Ludmilla se manifesta após acusações de intolerância religiosa no Coachella; leia a íntegra

Uma frase exibida no telão em “Rainha da Favela” gerou críticas e fez com que a artista falasse sobre o tema

Ludmilla

A cantora Ludmilla foi acusada de intolerância religiosa por causa de um vídeo exibido no telão de seu show no Coachella, na Califórnia, realizado neste domingo (21). Enquanto a carioca apresentava o hit “Rainha da Favela”, foi mostrada a frase “Só Jesus expulsa o Tranca Rua das pessoas”. O “Tranca Ruas” é justamente uma falange de Exu, em religiões de matriz africana como Umbanda e Quimbanda.

Nas redes, internautas apontaram intolerância religiosa. “No mês passado, a Ludmilla estava comprando uma igreja evangélica pra dar pra uma pastora no Rio. Agora, ela mete um ‘Jesus expulsa o tranca rua das pessoas’. É assustador o que o fundamentalismo faz com as pessoas”, escreveu o apresentador William de Lucca. “Ludmilla é mais uma artista famosa a tentar infiltrar uma intolerante e destrutiva doutrina neopetencostal na cultura pop. Sua manifestação no festival Coachella é puro ódio religioso e tem que ser repudiada com veemência. Foi o mesmo que Claudia Leitte e Baby do Brasil fizeram no carnaval. INTOLERÂNCIA RELIGIOSA É CRIME!”, concordou a deputada federal Jandira Feghali.

Outros, porém, saíram em defesa da artista. “O fato é que por a Ludmilla não ser de religião de matriz africana estão tirando do contexto o video (que foi feito por uma fotógrafa negra e periferica retratando as comunidades do Brasil) e botando como se ela tivesse cometido intolerância religiosa”, disse um. “Ludmilla não devia nem precisar explicar nada. É muito claro que o frame é retirado de contexto, porque o trabalho da Najur é justamente mostrar esse RJ que não parece os mesmos das novelas de Manoel Carlos. Sigam Najur no Instagram e parem de querer as coisas já mastigadas”, reforçou mais um.

Diante da controvérsia, a artista se pronunciou. Segundo Ludmilla, a cena foi tirada de contexto e sua proposta com as imagens foi “mostrar a realidade de uma favela”. “Quando eu disse que vocês teriam que se esforçar pra falar mal de mim, eu não achei que iriam tão longe. Hoje tiraram do contexto uma das imagens do vídeo do telão do show em ‘Rainha da Favela’, que traz diversos registros de espaços e realidades a qual eu cresci e vivi por muitos anos, querendo reescrever o significado dele, e me colocando em uma posição que é completamente contrária à minha”, iniciou ela no X, antigo Twitter.

“‘Rainha da Favela’ apresenta a minha favela, uma favela real, nua e crua, onde cresci, mas, infelizmente, se vive muitas mazelas: genocídio preto, violência policial, miséria, intolerância religiosa e tantas outras vivências de uma gente que supera obstáculos, que vive em adversidades, mas que não desiste. Isso passa por conviver em um ambiente muitas vezes hostil, onde a cada esquina você precisa se deparar com as dificuldades da favela”, continuou Ludmilla.

A cantora afirmou, ainda, que não quer que o público veja apenas um “filtro gourmet” da realidade. “Meu show começa com uma mensagem muito explícita , que não deixa dúvida sobre nada! Na sequência, eu apresento a realidade sobre a qual esse discurso precisa prevalecer! Sobre uma favela sem filtros, sem gourmetizações, sem representações caricatas, uma denúncia sobre o real. Estou aqui pelo que é real, e não essa versão vitrine importada para gringo achar que esse é um espaço que se reduz a funk, b*nda e cerveja!”, desabafou.

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Ludmilla contou que o encerramento da apresentação também teve uma mensagem importante, com um olhar de dentro da favela. “Termino meu show com o céu tomado de pipas douradas, que representam a esperança que eu quero plantar no coração de todos que lidam com essa realidade! Esse vídeo foi feito por uma fotógrafa/videomaker negra e periférica, para que tivesse um olhar de dentro para fora!”, explicou ela.

Por fim, a arista pediu o fim dos ataques e respeito para todos, independente de religião, raça ou gênero. “Não me coloquem nesse lugar. Vocês sabem quem eu sou e de onde eu vim. Não tentem limitar para onde eu vou. Respeito todas as pessoas como elas são, e independente de qualquer fé, raça, gênero, sexualidade ou qualquer particularidade de que façam elas únicas“, concluiu.

Leia a íntegra:

Erika Hilton se manifesta

Com a repercussão, a deputada federal Erika Hilton também se posicionou sobre o assunto. Na última semana, ela fez uma participação especial na abertura do show de Ludmilla no Coachella. A parlamentar gravou uma mensagem que foi exibida no telão durante a performance da brasileira.

“Recebi com tristeza e preocupação diversas mensagens de que ontem, no show de Ludmilla no Coachella, ocorreu uma projeção em que havia dizeres com conteúdo que ataca e ofende pessoas de religiões de matriz africana. A realidade da nossa sociedade é a de que a intolerância e o racismo religioso existem, e estão se fortalecendo em favelas e comunidades do Brasil inteiro com o apoio das milícias, do crime, e da extrema-direita”, iniciou a deputada.

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Ela lamentou a “falta de contexto” da frase exibida por Lud no telão: “Quando se projeta essa realidade em um show do porte do show de Ludmilla no Coachella, é necessário refletir isso. Mensagens como essa, sem nenhum contexto, podem criar mais danos à luta pela liberdade religiosa ao invés de ajudar a combater essa realidade de preconceito e violência contra pessoas de axé”.

“A intolerância religiosa precisa ser combatida. No nosso cotidiano, na sociedade civil, pelo judiciário, no parlamento, e nas artes também. E as vozes que alertam e trabalham contra a discriminações, sejam elas religiosa, racial, de gênero e orientação sexual, precisam ser fortalecidas”, continuou Erika.

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Por fim, a deputada, deixou sua torcida para que a cantora use as acusações de intolerância religiosa como aprendizado. “Que Lud aproveite esse acontecimento e trate oportunidade para avançar nesse debate e reparar danos causados. Não esperem que na caminhada de pessoas negras nós nos condenemos tão facilmente quanto quem condena pessoas da nossa cor por qualquer passo errado”, escreveu.

“É preciso, sim, criticar e estar abertas à críticas, a refletir, se retratar e efetivar mudanças concretas para evitar que um marco histórico, como o ineditismo de uma mulher afrolatina comandar um show no Coachella, que muito nos orgulha e inclusive contou com uma mensagem minha de abertura, na semana passada, não fique marcado como um evento de criou dor e revolta para populações marginalizadas”, concluiu a parlamentar.

Leia a íntegra:

Veja a abertura do show de Ludmilla no Coachella: 

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