, ainda, que a artista não sabia lidar com suas dívidas: “Quando a coisa apertava, ela pedia para os advogados resolverem. Gal era completamente desorganizada financeiramente”.
“Quando ela veio gravar um programa em São Paulo, viu o colégio Dante Alighieri e disse que queria que Gabriel estudasse lá. Pedimos que uma amiga corretora indicasse um apartamento. Ela nos mostrou um caríssimo na [rua] José Maria Lisboa. Gal entrou por uma porta, saiu por outra e disse: ‘Eu quero’. Nem perguntou o preço. Tempos depois, foi levar o Gabriel no Dante e viu um prédio em frente ao colégio, perguntou se tinha um apartamento para vender. Gostou e comprou. Tinha mais de 500 metros quadrados. Teve que vender para pagar o banco, que era uma dívida monstruosa”, completou Petrillo.
Ela destacou que “fez o que pôde” para conter os gastos, e falou brevemente da herança deixada pela voz do MPB. “Não posso te dizer precisamente. O levantamento ainda não foi feito. Tem a casa, que não é nenhuma mansão [onde Gal morava quando morreu], que está paga, mas tem muitos impostos para serem pagos. Tem um carro, uma BMW 2013, que a Gal usava, que não pode rodar porque está com o IPVA atrasado. Essa Daniela Tonani. Eu percebi o interesse dela, porque um dia ela queria tirar o carro da garagem, trouxe até gasolina. Esse carro é do Gabriel”, cravou. A empresária também salientou que, caso tenha direito ao patrimônio, não tem “a menor intenção de barrar nada”.
Ao final, Wilma reagiu ao título de vilã da história e esclareceu o motivo de engatar a briga judicial. “Pois é, eu mato, tem que exumar porque há uma dúvida. Estou lindando mal com isso. Perder Gabriel. Me dá uma coisa. Um filho que foi criado com tanto carinho, agora está em um hotel fuleiro, com uma mulher maluca. O marido na porta da minha casa fazendo escândalo, os vizinhos aparecendo. Como eu posso ficar? Eu não tenho dinheiro para nada. Eu tenho que lavar o carro, comprar comida. Eu estou em uma situação que eu nunca me vi na vida. Eu estou mal. Não estou me fazendo de vítima. É uma situação horrorosa”, apontou.
“Eu só estou fazendo tudo isso por causa de meu filho. Se eu quisesse aparecer nos jornais, já tinha aparecido há muito tempo. Eu não consigo dormir. Eu estou tomando cada bola [remédio]. Para mim, o Gabriel ainda é uma criança. Vi uma foto dele agora, que está triste, com os olhos baixos. Quero que ele volte para casa. Ele tem as chaves, pode voltar quando quiser”, concluiu Wilma.
Gabriel se manifestou sobre as declarações da mãe através de uma nota emitida por seus advogados. “A defesa de Gabriel lamenta a divulgação de mentiras e a exposição de questões pessoais da sua vida particular, alheias aos fatos do processo, para sustentar uma narrativa que não condiz com a realidade nem tem relevância para o caso. Isso demonstra também o claro desprezo da outra parte pelo bem-estar de Gabriel”, elabora o texto.
Assista à entrevista: