Uma reportagem recente da revista Piauí reuniu uma série de acusações contra a viúva de Gal Costa, Wilma Petrillo. Após a repercussão, André Pacheco, ex-gerente de marketing da Sony, alegou que Petrillo teria boicotado contratos e vetado um clipe da artista com presença de travestis no período em que ela era contratada da gravadora.
Segundo Pacheco, os problema surgiram durante a divulgação do disco “Estratosférica”, de 2015. Ele foi responsável pela estratégia de marketing para promoção do projeto, bem como as vendas da turnê de mesmo nome, e alegou ter enfrentado dificuldades ao lidar com Wilma. A relação profissional teria terminado de forma negativa.
“Eu era gerente de marketing da Sony e a Gal estava sem gravadora na época (2015). Eu já conhecia a Wilma [Petrillo] e a Gal quando morei em Salvador por um tempo. Quando eu fui pra Sony, ninguém queria a Gal, ninguém queria o projeto, mesmo que fosse maravilhoso, por causa dela (da viúva), mas conseguimos. Quando Gal chegou, começamos a ter vários problemas por causa de contrato, com Wilma, o que pode e o que não pode, mas a Gal sempre só sabia de metade da história”, detalhou André, em entrevista a Carla Neves, da revista Quem.
“Me falaram: ‘Pacheco, a Wilma gosta de você’. E realmente ela nunca me fez nada, mas eu via ela fazendo muitas coisas horrorosas. Mas, pra preservar minha relação com a Gal, eu preservava a minha relação com a Wilma. E, nesse meio tempo, a gente combinou que a Wilma não iria frequentar as minhas reuniões. No caso, ia sempre a Gal, o Marcus Preto (produtor) e, de vez em quando, a assessora dela. Quando a Wilma ia, eu não fazia a reunião”, disse ele.
Pacheco apontou que chegou a ameaçar desistir do trabalho com Gal devido aos impedimentos cavados pela parceira dela. “Porque tudo o que a gente combinava ou a Wilma não fazia ou não assinava o contrato. A Gal estava com uma empresária que não conseguia vender show, porque ninguém mais contratava ela por causa da Wilma. E eu, como conhecia as duas, quando morei lá [em Salvador], quando a Wilma me viu na Sony, falou: ‘Bom, vamos tentar’. Só que era assim. Tudo que a gente decidia “agora”, daqui três horas, quando ela chegava em casa, Gal me falava: ‘Ai, Pacheco, não vai rolar’. E eu: ‘Mas por quê?’. Era sempre a Wilma por trás. Aí falei: ‘Gal, ou a gente não lança mais o CD Estratosférica e a gente não vai fazer a sua turnê ou a partir de agora vamos fazer reunião só nós. Eu, você, o Marcus Preto e a Ana (assessora)’. Um dia liguei pro Marcus, e falei: ‘Tô encerrando o trabalho com a Gal’. E ele: ‘Por quê?’. Eu: ‘Por isso, isso e isso’. ‘Então, a partir de agora a Wilma não faz parte mais'”, recordou.
Os problemas teriam acontecido entre 2015 e 2016. De acordo com André, Petrillo boicotava compromissos profissionais de Gal: “Não existia diálogo. O presidente da época [da Sony] realmente não falava mais com a Wilma. Ela (Wilma) mandava notas de cobrança pra gente. A gente fazendo notas de show, contratos de turnê e ela fazendo a apática, vendendo um show paralelo de voz e violão, como está na matéria da Piauí. Ela ia fazendo essa coisa com todo mundo. Vendíamos um show pra Alagoas, digamos assim. Aí ela vendia mais três voz e violão [em outros lugares] e derrubava o nosso. (…) E a Gal falava: ‘Pô, mas o que acontece que toda vez que chega perto do show, o show cai?’. Aí a Gal começou a achar que o problema era nosso”.
O empresário confessou, ainda, que chegou a ter problemas de saúde, como herpes-zóster, devido ao estresse da situação. “Fui internado no Albert Einstein, em São Paulo. Quem me ajudou foi a Gal, que ligou pro médico dela, que estava na plateia, e pediu pra ele ir pro camarim me ver”, disse.
A partir daí, a relação entre a artista e a Sony teria esfriado, mas André foi o responsável por manter a parceria ativa. “A gravadora se distanciou 90%. Só não foi 100%, porque eu era o conector. Eu era gerente de marketing e em especial isso nunca tinha acontecido. A gente resolveu investir no projeto. E neste investimento, eu terminei sendo o empresário dela via gravadora. Tudo lá era comigo. (…) Nesse meio tempo, tive dois clipes vetados pela Wilma”, alegou.
“Era o clipe de ‘Quando Você Olha Pra Ela’, de autoria da Mallu Magalhães. Tava tudo lindo, pronto, autorizado. Ficou só entre eu, Gal, Wilma e Marcus Preto. A Gal pirou, adorou, achou que estava lindo. Mas quem assinava era a Wilma e e ela não autorizou a liberação. Quando viu, não foi bem assim que ela disse, mas disse: ‘Se tiver travestis, não entra’. Eu disse: ‘Mas Wilma, não tem travestis. É estética agênero’. Ela: ‘Travestis’. Aí eu falei: ‘Como é que a gente faz?’. Ela: ‘Edita’. E eu: ‘Mas tá no roteiro’. O clipe não foi lançado”, afirmou.
“Foi orçado em R$ 90 mil. Tá arquivado, inédito. Esse primeiro eu não sei te falar precisamente se a propriedade dele chegou a ser da Sony por conta disso, dos contratos. (…) Aí gravamos outro clipe, no palco, de drone. Ficou maravilhoso, mas não foi lançado porque a Wilma disse que ‘a Gal não estava bonita'”, continuou.
O empresário relembrou ainda que, em meio a veto dos projetos e a troca de presidência da gravadora, a situação com Wilma chegou a um estopim. “O primeiro [clipe] chegamos a comprometer orçamento em folha, etc. O segundo, não, porque ela brecou tudo antes. Brecou no sentido de… Não tinha diálogo. (…) Tirei dois meses de licença. A empresa perguntou se eu teria condições de pelo menos cuidar da Gal, já que ninguém tinha condições de lidar com a Wilma. Neste meio tempo, vou falar de uma maneira bem suave, mas interprete como quiser. A gravadora demitiu a Gal por conta da Wilma, porque ela não assinava nenhum contrato, não cumpria nenhuma norma e a Gal era a vítima. A Gal sempre foi a vítima”, lamentou.
Ele acrescentou: “Foi uma pena enorme. Quando eu falo que ela era vítima, ao mesmo tempo que ela confiava muito em mim, no Marcus Preto, na assessora, todo mundo, ela também tinha uma dependência muito grande da Wilma. Se ela (Wilma) falasse: ‘Vocês estão fora’, todo mundo tava fora. Qualquer embate, quem ganhava era a Wilma. Em 28 anos, nunca ninguém ganhou uma briga envolvendo a Gal com a Wilma à frente. (…) Ninguém tinha acesso à Gal por conta dela. (…) A própria Gal falava: ‘Pô, ninguém me quer’. Eu disse: ‘Querem, quem não tá deixando é a Wilma'”.
Gal e Vilma
Questionado se Gal Costa sabia que estava tendo sua carreira prejudicada pela própria parceria, o empresário afirmou que a artista não fazia ideia das atitudes de Petrillo. “Não. Na frente da Gal, a Wilma era a pessoa mais doce do mundo. Eu até estranhava muito quando as pessoas falavam dela. Não é que ela entregava a carreira na mão dela… É que a Wilma fazia uma coisa de ‘cortina de fumaça’ na frente. Não à toa todo mundo que tentou ajudar conseguiu ajudar. Mas todo mundo teve um limite. Eu tive. O Preto teve. E ela (Wilma) mostrava um amor por pessoas que convivia… Ela nunca me fez nada”, contou ele.
“Ela [Wilma] nunca me fez nada, porque ela nunca me viu como ameaça. Inclusive, quando eu falei: ‘Ou você sai do circuito e eu trato direto com a Gal, com a Aninha e com o Preto ou a gente não vai investir na turnê’. E ela: ‘Não, eu tenho que assinar’. E eu: ‘Beleza’. Foi aí que uma vez eu conversei só com a Gal e com o Preto no estúdio. E aí, a Wilma parou de frequentar as reuniões. Só que eu tive herpes-zóster (…) Eu fiquei de três a quatro meses pra poder ser demitido porque eu tava de licença médica (…) Neste tempo, acabou o diálogo da gravadora com a Gal. E rolou, não sei te falar detalhes, mas uma briga séria do presidente com a Wilma. (…) Eu ligava pras pessoas, perguntava se tinham algum feedback [dos trabalhos]. Aí a Gal me ligava cobrando, por exemplo, a estreia do clipe e eu não sabia o que dizer. A partir disso, a Sony pode falar melhor. O final foi assim. Eu me demiti da Sony, do stress, e o presidente botou a Wilma pra correr”, acrescentou.
Sobre a relação das duas, Pacheco declarou: “Vou te falar: a Gal é uma pessoa maravilhosa. A expressão que eu posso usar, talvez, é que ela foi iludida e tinha um certo medo da solidão. Da solidão, que eu falo, que a Wilma criou em sintomas nela. Porque a Gal nunca seria solitária. Nunca seria uma pessoa sozinha. Mas tudo o que a Wilma fez isolou a Gal”.
Já sobre a repercussão, bem como as acusações contra Wilma feitas na Piauí (de assédio moral a ex-funcionários, ameaças e golpes financeiros e até da falência de Gal), o empresário disse acreditar que tudo o que foi relatado é verdade. “Vou te falar. Eu demorei três horas para ler a matéria da Piauí. Porque eu ia chorando, eu parava, meu coração dava taquicardia. A Gal sempre foi uma estrela para mim e eu sempre tratei ela como estrela até a hora que eu precisei tratá-la como uma amiga”, finalizou.
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