Neste domingo (8), foi ao ar no “Fantástico” uma reportagem sobre George Santos, brasileiro eleito à Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, acusado de mentir em seu currículo profissional e acadêmico, bem como sobre sua história de vida. No dominical, uma série de pessoas que conviveram com o político disseram ter sido vítimas de fraude.
Nascido nos EUA em 1988, o filho de um mineiro e uma fluminense afirmou mais de uma vez que é contra a entrada de imigrantes no país. Aos 34 anos, George tomou posse esta semana como deputado federal, em meio a uma série de polêmicas e protestos contra sua eleição, devido a mentiras em seu histórico e boatos de sua sexualidade, já que Santos é um dos poucos políticos no partido republicano que se diz abertamente gay.
Com a repercussão do caso, testemunhas vieram à tona para compartilhar suas próprias experiências com ele. No programa, o político foi acusado de mentir sobre sua identidade em aplicativos de namoro, apresentando-se com nomes e nacionalidades diferentes. Para uns, ele se apresentava como o russo Anthony Zabroviski, para outros como George ou Anthony Devolder.
Pedro Vilarva e George Morey-Parker foram duas das “vítimas” de George. Vilarva viveu cerca de um ano com o político, mas alegou só ter se dado conta de suas mentiras no final do relacionamento, quando encontrou uma acusação de estelionato contra George no Brasil.
Parker, por sua vez, se relacionou com o político por cerca de dois meses e alegou ter sofrido um golpe de US$30 mil (aproximadamente R$157 mil). “O banco me ligou e disse que as transações não pareciam normais, porque eu não dou cheques de 10 mil dólares com muita frequência. E os cheques estavam nominados a Anthony Devolder”, explicou o norte-americano.
Além deles, a dona de casa Adriana Damasceno, também afirmou ter sofrido nas mãos do brasileiro. Ao jornalístico, ela contou ter conhecido George em um bingo de Niterói, que ele e a mãe frequentavam. Os dois ficaram amigos e o rapaz então passou a ter acesso aos bens dela.
Em 2011, eles viajaram juntos para os Estados Unidos. Adriana alegou que George utilizou o nome dela para realizar compras de valores altos. Além disso, ele teria sacado todo o dinheiro que a dona de casa tinha no banco e empenhado itens pessoais, entre eles joias. O ocorrido, entretanto, não foi denunciado à polícia.
“Ele sempre se gabava que tinha dupla cidadania. Eu seria uma voz gritando por nada, por que quem sou eu hoje? Eu já não tinha mais influência, dinheiro, eu não tinha mais nada”, lamentou. Damasceno apontou, ainda, que o político roubou qualquer perspectiva de futuro dela. “Ele tirou a minha vida. A vida da minha filha. Porque hoje eu moro numa favela, eu vivo de Auxílio Brasil, eu não tenho mais a minha casa”, relatou Adriana, aos prantos.
Réu por estelionato
Em 2008, Santos viveu no Brasil ao lado da mãe, Fátima Alzira Horta Devolder, e de uma das irmãs. Na época, ele utilizou dois cheques de um idoso já falecido para comprar mais de R$2 mil em roupas numa loja de Niterói, no Rio de Janeiro. Após ligar para os telefones que constavam nos cheques e visitar os endereços (todos vazios), o ex-gerente do estabelecimento, Bruno Simões, se deu conta de que teria sido vítima de fraude.
Uma vez confrontado sobre o ocorrido, Santos, que na época respondia por Anthony, fez promessas de ressarcimento que nunca foram cumpridas. Simões recorreu às autoridade e um inquérito policial foi aberto, durante o qual a mãe de Santos foi chamada para depor. Fátima alegou que o talão pertencia a um idoso para quem ela trabalhava e que tinha falecido em 2006. Ela havia ficado de devolver os cheques à agência bancária, mas não o fez, dando a chance para que o filho furtasse os cheques de sua bolsa.
George, por sua vez, admitiu ter utilizado duas folhas do talão, antes de descartá-lo em um bueiro. Após a confissão, foi instaurado um processo de estelionato, que estava fechado desde 2011, pois a Justiça brasileira não sabia do paradeiro de Santos. No entanto, após a eleição do político nos EUA, o Ministério Público do Rio de Janeiro decidiu reabrir o caso.
