Rede internacional vendia vídeos de tortura de macacos pela web, e choca polícia com detalhes: “Ninguém estava preparado”

Mais de mil pessoas participavam de grupos que financiavam a tortura dos animais

Nesta terça-feira (20), a rede britânica BBC expôs uma rede internacional criada para a tortura de macacos. A descoberta foi feita por jornalistas que se infiltraram nos grupos clandestinos durante um ano. Segundo eles, clientes de todo o mundo, principalmente dos Estados Unidos e do Reino Unido, pagavam pessoas da Indonésia para matar os animais e registrar o processo em vídeo.

A perseguição à quadrilha começou após a denúncia de uma youtuber, que notou o aumento de conteúdos envolvendo filhotes de macacos durante a pandemia. Depois disso, a BBC começou uma busca intensa atrás dos torturadores, que se reuniam em grupos do Telegram para trocar ideias de maus-tratos, além de contratar pessoas na Indonésia para executá-las.

Os repórteres entraram nessas conversas para fornecer informações para a polícia, que já realizou algumas prisões. Atualmente, 20 pessoas estão sob investigação, incluindo três mulheres que vivem no Reino Unido, e um homem no estado americano do Oregon.

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Mike McCartney, conhecido como “The Torture King” (“O Rei da Tortura”), administrava vários grupos nos quais os entusiastas da tortura distribuíam vídeos. “Eles organizavam uma votação”, contou McCartney ao veículo. “Você quer um martelo? Você quer um alicate? Você quer uma chave de fenda?”, exemplificou ele. McCartney ainda ironizou: “Não é diferente do dinheiro das drogas. O dinheiro das drogas vem de mãos sujas, esse dinheiro vem de mãos sangrentas”.

A filhote Mini foi o grande estopim da investigação (Foto: Reprodução/BBC)

Além dele, outros dois suspeitos foram identificados pelos repórteres. Stacey Storey, uma mulher de 47 anos do Alabama conhecida na comunidade como “Sadisctic” (“sádica”), tinha mais de cem vídeos de tortura em seu celular. Ela chegou a pagar pela criação dos conteúdos mais agressivos do grupo. “Mr Ape” (“Sr. Macaco”), cujo nome verdadeiro não foi divulgado, também encomendou vídeos “extremamente brutais”. O homem afirmou que foi responsável pela morte de pelo menos quatro macacos.

O agente especial Paul Wolpert, que está liderando a investigação do Departamento de Segurança Interna, disse que todos os agentes ficaram profundamente chocados com a natureza dos crimes. “Não sei se alguém estava pronto para um crime como este. O mesmo com os advogados e o júri, e qualquer um que leia que isso está acontecendo. É um choque, eu acho”, exclamou o profissional.

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“Sr. Macaco”, Stacey Storey e Mike McCartney ainda não foram indiciados, mas podem pegar até sete anos de prisão. Já a polícia da Indonésia prendeu dois suspeitos de tortura: Asep Yadi Nurul Hikmah foi condenado a três anos de prisão e Ajis Rasjana pegou a pena máxima de oito meses.

Após a repercussão, o Facebook, o Telegram e o YouTube se manifestaram. A empresa de Mark Zuckerberg afirmou que “não permite a promoção de abuso de animais na plataformas e remove o conteúdo quando toma conhecimento”. Já o aplicativo de mensagens disse estar “comprometido em proteger a privacidade do usuário e os direitos humanos, como a liberdade de expressão”, mas acrescentou que seus moderadores “não podem patrulhar proativamente grupos privados”.

Alguns canais eram criados exclusivamente para o conteúdo violento (Foto: Reprodução/BBC)

Por sua vez, os representantes da plataforma de vídeo emitiram uma nota garantindo que o abuso de animais “não pode estar” no site e que a empresa está “trabalhando bastante para remover rapidamente o conteúdo que viola suas políticas”. “Somente neste ano, removemos centenas de milhares de vídeos e encerramos milhares de canais por violar nossas políticas violentas e explícitas”, concluiu o comunicado.

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A co-fundadora da instituição de caridade animal Action for Primates, Sarah Kite, lamentou o aumento de circulação de conteúdos violentos nas web. “Vimos uma escalada neste conteúdo gráfico extremo, que costumava ser escondido, mas agora está circulando abertamente em plataformas como o Facebook”, disse ela, sugerindo que o Reino Unido crie leis para ajudar na punição de indivíduos que patrocinam vídeos de tortura.

“Se alguém está proativamente envolvido em infligir essa dor, pagando por isso e fornecendo uma lista de coisas que deseja que sejam feitas ao animal, deve haver leis mais fortes para responsabilizá-lo”, concluiu. A reportagem completa da BBC pode ser vista abaixo na linguagem original:

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