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“365 Dias”: Após ter sido sequestrada e estuprada, cantora Duffy escreve forte relato e critica Netflix pelo filme: “Tragédia sendo erotizada e desvalorizada”

Duffy criticou o filme "365 Dias" da Netflix. (Fotos: Getty; Divulgação/Netflix)

O filme “365 Dias” segue causando polêmica… Nesta quinta-feira (2), a cantora Duffy escreveu uma carta aberta ao CEO da Netflix, Reed Hastings, criticando a produção. A artista lamentou que o longa polonês romantize temas como estupro, tráfico sexual e sequestro.

Como se sabe, o filme conta a história de Laura (Anna Maria Sieklucka), uma jovem polonesa que é sequestrada por um mafioso italiano, Massimo (Michele Morrone). O homem, então, dá 365 dias para tentar fazer com que ela se apaixone por ele – enquanto é mantida em cativeiro. O filme é considerado como um “drama erótico” pela plataforma.

Por conta de seu teor, “365 Dias” chegou a ser comparado com “50 Tons de Cinza”. (Foto: Reprodução/Netflix; Divulgação/Universal Pictures)

Mas Duffy, que há alguns meses revelou ter passado por uma experiência parecida na vida real (só que realmente traumática), não gostou de ver a forma como o filme tem sido tratado. A artista também já foi mantida refém, o que a levou a ficar distante dos holofotes. “Recentemente, escrevi publicamente sobre uma experiência difícil que passei. Eu fui drogada, sequestrada, traficada e estuprada”, iniciou em sua carta, com um tom bastante pessoal.

“Escrevo estas palavras (palavras que não acredito que estou escrevendo em 2020, com tanta esperança e progresso conquistado nos últimos anos), pois cerca de 25 milhões de pessoas estão atualmente sendo traficadas ao redor do mundo, sem mencionar a ​​quantidades incontável de pessoas”, continuou. “Quando fui traficada e estuprada, eu tive sorte de sair de lá com vida, mas muitas não tem tido essa sorte. E agora eu tenho que testemunhar essas tragédias, e a minha tragédia, sendo erotizadas e desvalorizadas”, indignou-se a artista.

Em fevereiro, a cantora Duffy revelou ter sido sequestrada, estuprada e drogada – experiência parecida com a tématica de “365 Dias”, só quem sem o glamour. (Foto: Getty)

Para ela, “365 Dias glamoriza a realidade brutal do tráfico sexual, do sequestro e do estupro. Essa não deve ser a ideia de entretenimento de ninguém, nem deve ser descrita como tal, ou ser comercializada dessa maneira”. Duffy ainda avaliou isso como um ideal perigoso. “Me entristece que a Netflix ofereça uma plataforma para esse ‘cinema’, que erotiza o sequestro e distorce a violência sexual e o tráfico como um filme ‘sexy’. Não consigo imaginar como a Netflix poderia ignorar o quão descuidado, insensível e perigoso isso é”, completou.

Sobre isso, Duffy argumentou falando das reações do público ao protagonista do longa. “Até levou algumas jovens, recentemente, a pedirem jovialmente ao Michele Morrone, o ator principal do filme, para sequestrá-las”, mencionou. “Todos sabemos que a Netflix não hospedaria materiais glamorizando pedofilia, racismo, homofobia, genocídio ou qualquer outro crime contra a humanidade. O mundo corretamente se levantaria e gritaria. Tragicamente, as vítimas de tráfico e sequestro são invisíveis e, em ‘365 dias’, o sofrimento é transformado em um ‘drama erótico’”, escreveu.

Em “365 Dias”, o sequestro de Laura é tratado como algo “belo”, e ofendido mulheres que já passaram por isso na vida real. (Foto: Reprodução/Netflix)

Duffy rebateu os argumentos de que seria “apenas um filme”, porque “não é ‘apenas’ quando se tem uma grande influência para distorcer um assunto que não é amplamente discutido… transformando-o em algo erótico”. A cantora ainda se dirigiu diretamente ao público da atração. “Eu encorajo os milhões de espectadores que gostaram do filme a refletir na realidade do sequestro e do tráfico, da exploração sexual, e de uma experiência que é o extremo oposto da fantasia brilhosa representada em ‘365 Dias'”, recomendou.

Duffy também deixou um recado final: “Se todos vocês da Netflix não tirarem nada desta carta aberta, a não ser essas palavras finais, ficarei satisfeita. Vocês ainda não perceberam o quanto ‘365 Dias’ causou grandes danos àquelas que sofreram as dores e os horrores que este filme glamoriza, por entretenimento e por dinheiro. O que eu e outras que conhecemos essas injustiças precisamos é exatamente o oposto – uma narrativa da verdade, da esperança e da voz”.

“365 Dias”. (Foto: Reprodução/Netflix)

Relato forte e reflexão ainda mais necessária… Enquanto isso, Michele Morrone confirmou nesta segunda-feira (1º) que “365 Dias” terá uma continuação. Apesar de todas as polêmicas, o longa ainda segue no TOP 10 de produções mais assistidas de hoje na Netflix, na sexta posição do ranking.

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