Apresentadora é indiciada pela polícia no DF acusada de chamar colega de “Patolina” e “carvão”

Lívia Braz foi demitida da Record TV em março de 2020, em meio a denúncias de racismo que eclodiram na emissora. Após 2 anos, o inquérito teve seus detalhes divulgados

Livia Braz Record Tv

A apresentadora Lívia Braz foi indiciada pela Polícia Civil do Distrito Federal, acusada de cometer injúria racial. Em 2020, a jornalista foi demitida da Record TV em meio a denúncias de comentários preconceituosos contra colegas de trabalho. O inquérito, cujos detalhes foram divulgados pelo Metrópoles, aponta que a vítima teria sido chamada de “Patolina” e “carvão”.

Segundo os relatos ouvidos pela polícia, a ex-apresentadora do “DF Record” costumava comparar a vítima, uma mulher negra, ao personagem animado do “Looney Tunes”, que é um pato com a cor preta. Em outra ocasião, Lívia teria mencionado que a profissional parecia um “carvão’ numa foto. “Desculpa amiga… Não vai dar pra curtir não. Ela tá parecendo um carvão nessa foto”, diz a jornalista em um print anexo à investigação.

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Os episódios em questão aconteceram entre os anos de 2019 e 2020, principalmente através de conversas por WhatsApp. Dois casos foram denunciados à Record Brasília em março de 2020. Segundo uma das vítimas, um deles envolvia racismo e homofobia num grupo chamado “Resistência”. O outro ocorreu num grupo de colegas de trabalho. Lívia nega ter feito parte do grupo “Resistência”. Contudo, o inquérito reuniu provas de que ela teria chamado a colega de “Patolina” e “carvão” neste outro grupo com funcionários. Apenas uma das vítimas entrou com uma queixa-crime – caso que agora tornou-se alvo do inquérito.

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Lívia Braz é acusada de chamar uma colega de trabalho negra de “Patolina” e “carvão”. (Foto: Reprodução/Record TV)

Em determinado momento, os colegas de emissora passaram a estranhar as falas e comentar sobre o assunto. Uma das testemunhas até declarou à polícia que se sentiu “mal e até um pouco culpada por ter ouvido Lívia chamado [a vítima] de Patolina e não ter tido alguma reação sobre essa atitude de Lívia no momento que aconteceu”. A testemunha relatou como soube de tal apelido nos bastidores da empresa. “Lívia disse: ‘No grupo, a gente chama ela de Patolina’ e riu colocando a mão na boca”, pontua a declarante, dizendo não ter achado graça. Ela acrescentou que até então não sabia o que seria esse grupo.

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A delegada Scheyla Cristina Costa Santos, responsável pelo caso, ainda trouxe depoimentos de que Lívia teria um comportamento “muito indigno” no ambiente de trabalho. “Costumava dizer que não gostava de pobre, chegando a dizer que tinha horror a Águas Claras, pois lá só tinha pobre. Em outra oportunidade, a declarante testemunhou Lívia maltratando uma estagiária, que chegou a chorar. Diante disso, apesar de Lívia nunca ter se referido diretamente a declarante com esse conteúdo que corria pelo WhatsApp. Diz que Lívia costumava falar também mal de pessoas gordas e das roupas das outras pessoas. Atitudes sempre reprováveis de convívio”, registra o inquérito.

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Lívia Braz era apresentadora do “DF Record”, mas foi demitida da emissora. (Foto: Reprodução/Record TV)

Por fim, o documento da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) conclui: “Não resta dúvida de que Lívia Cristina Braz Domenico praticou o delito de injúria qualificada, quando proferiu ofensas utilizando elementos referentes à raça e cor da vítima”.

O inquérito será encaminhado para o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que avaliará se o caso será ou não denunciado para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Uma audiência do MP já está marcada para o dia 9 de agosto.

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Defesa da vítima se manifesta

Leonardo Ranña, representante jurídico da vítima, se manifestou sobre o caso nesta terça-feira (26) ao hugogloss.com. “Livia foi indiciada diante da verificação de evidentes elementos de autoria e materialidade, após 2 anos de investigação. Agora espera-se que o MPDFT siga sua própria orientação, constante da NOTA TÉCNICA Nº 01/2021 – NED/NDH, para não apresentar proposta de acordo de não persecução penal, mas sim oferecer a denúncia pela prática de injúria racial, crime previsto no art.140, §3o, do Código Penal”, pontuou. Segundo a profissional que sofreu as ofensas, novas testemunhas também a procuraram para se colocar à disposição e prestar depoimentos sobre o que ocorreu.

Desabafo de estagiária

O caso investigado pela polícia não teria sido o único nos bastidores da Record TV. No último fim de semana, após a notícia do indiciamento de Lívia, a jornalista Nathália Coelho fez um desabafo em suas redes sociais e recordou um episódio que sentiu na própria pele. “Em 2020, quando aconteceu meu despertar racial, um dos primeiros episódios racistas que rememorei envolvia a Lívia. 2009. Estagiária. Dei um comando pelo rádio a pedido da minha coordenadora. Ela achou que eu tivesse gritado. E disse que era para eu me calar porque não sabia se eu vivia até me formar. Não vivia até me formar. Eu não entendi na época. Hoje eu entendo”, escreveu.

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Agora, com a repercussão dessa história, Nathália pediu por justiça no caso. “Passou e a equipe me deu toda assistência. Inclusive com muito orgulho de ser chefiada, entre os meus responsáveis, por duas mulheres negras. Ela [Lívia] foi obrigada a me pedir desculpas. E disse que estava me ensinando. O tempo passou. Mas o racismo não. Justiça”, concluiu a profissional. Veja abaixo:

Defesa de Lívia Braz se manifesta

A jornalista foi procurada dias atrás pela coluna Na Mira, do Metrópoles, e disse não estar ciente do indiciamento na ocasião. No entanto, seu advogado, Marcus Gusmão, afirmou que tudo se tratava de uma “história mal contada”. A defesa voltou a argumentar que Lívia não estaria no grupo do WhatsApp. “O que acontece é que essas mensagens foram trocadas dentro de um determinado grupo, grupo esse que ela nunca fez parte. Essas mensagens foram trocadas dentro desse contexto em que foram outras pessoas que falaram”, declarou.

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O advogado ainda alegou que Lívia não teria sido demitida pela denúncia de injúria racial. “Foi uma decisão da emissora, que não tinha mais interesse na questão do trabalho dela. Ao contrário das outras pessoas, que a motivação dada foi essa”, disse ele. A defesa também foi questionada sobre os xingamentos que a ex-apresentadora teria proferido fora dos chats, mas negou as acusações outra vez. “Essa não era uma conduta da Lívia. O trabalho dela sempre foi pautado pela ética”, comentou.

O caso veio à tona pela primeira vez em março de 2020, quando outros funcionários da Record TV também foram desligados em meio às denúncias de racismo nos bastidores da emissora. Saiba os detalhes e relembre a situação, clicando aqui.