A Polícia Civil de São Paulo indiciou Márcio Santos, diretor de Recursos Humanos da Record, por suspeita de assédio sexual no ambiente de trabalho. Ele foi afastado da emissora em novembro passado, quando foi acusado pelo jornalista Elian Matte. Márcio ainda era voluntário na Igreja Universal do Reino de Deus, que também o afastou. O resultado da investigação da polícia foi enviado ao Ministério Público de São Paulo no final de fevereiro. Até o momento, porém, não foi designado um promotor para analisar o caso e decidir se a denúncia será apresentada.
Segundo a revista Piauí nesta sexta-feira (5), o indiciamento é baseado no artigo 216-A do Código Penal, “o de constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, valendo-se da posição de superior hierárquico”. A pena pode variar de um a dois anos de reclusão.
A denúncia foi registrada na Polícia Civil de São Paulo no dia 14 de novembro. Elian Matte, que é roteirista do programa “Câmera Record”, apresentado por Roberto Cabrini, revelou que a situação começou com convites de Santos para ele ir até a sua sala de reuniões.
De acordo com a Piauí, no boletim de ocorrência há descrições de como os “pedidos insistentes” feitos pelo diretor aconteciam. Após receber três chamados para ir até a sala, sendo o último para uma conversa mais pessoal, a interação entre os dois migrou para o WhatsApp. A partir daí, Santos passou a enviar mensagens supostamente com o teor sexual. O jornalista disse que respondia as mensagens, tentando se esquivar, com medo de ser demitido.
Segundo ele, Santos chegou a enviar fotos de Elian feitas através das câmeras de monitoramento da emissora, as quais só diretores da empresa têm acesso. Em uma das vezes, o diretor aproximou a câmera do volume da calça do jornalista e o questionou sobre o tamanho do órgão genital.
A partir daí, Matte apresentou sintomas da Síndrome de Burnout – distúrbio que causa estresse e esgotamento físico em situações de trabalho desgastante. Ele procurou a clínica médica oferecida pela Record, que confirmou o diagnóstico. Todavia, a médica que atendeu o jornalista alterou o atestado pouco tempo depois com “receio de ser demitida”. A médica Nicolle Taissun, do Centro Médico Hadassah, empresa que presta serviços de medicina do trabalho para a emissora do bispo Edir Macedo, já prestou depoimento.
O roteirista chegou a levar a situação para a cúpula da Record, incluindo Antonio Guerreiro, vice-presidente de jornalismo, Clovis Rabelo, diretor de estratégias e conteúdo de jornalismo, e Fabiano de Souza, gerente de produção executiva de jornalismo. Ele também falou com Luiz Claudio da Silva Costa, presidente da Record, por um e-mail que nunca foi respondido. A última tentativa foi o contato com Edinomar Galter, diretor jurídico, que o aconselhou a fazer um boletim de ocorrência.
O delegado Rogério Luis Marques, responsável pelo 23° Departamento de Polícia de Perdizes, teve acesso às cópias das mensagens enviadas pelo diretor. Com as provas em mãos e ouvindo mais de cinco testemunhas, o delegado reconheceu a autoria e a materialidade da denúncia.
Em ao menos uma das conversas, obtidas pela Piauí, Santos mostra que fotografou as telas do sistema interno de câmeras de segurança da Record, com um close na altura dos quadris do jornalista. “Olha!!! Que delícia acordar tendo uma visão deliciosa, eu quero”, escreveu o diretor, que completou: “Pergunta se está sensual? SIMMM, SEX!”.
Elian Matte segue como funcionário da Record, cumprindo suas funções em home office, já que os problemas de saúde que desenvolveu persistem, segundo os laudos psiquiátricos. O último diagnóstico, assinado pelo médico Paulo Henrique Soares Lima e datado de 31 de janeiro deste ano, atestou Síndrome de Burnout e estresse pós-traumático.
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