O filme “365 dias” é, com certeza, um dos mais polêmicos dos últimos tempos. Desde que entrou no catálogo da Netflix, em junho desse ano, o longa tem repercutido muito, principalmente pelas cenas de sexo. Em entrevista na última quinta-feira (25), o astro Michele Morrone, protagonista da produção, revelou um detalhe bem interessante sobre essas tão comentadas cenas. Ele ainda deu sua opinião sobre as críticas negativas que o filme recebeu.
O ator confessou que, no começo, teve dificuldade para se adaptar às cenas calientes. “Eu tentei ser fiel ao roteiro. As cenas de sexo são tão profundas e coloridas. No começo, havia uma coreografia das cenas, mas eu sentia que não estava funcionando pra mim. Eu nunca sentia que o que estava fazendo era bom“, afirmou ao jornal Metro.
Morrone contou que ele mesmo dirigiu as cenas de sexo e que algumas delas foram improvisadas. “Eu cheguei no diretor e pedi para eu mesmo fazer. Deixar que eu tentasse ser mais livre do que eu estava sendo. Eu tentei colocar o máximo de emoção que eu tinha na cena. Eu queria ser fiel ao roteiro, ou eu seria criticado por não ter sido bom“, comentou. Foi esse o segredo, responsável por dar mais veracidade às sequências, elogiadas por espectadores.
Porém, as críticas também vieram. Sobre esse assunto, Michele defendeu a trama. “Estamos muito focados nas cenas de sexo e estamos perdendo o ponto. ‘365 Dias’ é, primeiramente e principalmente, uma história de amor“, pontuou. O astro criou até uma teoria sobre o motivo de seu personagem ser tão querido. “Massimo é o tipo de figura masculina que nós quase não temos no mundo de hoje. Eu acho que as mulheres sentem falta disso“, afirmou.
Ele usou como exemplo membros de sua própria família. “Quando eu penso no meu pai, meu avôs, eles eram homens de verdade, homens italianos reais. Sempre vestidos elegantemente“, relembrou. Porém, os comentários negativos não parecem incomodar Morrone. “Nós estamos falando de uma história de amor ficcional, nem todo mundo vai gostar do filme, isso seria impossível“, apontou.
Críticas ao longa
Como se sabe, “365 dias” conta a história de Laura (Anna Maria Sieklucka), uma jovem polonesa que é sequestrada por um mafioso italiano, Massimo (Morrone). O homem, então, dá 365 dias para tentar fazer com que ela se apaixone por ele – enquanto é mantida em cativeiro. O filme é considerado como um “drama erótico” pela Netflix. Porém, muitos críticos consideram a obra extremamente problemática, por glamourizar as violências psicológica e física. Algumas pessoas ainda levantaram um debate polêmico pela trama ilustrar – de forma romântica – um caso de Síndrome de Estocolmo, quando a vítima passa a ter simpatia, admiração ou até amor por seu agressor.
Entre os críticos ao longa polonês está a cantora Duffy que, no começo de julho, escreveu uma carta aberta ao CEO da Netflix, Reed Hastings, lamentando que o filme romantize temas como estupro, tráfico sexual e sequestro, situações pelas quais ela mesma já passou. “Recentemente, escrevi publicamente sobre uma experiência difícil que passei. Eu fui drogada, sequestrada, traficada e estuprada”, iniciou em sua carta, com um tom bastante pessoal.
Para ela, “365 Dias glamoriza a realidade brutal do tráfico sexual, do sequestro e do estupro. Essa não deve ser a ideia de entretenimento de ninguém, nem deve ser descrita como tal, ou ser comercializada dessa maneira”. Duffy ainda avaliou isso como um ideal perigoso. “Me entristece que a Netflix ofereça uma plataforma para esse ‘cinema’, que erotiza o sequestro e distorce a violência sexual e o tráfico como um filme ‘sexy’. Não consigo imaginar como a Netflix poderia ignorar o quão descuidado, insensível e perigoso isso é”, completou.
Sobre isso, Duffy argumentou falando das reações do público ao protagonista do longa. “Até levou algumas jovens, recentemente, a pedirem jovialmente ao Michele Morrone, o ator principal do filme, para sequestrá-las”, mencionou. “Todos sabemos que a Netflix não hospedaria materiais glamorizando pedofilia, racismo, homofobia, genocídio ou qualquer outro crime contra a humanidade. O mundo corretamente se levantaria e gritaria. Tragicamente, as vítimas de tráfico e sequestro são invisíveis e, em ‘365 dias’, o sofrimento é transformado em um ‘drama erótico’”, escreveu.
Ela rebateu os argumentos de que seria “apenas um filme”, porque “não é ‘apenas’ quando se tem uma grande influência para distorcer um assunto que não é amplamente discutido… transformando-o em algo erótico”. A cantora ainda se dirigiu diretamente ao público da atração. “Eu encorajo os milhões de espectadores que gostaram do filme a refletir na realidade do sequestro e do tráfico, da exploração sexual, e de uma experiência que é o extremo oposto da fantasia brilhosa representada em ‘365 Dias'”, recomendou.
Duffy também deixou um recado final: “Se todos vocês da Netflix não tirarem nada desta carta aberta, a não ser essas palavras finais, ficarei satisfeita. Vocês ainda não perceberam o quanto ‘365 Dias’ causou grandes danos àquelas que sofreram as dores e os horrores que este filme glamoriza, por entretenimento e por dinheiro. O que eu e outras que conhecemos essas injustiças precisamos é exatamente o oposto – uma narrativa da verdade, da esperança e da voz”.