Na noite desta quarta-feira (17), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, derrubou a liminar que impedia a exibição do “Linha Direta” sobre o caso de Henry Borel Medeiros. A ação para barrar o programa foi movida pela defesa de Jairo Souza Santos Júnior, mais conhecido como Dr. Jairinho, acusado da morte do menino de 4 anos.
A advogada Flávia Fróes foi quem entrou com o pedido. O argumento usado era de que o programa poderia prejudicar o julgamento de Jairinho, que será submetido a júri popular e ainda não tem data marcada. A TV Globo recorreu, e o programa será exibido nesta quinta-feira, 18 de maio. O “Linha Direta” voltou ao ar no início deste mês, após 16 anos fora da programação do canal.
Segundo Gilmar Mendes em sua decisão, a defesa do político teve “o claro propósito de censurar a exibição da matéria jornalística de evidente interesse público”. “A eminente magistrada extrapola os limites de suas funções judicantes para se arvorar à condição de fiscal da qualidade da produção jornalística de emissoras de televisão”, continuou, se referindo à decisão da juíza Elizabeth Machado Louro, do Tribunal de Justiça do Rio, que havia concordado com os advogados de defesa e proibido a exibição do programa.
Para a produção, a Globo ouviu todos os envolvidos, entre eles o advogado Cláudio Dalledone, que representa o próprio Jairinho, e ainda o promotor Fábio Vieira. O programa também entrevistou o pai de Henry, Leniel Borel, que agradeceu à produção pelo destaque ao caso nas redes sociais.
“A luta por justiça pelo nosso Henry Borel não pode parar! São dois anos lutando incansavelmente para provar o óbvio e obter o mínimo que um crime hediondo deveria ter. A depressão tenta me consumir, parar-me, diariamente, mas preciso levantar, lutar, gritar, pedir ajuda. Obter justiça não é fácil no Brasil. No episódio do Linha Direta da próxima quinta-feira (18/05), Pedro Bial vai relembrar o caso e pedir justiça pelo meu filhinho’, informou.
“Quero agradecer ao Pedro Bial, toda direção, redação, atores… Todos que se empenharam em produzir este programa com muito carinho. É muito difícil como pai ter que lutar todo dia para provar o óbvio. Gratidão eterna à imprensa brasileira que nos ajuda pedindo justiça na proporção da brutalidade, da monstruosidade que aqueles dois cometeram. Henry sofreu muito naquela madrugada de 08 de Março de 2021 (…) é inadmissível qualquer tipo de impunidade após tantas provas noticiadas e comprovadas no processo”, escreveu ele. Confira a íntegra:
O processo em torno da morte de Henry não corre em segredo de Justiça e as audiências têm sido transmitidas, ao vivo na internet, pelo canal do Tribunal de Justiça do Rio. Liminares para impedir a exibição de reportagens sobre a investigação nunca foram concedidas anteriormente.
Relembre o caso
Monique Medeiros, mãe de Henry Borel, e o padrasto do garoto, o ex-vereador Jairinho, são réus pela morte do menino de 4 anos. Segundo a polícia, o padrasto torturou a criança, e a mãe sabia disso, mas não fez nada para intervir.
O menino faleceu na madrugada do dia 8 de março de 2021. Segundo laudo do Instituto Médico-Legal, divulgado em reportagem do jornal RJ2, o corpo do pequeno apresentou sinais de violência e o óbito foi causado por hemorragia interna e laceração hepática, decorrentes de uma ação contundente.
A perícia constatou ainda múltiplos hematomas no abdômen e membros superiores, infiltração hemorrágica na região frontal do crânio, edemas no encéfalo, grande quantidade de sangue no abdômen, contusão no rim à direita, trauma com contusão pulmonar, laceração hepática (no fígado) e hemorragia retroperitoneal. Henry, que passava a noite na casa da mãe, Monique Medeiros da Costa Almeida, e do padrasto, foi levado ao hospital pelos responsáveis, mas chegou ao local sem vida.
Segundo relatos divulgados pela revista Veja na época, o vereador teria um histórico de violência, com agressões ex-namoradas e os filhos delas. Alguns dos casos, inclusive, já haviam sido relatados à polícia. De acordo com a publicação, apesar de Jairinho aparentar ser muito gentil e educado, os relatos e conversas obtidos sugerem que o vereador teria um temperamento violento e quase “sádico” na sua vida privada.
Anteriormente, ele já havia sido denunciado por torturar uma menina de 4 anos entre 2011 e 2012, também filha de uma ex-companheira. Outro desses episódios teria acontecido com uma ex-namorada que tinha um filho de 5 anos na época em que ela se relacionou com Jairinho, entre 2014 e 2016.