Mais de dois anos após o lançamento de “13 Reasons Why”, a Netflix resolveu alterar a cena gráfica e explícita de suicídio da Hannah (Katherine Langford) da primeira temporada. A sequência havia levantado vários debates desde o começo por ser vista praticamente como um “tutorial de como suicidar”. Em um comunicado ao The Hollywood Reporter, a gigante de streaming e o criador da série, Brian Yorkey, explicaram a decisão.
“Nós ouvimos de muitos jovens que ’13 Reasons Why’ os encorajou a começarem conversas sobre assuntos difíceis como depressão e suicídio e a procurarem ajuda, muitas vezes pela primeira vez. Enquanto nos preparamos para lançar a terceira temporada até setembro, nós estivemos conscientes sobre o recorrente debate ao redor da série”, reconheceu a Netflix.
Em seguida, a empresa anunciou sua decisão: “Então, sob os conselhos de especialistas médicos, como o Dr. Christine Moutier, médico chefe oficial da Fundação Americana de Prevenção de Suicídio, nós decidimos junto com o criador Brian Yorkey e os produtores a editar a cena em que Hannah tira a própria vida na primeira temporada.”
A cena em questão, que originalmente tinha 3 minutos, aparecia no meio da season finale e mostrava Hannah entrando na banheira, com lágrimas escorrendo, e todos os atos consequentes desde ela se cortar até morrer, sem poupar sangue e dor. Clay, o personagem de Dylan Minnette, narrava toda a sequência, descrevendo precisamente o que aconteceu com a amiga ao conselheiro da escola.
A nova cena já foi atualizada em todos os sites do streaming ao redor do mundo e mostra Hannah se olhando profundamente no espelho antes de mudar diretamente para a reação de seus pais ao encontrá-la sem vida. De acordo com o ‘The Hollywood Reporter’, a Netflix pretende monitorar a internet e derrubar qualquer versão pirata da série que mostre a versão original completa.
“Era nossa esperança, ao transformar ’13 Reasons Why’ em série, contar uma história que ajudaria a audiência mais jovem a se sentir ouvida e também encorajar empatia em todos que assistiram, assim como o livro havia feito antes”, comentou o criador. “Nosso objetivo criativo ao retratar a realidade feia e dolorosa do suicídio em tantos detalhes gráficos na primeira temporada era contar a verdade sobre o horror de tal ato, e garantir que ninguém quisesse copiá-lo”, completou ele.
“Mas, enquanto ficamos prontos para lançar a temporada três, nós ouvimos comentários de preocupação sobre a cena do Dr. Christine Moutier e outros, e concordamos com a Netflix em reeditá-la… Nós acreditamos que a edição vai ajudar a série a fazer o bem para a maioria das pessoas enquanto atenua qualquer risco para espectadores jovens especialmente vulneráveis”, concluiu Yorkey.
Segundo o The Hollywood Reporter, a decisão neste momento não guardaria qualquer relação com o conteúdo da terceira temporada e, sim, com o fato de que essa nova leva de episódios atrairia novos espectadores que poderiam ser expostos à cena sem edições. Somadas a isso, conversas com especialistas, ajudaram a Netflix a tomar a iniciativa.
Um estudo do National Institutes of Health divulgado em abril deste ano relacionou um aumento no número de casos de suicídios com a série da Netflix. De acordo com a análise, houve um aumento de 28,9% de casos de suicídio entre as pessoas de 10 e 17 anos logo após “13 Reasons Why” ser lançado na plataforma. Um mês depois, o showrunner Brian Yorkey e a psiquiatra Rebecca Hedrick rebateram alguns argumentos da pesquisa, assegurando a dificuldade em se fazer essa associação.
Para a equipe envolvida na série, não daria para traçar esse paralelo sem se aprofundar nas estatísticas. “É sempre difícil entender a correlação entre esses tipos de estudo, dado que não se sabe quem assistiu à série ou ouviu falar sobre nas notícias”, disseram eles. “Especialistas também concordam que muitos fatores contribuem para as pessoas tirarem suas vidas. […] ‘Pode haver outros eventos ou fatores desmedidos que ocorreram durante o período do estudo, que podem estar associados ao aumento nesses números'”, adicionou a dupla, fazendo menção à explicação dos autores da pesquisa.
Outro argumento dado por Yorkey e Hedrick é de que os pesquisadores imaginavam que as taxas aumentariam para as meninas, visto que a cena é protagonizada por uma garota. Contudo, o aumento nas estatísticas foi registrado principalmente para os meninos, que, inclusive, infelizmente já estavam crescendo assim antes da estreia da produção. “Para os garotos, o aumento começou antes de o show estrear. […] As contas dos suicídios para garotas adolescentes têm sido mais estáveis na última década do que o dos garotos, que consistentemente têm crescido. O maior número registrado das meninas foi em novembro de 2016, bem antes que qualquer um tivesse assistido a ’13 Reasons Why'”, analisaram no artigo.
Por fim, ambos creem que a série é necessária por ter trazido o debate à tona, fazendo com que conversas sobre o assunto sejam mais frequentes e, como consequência, mais pessoas sejam apoiadas quando necessário. “Depressão e suicídio têm crescido por muitos anos, então é importante mantermos os diálogos acontecendo para evitar tabus que estigmatizam as pessoas e as impede de pedir ajuda”, defenderam.
“’13 Reasons Why’ não é a primeira série a abordar esses tópicos pesados, nem a primeira a ser realista na sua narrativa. Mas acreditamos que foi o jeito honesto e corajoso que a série olhou para o bullying, o estupro e o suicídio que contribuiu para que o mundo falasse – para o bem”, pontuaram os dois.
IMPORTANTE: Depressão e bullying são assuntos super sérios e podem atingir qualquer pessoa. Se você ou alguém que você conhece está passando por dificuldades emocionais ou considerando o suicídio, ligue para o ‘Centro de Valorização da Vida’ pelo número 188. O CVV realiza apoio emocional, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Para mais informações, clique aqui.