Nesta quarta-feira (5), Carina Pereira venceu, em 2ª instância, o processo milionário que move contra a TV Globo. Com isso, a emissora terá que desembolsar uma indenização de R$ 1,5 milhão para a ex-apresentadora. No processo, ela aponta que sofreu preconceito de gênero e assédio, além de ter acúmulo de funções, enquanto trabalhava na filial mineira da emissora.
A primeira condenação do processo havia acontecido em junho deste ano, mas a Globo recorreu do resultado. Na nova decisão, entretanto, a 9ª turma do Egrégio TRT-MG (Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais) concorda com o que já havia sido estabelecido.
De acordo com o site Na Telinha, que teve acesso ao novo documento, o desembargador Rodrigo Ribeiro Bueno entendeu que ficou comprovado que a ex-Globo Esporte foi vítima de assédio moral e de preconceito de gênero durante seu período na Globo. O magistrado ainda rebateu o argumento de que a apresentadora teria sido transferida de setor graças a uma promoção – uma das alegações da emissora. Para Bueno, a mudança de setor de Pereira foi fruto da perpetuação da assédio e preconceito que ela sofreu.
“Ademais, a transferência da autora ocorreu exatamente no sentido das denúncias que ela fazia quanto ao preconceito de gênero, ou seja: ela saiu do ‘Globo Esporte’ para o ‘Bom Dia Minas’. Desta forma, ficou comprovado que a reclamante foi vítima de assédio moral no trabalho e de preconceito de gênero, com reiteração da prática ao longo do tempo, culminando com a sua transferência de setor dentro da empresa“, afirma.
Por fim, o desembargador ainda comentou a atitude da Globo perante as acusações de Pereira. Antes de ser demitida, ela chegou a procurar o RH da empresa para denunciar as atitudes de seu chefe. Na época, a emissora alegou que fez investigações internas sobre o comportamento do diretor. O canal descartou a prática de assédio moral, concluindo que ele tinha apenas “uma conduta inapropriada no trato com seus colegas de trabalho”. O funcionário teria sido, então, advertido e dispensado sem justa-causa.
O magistrado, contudo, discorda. “Com base na prova oral colhida neste feito, conclui-se que a reclamada não tomou qualquer providência efetiva para apurar e solucionar os conflitos existentes no ambiente de trabalho e que prejudicaram a reclamante, trazendo-lhe dor íntima, sentimento de desvalia e desmotivação profissional“, lê-se em um trecho de sua decisão.
Depois da divulgação da decisão, a defesa de Pereira se pronunciou sobre o assunto. “Considerado que a decisão colegiada encerra a possibilidade de nova análise de fatos e provas, acredita que a condenação imposta não deverá sofrer alterações, ainda que possa ser interpostos novos recursos para as instâncias de natureza extraordinária“, declarou para o portal BHAZ.
Carina, que comandou a edição mineira do Globo Esporte entre 2017 e 2019, falou pela primeira vez sobre o caso em janeiro de 2021, quando postou um longo desabafo sobre seu período na emissora. Na ocasião, ela afirmou ter sido vítima de assédio moral na empresa, por parte de seus superiores.
“Sou muito grata pelos sete anos que vivi, mas eu não estava mais feliz. Já tem uns dois anos que aconteceram algumas coisas que foram somando. Enfrentei uma redação de esporte e não sabia que seria tão desafiador assim. Enfrentei muito preconceito por ser mulher e por não ser desse meio”, começou.
Em seu relato, a jornalista afirmou que recebia tratamento diferenciado por ser mulher, virando alvo de “piadinhas” dos colegas e, mais tarde, do próprio chefe. “Ele dizia: ‘Ah, a Carina consegue essa exclusiva porque é mulher, a Carina tem o que você não tem, oferece o que você não oferece…’ Quando era colega, eu retrucava, mas quando era o chefe, não, porque era alguém que eu respeitava e admirava. Eu ficava calada e as coisas foram piorando”, lembrou.
“O que ele fazia comigo, ele fazia com outros colegas. A gente resolveu denunciar. Primeiro, a gente foi no RH. Não adiantou muito. Depois a gente fez uma denúncia na ouvidoria da empresa. Nada aconteceu. Fui mudada de horário, de função. Para mim, as coisas pioraram. Eu era a única mulher dessa galera que denunciou e sinto que fui a única prejudicada”, destacou.
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