A atuação do governo federal brasileiro no combate ao coronavírus virou motivo de chacota internacional. Nesta terça-feira (13), o primeiro-ministro francês Jean Castex levou o parlamento da França às gargalhadas, ao mencionar, durante reunião na Assembleia Nacional, o fato do Brasil ser um dos países que mais prescrevem a hidroxicloroquina como tratamento para a Covid-19. O medicamento, como se sabe, não teve eficácia comprovada cientificamente contra a doença. Mesmo assim, Jair Bolsonaro é um de seus grandes defensores.
O assunto veio à tona após Patrick Hetzel, um deputado de oposição, atacar o governo por não ter fechado, até então, as fronteiras com o Brasil, citando uma declaração do ministro dos Transportes, que teria afirmado não poder fazer nada, pois não havia respaldo em lei. O deputado alegou que o episódio mostrava a incapacidade da França de lidar com a pandemia, ressaltando que Portugal e Reino Unido adotaram restrições mais severas nesse aspecto.
Hetzel então perguntou se o primeiro-ministro proibiria voos de ida ou volta de países que apresentam variantes da doença, ou continuaria sendo incapaz de implementar políticas sanitárias que a ciência já apontou como necessárias. Vale lembrar que em abril de 2020, esse mesmo deputado pediu ao presidente francês, Emmanuel Macron, que recomendasse ao povo, cloroquina. Em resposta, Castex afirmou que os questionamentos partiam de fatos verdadeiros, como a severidade da P.1 (variante detectada no Brasil), mas acusou o parlamentar de distorcer a realidade.
O primeiro-ministro afirmou que desde o fim de janeiro, já havia restrições aos viajantes que partem do Brasil, e anunciou, em seguida, a suspensão dos voos até 19 de abril: “Vamos aos fatos: hoje, e após as medidas que tomamos em 29 de janeiro, toda pessoa que deseja entrar na França a partir do Brasil não pode fazê-lo a não ser por motivos imperiosos”. Na sequência, ele ironizou ao dizer que o governo, ao menos, não recomendou a hidroxicloroquina como o opositor sugeriu meses antes, ou como o Brasil fez.
Confira a fala de Castex sobre o uso da cloroquina no Brasil:
“Os senhores partem de uma observação estabelecida. A gravidade da situação no Brasil é cansativa. Eu lhes recordo, diante da representação nacional, que [o país] sofre uma situação absolutamente dramática, e a periculosidade da variante do mesmo nome que, efetivamente, apresenta dificuldades reais. Mas me perdoem por lhes dizer, os senhores estão distorcendo um pouco a realidade ao sugerir que o governo não fez nada. Mas isso está errado, está completamente errado. Tem uma coisa que não fizemos: seguir suas recomendações. O senhor escreveu ao presidente da República em 2020 para aconselhar a ele que prescrevesse hidroxicloroquina. Ora, o Brasil é o país que mais a prescreveu (o medicamento)“, afirmou o primeiro-ministro. Uma parte da Assembleia Nacional, então, aplaudiu e deu risadas. Assista:
No parlamento francês, o primeiro ministro do país cita o Brasil como exemplo de que a hidroxicloroquina não funciona contra a Covid-19 e anuncia a restrição de voos vindo do país.
Ao falar do remédio, arrancou risadas dos colegas. Ao falar da restrição, arrancou aplausos pic.twitter.com/3TqdvryqLz
— Samuel Pancher (@SamPancher) April 13, 2021
A decisão da França, publicada nesta quarta-feira (14) no Diário Oficial francês, suspende todos os voos entre o país e o Brasil até o dia 19 de abril. Agora, o governo examina soluções para repatriar seus cidadãos e residentes que estejam no Brasil, por meio de “voos particulares ou indiretos”. Recentemente, em 31 de março, a França decretou uma quarentena de um mês em todo o território nacional para frear a terceira onda da pandemia, causada principalmente por uma variante do Reino Unido.