Declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, na manhã desta quinta-feira (7), seguem repercutindo. Durante conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, o político atribuiu os termos “canalha” e “sem vergonha” aos profissionais da imprensa, e também deu seu parecer sobre os reflexos da última eleição nos Estados Unidos.
Na conversa, Jair voltou a dizer que houve fraude no resultado que elegeu Joe Biden como novo chefe de Estado norte-americano. A hipótese, entretanto, já foi descartada por autoridades locais. Sem apresentar quaisquer provas, Bolsonaro alegou que o mesmo problema acontece no sistema eletrônico brasileiro – teoria que também já foi rebatida em nosso país. “Aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 2022, vai acontecer a mesma coisa! A fraude existe! Mas aí a imprensa vai falar: ‘sem provas’. Eu não vou responder esses canalhas da imprensa mais”, esbravejou.
Durante a apresentação do programa “Brasil Urgente” da tarde de ontem, o apresentador José Luiz Datena chamou a atenção do mandatário pela declaração. “O presidente Jair Bolsonaro usou esse exemplo dos EUA pra dizer: ‘Olha, se não tiver voto impresso no Brasil em 2022, o que aconteceu lá, pode acontecer aqui’. Isso é um absurdo! É uma comparação esdruxula! Pare de defender esse lunático do Donald Trump! Se houvesse fraude (nas eleições de 2018), você não seria eleito, o senhor era um dos últimos colocados no começo”, disparou o jornalista.
Ainda durante o desabafo, Datena pediu respeito à democracia e à imprensa. “O senhor não pode ficar atacando a imprensa como ataca, respeite a democracia. Pense bem naquilo que o senhor fala, pois o que o senhor fala hoje tem que ser sustentado amanhã. Não adianta o senhor falar uma bobagem hoje e, no outro dia, colocar na boca da imprensa. Isso não cola mais. O que aconteceu nos Estados Unidos, não tem absolutamente nada a ver com as eleições de 2022 no Brasil. O que aconteceu lá foi um arranhão à democracia inaceitável, que a gente não pode engolir de jeito nenhum, porque se não, abriremos espaço a regimes de exceção”, afirmou.
O âncora também defendeu os colegas de profissão, especialmente William Bonner, que foi chamado de “canalha” por Bolsonaro. “Não aceito o termo ‘canalha’ pra mim. E não aceito o termo ‘canalha’ para a história da imprensa brasileira. Se não fosse a imprensa brasileira, hoje não viveríamos num país democrático. Respeito minha profissão, respeito meus colegas de trabalho. Nenhum de nós pode chegar em casa e ser questionado por nossos filhos: ‘o senhor é canalha, papai?’. Não. Eu não sou canalha, não aceito esse termo”, reiterou ele.
Assista ao trecho abaixo, a partir de 25’53”:
A declaração de Bolsonaro
Na manhã dessa quinta-feira (7), o presidente Jair Bolsonaro chamou o jornalista William Bonner de “canalha” e “sem vergonha”, durante conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. O ataque veio um dia após o âncora repercutir, no “Jornal Nacional”, uma fala do político criticando a imprensa.
Ainda nesta semana (5), Bonner também rebateu outra declaração de Bolsonaro, que apontou que o país “está quebrado” e culpou a mídia por provocar pânico e potencializar a pandemia. O contratado da Rede Globo destacou que os casos de Covid-19 têm aumentado desde dezembro e que o vírus já vitimou fatalmente mais de 197 mil brasileiros.
“Pessoal da imprensa, sem vergonha, William Bonner, sem vergonha, vai ter seringa para todo mundo. William Bonner, por que seu salário foi reduzido? Porque acabou a teta do governo! Vocês têm que criticar mesmo. Quase R$ 3 bilhões por ano para a imprensa e grande parte para vocês, acabou a grana”, disse, repetindo a alegação, sem provas, de que seu governo cortou o valor que seria gasto por gestões anteriores, em anúncios publicitários na grande imprensa.
Na sequência, Bolsonaro falou que não concorda com a repercussão, numa maneira geral, de sua decisão ao adiar a compra de seringas para aplicar imunizantes do coronavírus, alegando que os preços eram abusivos. “Vocês falam que não comprei seringa agora. Por que? Porque quando fui comprar, o preço dobrou. Se eu compro, vão falar que eu comprei superfaturado. Não dou essa chance para vocês. Brasil é um dos países que mais produz seringas. Não vai faltar seringa”, declarou.
Por fim, o chefe de Estado voltou a atacar Bonner. “Agora estão dizendo que vai faltar seringa para outras doenças. São canalhas. Bonner, você é o maior canalha que existe, William Bonner. São canalhas. O tempo todo mentindo”, acusou. Veja: