Hugo Gloss

Ana Vilela revela que pensou em desistir da carreira após ataques de ódio a “Trem-Bala”: “Tive ataque de pânico”

Ana Vilela (Reprodução; Instagram/YouTube)

Ana Vilela (Reprodução; Instagram/YouTube)

Mesmo com uma letra que viralizou e inspirou milhões de brasileiros, a música “Trem-Bala” causou problemas para a cantora Ana Vilela. Em entrevista emocionada ao Universa, do UOL, nesta terça-feira (26), ela falou sobre a fama repentina, os ataques dos haters ao seu trabalho, ansiedade, o diagnóstico de depressão e sobre o que espera do futuro.

Segundo a cantora, em certo momento da pandemia ela chegou a cogitar desistir da carreira. Isso porque, uma paciente saiu do hospital, recuperada da Covid-19, ao som de sua música, o que colocou o “Trem-Bala” nos assuntos em alta no Twitter, mas os comentários foram bem desagradáveis. “Na primeira vez que vi o nome da música entre os assuntos mais comentados do Twitter, meu coração quase parou de alegria. Achava que era uma campanha dos fãs, algo assim. Quando fui clicar para ler o que as pessoas estavam falando sobre ‘Trem-bala’, e me deparei com comentários humilhantes e ofensivos, tive um ataque de pânico”, contou.

Ela continuou: “De repente estava nos trending topics, porém com piadas e frases negativas, debochando tanto da paciente quanto da letra. Disseram até que ‘Trem-Bala’ era uma saudação nazista; naquele momento, eu queria nunca ter escrito a letra. Minha mulher teve que tirar o celular da minha mão de tão mal que fiquei com os comentários. Fiquei um dia e meio longe das redes sociais, meu empresário teve que vir até em casa, eu queria desistir da carreira”.

Ana comparou sua música com relacionamentos: em um dia está tudo certo e ela ama, mas no outro ela odeia. A cantora também falou sobre o choque de conquistar a fama tão depressa. “Foi assustador o processo de virar famosa de uma hora para outra. Hoje vejo que a fama não me agrada, o que me agrada é o fato de as pessoas reconhecerem meu trabalho. Comecei a sofrer de ansiedade logo no início da carreira, me assustava com as cobranças de ser famosa; eu não precisava só tocar uma música, tinha que ser atriz, modelo, ter uma vida feliz na internet”, disse.

Ana Vilela revelou sofrer com depressão após sucesso. (Foto: Reprodução/Instagram)

A artista tem uma hipótese sobre o motivo que leva as pessoas a criticar o seu trabalho: “Acho que quando lancei ‘Trem-Bala’, há cinco anos, o cenário era propício para a música. Em pouco tempo, a sociedade mudou muito. Naquela época, a violência gratuita nas redes sociais ainda estava engatinhando. Agora, parece que todo mundo quer criticar por criticar na internet, atacar por atacar, dane-se quem está do outro lado lendo os comentários. As pessoas começaram a falar mal de ‘Trem-Bala’ no Twitter sem nenhum critério”.

“Acho que minha depressão piorou porque, antes da pandemia, eu podia ter mais contato com os fãs, vivia escutando histórias positivas, de pessoas que mudaram de vida por causa da música etc. Com o isolamento, o único canal de contato com o público virou a internet e, se na internet as pessoas têm coragem de falar mal até da Beyoncé, quem dirá da Ana Vilela?”, desabafou, contando que está se tratando da doença há mais de um ano e seis meses.

Segundo Vilela, a “cultura do ódio” disseminada na internet é a pior parte. “Parece que querem machucar uns aos outros, esquecem que todo mundo erra, todo mundo falha, querem cancelar as pessoas por qualquer coisa, inventam fake news”, lamentou. Ela também afirmou que a maioria dos ataques vem de homens, que, ao criticarem a música, fazem ataques à sua sexualidade e à sua aparência: “Ninguém liga, mas eu tenho transtorno alimentar desde criança, é gatilho ler mensagens sobre meu corpo; é muito ruim ter que ficar me justificando o tempo todo para as pessoas.”

“Se faço um comentário aleatório na internet sobre algum assunto, vem seguidor me criticar por ‘Trem-Bala’. Posso estar falando de política, de qualquer assunto X, vem alguém falar da música. Não entendem que foi uma canção que escrevi há cinco anos, que é só uma parte da minha carreira, e me julgam por ela até hoje, como se fosse meu único feito profissional. Parece que nessa hora as pessoas esquecem que um dos meus álbuns foi indicado ao Grammy. Sou tachada por uma música de 3 minutos como a salvadora, a positiva… E na verdade eu sou mais do que isso. Sou uma pessoa diferente daquela Ana Vilela que canta ‘Trem-Bala’. Eu reclamo, escrevo merda, crítico o governo”, continuou.

Ana Vilela sofre com ataque de haters 5 anos após o lançamento da música. (Foto: Reprodução/Instagram)

Ana garantiu que, quando compôs a música, era aquilo que ela precisava ouvir, já que tinha acabado de passar por um término traumático e queria mudar a situação: “Para quem não entendeu, a letra diz que a vida é rápida, e não boa. A letra não é fofa, não é bonitinha. É funcional!”.

Em agosto, a artista fez um post nas redes sociais pedindo para que as pessoas não fizessem comentários sobre a canção, já que eles estavam “piorando” sua depressão. Na entrevista, Ana confirmou que não pensou na repercussão que a publicação poderia ter e reforçou o pedido. “Estou cansada de falar sobre assuntos pessoais, já disse: quero ser reconhecida pelo meu trabalho, não pela minha vida íntima. Estou pedindo pelo amor de Deus para que as pessoas parem de me atacar só por causa de uma música”, disse.

Apesar das adversidades, Ana Vilela está otimista sobre o futuro e já tem novos projetos em mente. “Quero seguir o caminho, tocar a bola para a frente. Vou focar no meu trabalho, nas minhas músicas novas, transformar a dor em arte; meu plano é lançar um disco que fale sobre esse período que estou vivendo. Hoje em dia me conheço melhor, faço terapia, tenho 23 anos, sou casada e feliz. Eu não quero continuar depressiva para o resto da vida, gosto de ser feliz. Sou uma otimista incorrigível. Para seguir, eu preciso ter esperança de que vai ficar tudo bem – eu tenho fé nisso, mesmo não tendo religião”, finalizou.

Ana é casada com Amanda Garcia. (Foto: Reprodução/Instagram)
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