O Enfermeiro da Noite: Conheça a chocante história real de Charles Cullen e o mistério do caso que permanece até hoje

O conto de terror da vida real da Netflix, estrelado por Jessica Chastain e Eddie Redmayne, se debruça sobre uma história inacreditável

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O mais recente longa de “true crime” da Netflix, “O Enfermeiro da Noite“, trouxe à tona a verdadeira história de Charles Cullen. Inspirada no livro do jornalista investigativo Charles Graeber, de 2014, a produção reúne detalhes chocantes sobre o assassino em série mais prolífico de Nova Jersey, que também figura na lista dos serial killers mais ativos da história dos EUA.

Ao longo dos anos, o criminoso trabalhou como enfermeiro de UTI em diversos hospitais na Pensilvânia e em Nova Jersey, antes da extensa relação de mortes misteriosas de pacientes ser rastreada até ele. Após a denúncia de Amy Loughren (interpretada por Jessica Chastain no filme), ele foi preso e confessou às autoridades que matou cerca de 29 pacientes durante o curso de sua carreira médica.

Nas mãos do diretor Tobias Lindholm, a narrativa é cuidadosamente elaborada e fornece detalhes reais e surpreendentes. Entretanto, algumas perguntas permanecem sem respostas até hoje, a principal delas em torno da motivação de Cullen.

Método de ataque

Charles Cullen foi preso em 2003, quando confessou seus crimes, após uma investigação minuciosa que contou com a ajuda da Amy verdadeira. No entanto, o criminoso passou 16 anos fazendo vítimas sem levantar qualquer suspeita, devido ao método quase imperceptível de matar. Segundo depoimento, Cullen aplicava soro fisiológico contaminado com medicações como insulina e digoxina em seus pacientes. As substâncias, quando administradas sem prescrição, e em doses específicas, se tornavam fatais.

O longa expõe um detalhe ainda mais chocante: o modo como os nove hospitais pelos quais o assassino passou lidou com a situação. Com medo de serem processadas pelos familiares das vítimas, as instituições – mesmo notando a frequência da morte dos pacientes de Charles – preferiram demiti-lo ao invés de investigar a fundo o que estava acontecendo. Os hospitais simplesmente retiraram Cullen sem explicações e nunca alertaram quem o contratava em seguida.

Ele confessou ter tirado a vida de 29 pessoas, mas as autoridades estimam que o criminoso possa ter feito mais de 400 vítimas.

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Antes de descobrir os crimes cruéis de Charles Cullen, Amy o considerava seu amigo. (Foto: Reprodução/ Netflix)

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O verdadeiro Charles Cullen

No filme, Lindholm se esforçou para manter a vida pessoal de Cullen envolta em mistério. Em entrevista à Entertainment Weekly, o cineasta afirmou que apresentou apenas os detalhes sobre Charles que Amy já conhecia, para evitar que o público se identificasse ou ficasse muito fascinado por ele.

Já no livro de Graeber, Cullen é descrito como “uma alma sensível” e é até mesmo comparado com Fred Rogers, mais conhecido como “Mr Rogers”, um pedagogo que ganhou fama nos EUA com um programa infantil no qual oferecia lições de vida. “[Ele era] um tipo triste de Mr.Rogers, um tanto deprimido”, disse Amy, sobre sua primeira impressão do assassino.

Charles veio de uma família católica irlandesa da classe trabalhadora e teve uma infância “miserável”. Quando era adolescente, sua mãe morreu ao perder o controle do carro após um ataque de epilepsia. Graeber observa em seu livro que ele tentou o suicídio quando era pré-adolescente, após sofrer bullying. Ele também teria tentado se matar pelo menos outras 20 vezes ao longo de sua vida.

Na fase adulta, Cullen ingressou na Marinha, mas foi dispensado em 1984, após ser transferido várias vezes e, por fim, acabar internado numa ala psiquiátrica. Quando se tornou enfermeiro, ele se casou com uma mulher chamada Adrianne Taub. O casal teve duas filhas, mas a relação acabou devido ao comportamento errático do criminoso. Após o divórcio, Adrianne entrou com ordens de restrição contra o ex, alegando que tinha medo de que ele “impulsivamente tirasse sua vida e a das filhas” caso fosse deixado sozinho com elas.

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O confronto

Em uma cena crucial da produção, Loughren concorda em usar uma escuta e se senta em um restaurante com Charlie, com o objetivo de fazê-lo confessar seus crimes. Isso realmente aconteceu na vida real, mas Amy apontou que o filme tomou algumas liberdades com a reação de Cullen aos seus questionamentos.

No filme, Eddie Redmayne interpreta Cullen como se ele pudesse se abrir sobre os crimes, antes de pensar melhor e fugir. Já na vida real, o confronto quase não ocorreu, pois a enfermeira havia acabado de instalar um marca-passo em seu coração e os detetives se recusaram a colocar uma escuta nela, preocupados que isso pudesse trazer risco à sua saúde.

A enfermeira eventualmente os convenceu a seguir em frente com o plano. “Eles falaram sobre encerrar isso, então eu tive que convencê-los. A verdade é que eu não sabia como isso afetaria meu coração, mas sabia que precisava ir lá e obter essa confissão”, disse ela à revista Glamour. Quando Loughren confrontou o amigo sobre os assassinatos, Cullen estava mais confiante e combativo do que o filme sugere. “Ele se sentou reto. A cor dos olhos dele mudou. Ele colocou um sorriso no rosto e disse: ‘Eu vou cair lutando'”, relembrou ela, em papo com a People. Como o filme retrata, ele não confessou de imediato, mas depois foi preso pelas autoridades locais.

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Jessica Chastain retrata Amy no longa. (Foto: Reprodução/ Netflix)

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O que motivou os crimes

Em uma entrevista na época, Cullen, incialmente, disse que matava por que tinha “piedade de alguns pacientes“, e então tentava acelerar suas mortes para dar fim ao sofrimento deles. A explicação, no entanto, caiu por terra, com a análise de que a maior parte de suas vítimas não estava em estado grave. Contestado, Charles nunca mais se abriu sobre o que o levava a matar. O mistério perdura até hoje.

Em conversa com a BBC, Amy admitiu que tentou acreditar na justificava de Cullen, mas se deu conta de que esse não era o caso. “Lutei com a culpa de sentir falta dele (Charles). Lutei com a culpa de não ver que esse amigo também tinha um lado sombrio e monstruoso. E eu não queria ver… Eu queria acreditar que ele matava por misericórdia para que eu ainda pudesse me importar com ele. Mas ele não era um assassino que matava por pena. Ele era um assassino a sangue frio. E eu realmente me culpei por não ter visto isso“, recordou ela.

Ao ser questionada sobre quando começou a suspeitar do médico, Amy explicou: “Eu queria dizer que comecei a suspeitar dele antes, mas não. Eu ainda carrego muita culpa sobre isso, por não ter conseguido perceber antes“. A enfermeira também tentou inferir sobre a motivação do criminoso. “Eu acredito que ele tinha muitas doenças mentais, ele chegou a tentar suicídio. E ele começou a ter tendências assassinas ainda na adolescência“, concluiu.

Após a prisão, Cullen se declarou culpado por 29 assassinatos e três tentativas de assassinato. Ele foi condenado a 11 prisões perpétuas consecutivas em Nova Jersey, tornando-o inelegível para liberdade condicional por cerca de 397 anos. Atualmente, Charles está cumprindo a sentença na Pensilvânia.

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