O “Bahia Meio Dia” foi marcado por uma cena muito comovente nesta quarta-feira (27), Dia das Trabalhadoras Domésticas. O telejornal da afiliada da TV Globo em Salvador falou sobre o trabalho escravo na Bahia, e ouviu uma mulher negra que havia sido resgatada após 50 anos em condições análogas à escravidão. Madalena da Silva confessou que tinha medo de pegar na mão da repórter, que era branca.
Madalena passou 54 dos seus 62 anos nessas condições, e foi resgatada no mês passado. Ao longo desses anos, ela foi vítima de maus-tratos, não recebia salário, e ainda sofria com roubos, como quando seu nome era utilizado para empréstimos da filha de seus ex-patrões, e quando a mulher teria desviado R$ 20 mil da aposentadoria da senhora.
Após o resgate, Madalena mostrou a casa em que tem vivido atualmente, em Lauro de Freitas (BA), mas não conseguiu esconder as marcas deixadas pelo racismo e os maus-tratos que sofreu. “Eu fico com receio de pegar na sua mão branca”, disse ela aos prantos. “Mas por quê? Você tem medo de quê?”, questionou a repórter Adriana Oliveira, estendendo as mãos. “Porque ver a sua mão branca, eu pego a minha e boto em cima da sua, aí eu acho feio isso”, explicou a senhora.
Com toda sensibilidade, Adriana pegou a mão de Madalena e tentou tranquilizá-la. “Sua mão é linda, sua cor é linda. Olhe para mim: aqui não tem diferença”, afirmou a repórter. “Tem sim, olhe aí a sua cor e a minha cor”, respondeu a ex-empregada doméstica. “O tom é diferente, pode ter diferença de cor, mas você é mulher, eu sou mulher. Os mesmos direitos e o mesmo respeito que todo mundo tem comigo, tem que ter com você”, ressaltou a jornalista. As duas ainda se abraçaram nesse momento delicado. Assista:
https://twitter.com/Metropoles/status/1519748211963052033?s=20&t=XPzsxUFgbZuTh58QBvZiCQ
Mulher resgatada de escravidão teme tocar mão de repórter e as duas se abraçam pic.twitter.com/hdnDGR5aAQ
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) April 28, 2022
Nesta quinta-feira (28), o telejornal informou que Madalena receberá apoio psicológico. A auditora fiscal do trabalho Liane Durão contou que a senhora já foi encaminhada para um Centro de Combate ao Racismo e que fará seu primeiro atendimento psicossocial amanhã (29). Na próxima semana, profissionais darão início a um processo que pode ajudar a reconstruir a autoestima dela, quando ela poderá cuidar do cabelo, da sobrancelha, fazer maquiagem e receber cuidados estéticos.
Nas redes sociais, Adriana falou sobre o episódio e expressou como ficou abalada e comovida pela reação de sua entrevistada. “Ainda tô impactada com o encontro com Dona Madalena… Hoje vivi um dos momentos mais emocionantes nos 27 anos de profissão”, escreveu ela.
Em outra publicação, a jornalista lamentou tudo o que Madalena sofreu e como a escravidão, infelizmente, ainda está presente em muitos lugares pelo Brasil. “Estarrecedor. Inacreditável. Inaceitável. Violência brutal. Seria interminável a lista do que fizeram com Dona Madalena. A Bahia ocupa o 2º lugar em número de empregadores que submeteram trabalhadores a situações análogas à escravidão. Me senti tão pequena, tão impotente diante da dor de Dona Madalena. Vontade de acolher e nunca mais ter notícia de monstruosidades assim!”, desabafou Adriana.