Currículo de ficção
Santos ficou conhecido recentemente nos Estados Unidos e no Brasil como um “mentiroso patológico”, por forjar todas as informações do currículo para concorrer a deputado federal pelo estado de Nova York. Ele surgiu do nada na política norte-americana e, em 2020, conseguiu se candidatar a deputado federal pelo Partido Republicano.
Mesmo não sendo eleito, ele não desistiu e, com o apoio do ex-presidente Donald Trump, derrotou o democrata Robert Zimmerman ano passado, sendo escolhido para integrar a Câmara dos Deputados. Suspeitas ao redor do político cresciam há meses e, cerca de três semanas antes da posse de George, o jornal The New York Times conduziu uma investigação que revelou as mentiras do brasileiro.
Ao público, ele se descrevia como a “incarnação do Sonho Americano”, alegando ter estudado na Universidade Baruch, e trabalhado para grandes instituições americanas como o banco Goldman Sachs e o Citigroup – o que, mais tarde, Santos admitiu ser uma história fabricada. Em sua apresentação, George dizia ter saído de uma universidade pública em Nova York para se tornar um”financista e investidor experiente de Wall Street“, com um portfólio imobiliário de 13 propriedades. Ambos os bancos negaram que ele tenha trabalhado um dia com eles. A Universidade também desmentiu que Santos seja um de seus ex-estudantes.
O veículo norte-americano constatou, ainda, que o governo dos EUA não encontrou registros de que uma organização de resgate de animais que George alega ter, a “Friends of Pets United”. O político dizia que a instituição já tinha salvado mais de 2500 cães e gatos.
11 days to victory #NY03!
Early voting starts tomorrow🗳
A vote for Santos is a vote for the American Dream🇺🇸💪 pic.twitter.com/4ALxoxGox7— George Santos (@MrSantosNY) October 29, 2022
Pego na mentira
Durante a campanha, o trumpista também teria “embelezado” os ganhos de uma suposta empresa, além de mentir sobre a morte da própria mãe, alegando que ela perdeu a vida nos atentados de 11 de setembro ao World Trade Center de 2001, quando, na verdade, ela faleceu em 2016. A contradição foi apontada pelo repórter Yashar Ali, que recuperou um tuíte de julho de 2021, no qual George diz que o “11 de setembro tomou a vida da minha mãe”. Em dezembro do mesmo ano, ele afirmou na rede social que fazia cinco anos que a mãe havia morrido.
Santos também está na mira da Justiça americana por suspeita de irregularidades na prestação de contas da campanha. Há indícios de que ele gastou US$ 11 mil (R$ 58 mil) em aluguel numa casa em Long Island e a utilizou para fins pessoais, o que é proibido pela legislação norte-americana.
Ele ainda é suspeito de “exagerar suas origens”, tendo se apresentado como “um judeu americano orgulhoso”. O congressista cresceu em uma família católica, mas afirma que sua “herança é judaica”, pois seria neto de sobreviventes do Holocausto que fugiram da barbárie nazista.
Por fim, George que usou a causa LGBTQIA+, e repetiu reiteradas vezes em sua campanha, que era “abertamente gay“, jamais mencionou publicamente que era casado com uma mulher até 12 dias antes de se tornar candidato.
Tonight I joined Rabbi Lau, the Chief Ashkenazi Rabbi of Israel, in a special event held by the Chabad of Great Neck.
We stand strong as Antisemitism and violent crime shakes us to the core. It was an honor to address fellow members of the Jewish community in #NY03. pic.twitter.com/P5Adq2fhSV
— George Santos (@MrSantosNY) November 4, 2022
Segundo Grace Ashwood, integrante do grupo que investigou a vida de George, a exposição das mentiras resultou na abertura de três investigações contra o deputado somente nos EUA. “Há muitas questões éticas e eu acho que pode haver uma pressão do próprio partido e do líder do Congresso, que deve pedir que ele renuncie”, declarou a jornalista. Assista à reportagem na íntegra.
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