A brasileira que ficou paralisada em Aspen, nos Estados Unidos, por conta de uma bactéria atualizou seu estado de saúde e contou como anda a recuperação. O caso de Claudia de Albuquerque Celada, de 24 anos, ganhou repercussão em abril, quando a família abriu uma vaquinha para bancar sua volta ao Brasil.
Luísa, irmã de Claudia, revelou que os sintomas apareceram rapidamente na jovem, que começou a passar mal depois que saiu do trabalho, no fim de fevereiro.
Na época, Claudia foi diagnosticada com botulismo, mas os médicos não constataram qual alimento causou a contaminação da bactéria. No entanto, em uma entrevista divulgada nesta segunda-feira (9), ao VivaBem, do UOL, a própria Claudia revelou que a ingestão de uma sopa industrializada foi a grande causadora da doença.
“Foi apenas uma colher. Senti muito cansaço, tontura, visão turva. Dormi o dia inteiro. Comecei a sentir falta de ar pela madrugada. Liguei para brasileiras que conheci em Aspen [para pedir ajuda]“, relembrou. “Pensamos ser algo corriqueiro e comum, mas quando o quadro se agravou as meninas ligaram para a minha irmã”, completou ela.
Claudia ficou com o corpo totalmente paralisado e precisou ser internada na unidade de tratamento intensiva. “Sempre estive consciente, somente o corpo não respondia aos comandos. Não via a hora de aquilo passar. Acompanhava tudo o que se passava ao redor, mas não conseguia me comunicar”, explicou a jovem.
Por conta dos altos valores, a família abriu uma vaquinha para pagar o tratamento e trazê-la de volta ao Brasil. Parte da despesa foi coberta por um seguro de saúde de US$ 100 mil (R$558 mil). Além disso, Claudia recebeu a visita da secretária de saúde da cidade de Aspen, que informou que ela estava inscrita em um programa de ajuda do governo e que parte do valor da internação poderia ser absorvida por eles. O Swedish Medical Center também acabou bancando o transporte de Claudia por UTI aérea para o Brasil, e os R$ 230 mil arrecadados na vaquinha foram usados para abater parte da dívida. A família acredita que a conta do hospital norte-americano chega a US$ 2 milhões (cerca de R$ 10 milhões).
Recuperação e volta ao Brasil
Quando Claudia retornou ao Brasil, em maio, deu entrada no Hospital São Luiz São Caetano do Sul, em São Paulo, com um quadro considerado grave. Ela precisava de um respirador artificial, se alimentava por sonda e continuava sem movimentos. “Não conseguia segurar um celular. Já mexia os dedos e pulsos, mas sem força nenhuma”, descreveu.
A jovem precisou da ajuda de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos para começar a se recuperar. No dia 8 de julho, ela foi liberada para voltar para casa com ajuda de home care. Contudo, dez dias depois, ela precisou ser internada novamente por causa de um inchaço nas glândulas do pescoço. Apenas em agosto ela teve alta definitiva. “Desta vez já saí sem a traqueostomia e sem a sonda. Agora faço fisioterapia para fortalecer a musculatura e ficar mais independente. [Retomar] a rotina ainda é impossível, devido à locomoção. Mas já saí com amigos de cadeira de rodas”, comemorou.
O médico Luís Felipe Silveira Santos, supervisor da UTI adulto do São Luiz São Caetano, explicou que o botulismo compromete os músculos de forma difusa e que o grande risco da doença é a insuficiência respiratória, provocada pela possível paralisação do diafragma. “O diagnóstico é difícil, porque o botulismo é muito raro. [Pelos sintomas] a gente acaba pensando em outras complicações, como doenças autoimunes, neurológicas, que acometem a medula, antes de pensar nele”, apontou.
O especialista acredita que Claudia não terá sequelas físicas e deve voltar a sua rotina em breve. “Ela vai se recuperar. No quadro dela, não devemos ter sequelas. Só a parte psicológica, que abala qualquer um. Da parte física, só as cicatrizes mesmo”, finalizou.
Sobre o botulismo
A doença é causada por toxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum. Em geral, o contágio pode ocorrer através de alimentos em conservas, especialmente vegetais, como palmito, picles e pequi, e embutidos de vegetais, pescados, frutos do mar, leite e carnes, como salsicha e presunto.
Os primeiros sintomas são náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia e constipação. Os pacientes também podem relatar dor de cabeça, vertigem, visão dupla turva ou pupilas dilatadas. Em seguida, os indícios podem ser mais aparentes, como a dificuldade de engolir ou falar, fraqueza facial e paralisia dos músculos. A grave enfermidade ainda pode ser fatal e requer cuidados médicos de emergência.
O tratamento é feito com antitoxina, que neutraliza as toxinas e minimiza os sintomas. A prevenção está nos cuidados com os alimentos, incluindo a higienização dos produtos e das mãos. Outra recomendação é evitar a ingestão de alimentos em latas estufadas, vidros embaçados e embalagens com alterações de odor, além de ferver ou cozinhar, durante cerca de 15 minutos, produtos industrializados e conservas artesanais.