Rainha do rock brasileiro, Rita Lee morre aos 75 anos

Uma das artistas mais revolucionárias do país, Rita nos deixou na noite desta segunda-feira (8)

Rainha do rock brasileiro e uma das maiores estrelas da música, Rita Lee nos deixou na noite desta segunda-feira (8), aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença. A notícia foi dada pela família nas redes de Rita.

Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou“, informaram os familiares. “O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h. De acordo com a vontade de Rita, seu corpo será cremado. A cerimônia será particular“, acrescentou a nota. “Nesse momento de profunda tristeza, a família agradece o carinho e o amor de todos“, concluiu.

Rita descobriu um câncer no pulmão esquerdo em maio de 2021, através de exames de rotina. Em abril de 2022, a família afirmou que ela estava curada após passar por sessões de quimioterapia e radioterapia. Em fevereiro deste ano, a cantora voltou a ser internada, mas teve alta depois de mais de uma semana. Rita Lee deixa o marido, Roberto de Carvalho, os três filhos, Beto, João e Antônio, e quatro netos.

 

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Carreira icônica

Rita Lee Jones nasceu em São Paulo, no dia 31 de dezembro de 1947. Filha do dentista e filho de imigrantes Charles Jones e da italiana Romilda Padula, que era pianista, ela foi incentivada desde muito cedo a estudar o instrumento e a cantar com as irmãs. Aos 16 anos, Lee passou a integrar o trio Teenage Singers, com o qual se apresentou em festas de escolas. Eventualmente, o grupo chamou a atenção do cantor e produtor Tony Campello, que as convidou para participar de gravações como backing vocals.

Em 1964, Rita entrou para o grupo de rock Six Sided Rockers, que após algumas alterações na formação, deu origem aos Mutantes, em 1966. O grupo foi formado, inicialmente, por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Ela integrou a banda em seu período mais relevante e criativo, de 1966 a 1972, que contou com os discos “Os Mutantes” (1968), “Mutantes” (1969), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (1970), “Jardim Elétrico” (1971) e “Mutantes e Seus Cometas no País dos Bauretz” (1972).

O grupo integrou os dois maiores marcos da tropicália: a apresentação com Gilberto Gil em “Domingo no Parque”, no 3º Festival de Música Popular Brasileira da Record, em 1967, bem como a parceria com Caetano Veloso em “É proibido proibir”, no 3º Festival Internacional da Canção, da Globo, em 1968. Os Mutantes também participaram do álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, de 1968, gravação integral do movimento e foram idolatrados por nomes como Kurt Cobain, David Byrne, Jack White, Beck, entre outros grandes ícones da música.

Ao longo de seus quase 60 anos de carreira, Rita foi responsável por movimentos icônicos no rock brasileiro e criou canções que são trilha sonora da cultura popular brasileira, trazendo temas relevantes sem perder a irreverência. Referência de criatividade e independência feminina, a cantora logo ganhou o posto de “rainha do rock brasileiro” – que ela achava “cafona”. Rita preferia o título de “padroeira da liberdade”.

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Seu primeiro álbum solo foi “Build Up”, ainda antes de deixar a banda, em 1970. Rita também também lançou “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, em 1972, ainda gravado com o grupo. A saída dos Mutantes coincidiu com o fim de seu relacionamento com Arnaldo Baptista. A partir daí, Lee criou o grupo Tutti Frutti, com o qual gravou cinco álbuns, com destaque para “Fruto Proibido”, de 1975, que contou com um de seus maiores sucessos, o hit “Agora Só Falta Você”.

Em 1979, ela começou a trabalhar em parceria com o marido Roberto de Carvalho, e focou todos os seus esforços na carreira solo, repleta de hits. Um de seus maiores sucessos foi o disco “Rita Lee”, do mesmo ano, que entregou aos fãs “Mania de Você”, “Chega Mais” e “Doce Vampiro”.

No ano seguinte, ela presenteou o público com “Lança Perfume” e “Baila Comigo”, seguido por obras como o álbum “Saúde” (1981) e “Rita e Roberto” (1985), com o qual os dois subiram ao palco do primeiro Rock in Rio. Em 1991, Rita se separou de Roberto. Os dois retomaram a relação em 1995, na turnê do álbum “A marca da Zorra”, quando ela abriu os shows dos Rolling Stones no Brasil. No ano seguinte, eles se casaram no civil após 20 anos juntos.

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Em 1996, após cair da varanda de seu sítio sob efeito de remédios, Rita quebrou o recôndito maxilar. A partir daí, ela começou uma batalha para largar o álcool e as drogas, mas disse que só conseguiu fazer isso em janeiro de 2006. Em 2001, Rita ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa com “3001”. Nos anos seguintes, ela recebeu outras cinco indicações ao prêmio, e levou, em 2022, o gramofone de Excelência Musical pelo conjunto da obra.

Em 2012, ela anunciou que deixaria de fazer shows por causa da fragilidade física. “Me aposento dos shows, mas da música nunca“, escreveu a cantora no Twitter. Em 28 de janeiro do mesmo ano, no Festival de Verão de Sergipe, ela realizou o show anunciado como último de sua carreira, quando discutiu com um policial e foi acusada de desacato à autoridade, levada à delegacia e liberada em seguida.

Rita Lee realmente nunca mais fez uma turnê, mas fez outros dois shows: um no Distrito Federal no final de 2012, e outro no aniversário de São Paulo, em 2013. Seu último álbum de canções inéditas foi lançado em abril de 2012. “Reza”, faixa-título, foi a música de trabalho, definida por ela como “reza de proteção de invejas, raivas e pragas”. Sua obra reuniu, ao longo de quase 60 anos, 40 álbuns, sendo 6 dos Mutantes e 34 da carreira solo.

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