Neto se revolta com caso de Mariana Ferrer, critica decisão da Justiça ao vivo na Band e desabafa: “Vamos partir pra cima” — assista!

A absolvição de André de Camargo Aranha no caso de Mariana Ferrer, sob o pretexto de que “não havia intenção de estuprar” – algo como um “estupro culposo” – causou revolta nos mais diversos setores. Nesta quarta-feira (4), o apresentador Neto demonstrou sua ira quanto ao caso no início do “Donos da Bola”, programa esportivo da Band.

Neto fez um discurso inflamado, chutou agressivamente uma bola no estúdio, criticou a postura da Justiça brasileira e a ideia desse “estupro sem intenção”. “Estupro culposo é o caramba, velho. Tá de sacanagem? Com todo mundo, rapaz? Todas as televisões tinham que bater forte nisso, todos os programas. A gente tinha que sair na rua. É que agora não pode, mas tinha que fazer igual fazem na Venezuela, quem não é comunista. Sair na rua, as pessoas morrem por causa da democracia, mostrar indignação. Não é só no Instagram. É aqui, ó”, bradou ele.

Craque Neto não escondeu sua revolta logo no início do “Donos da Bola”. (Foto: Reprodução/Band)

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“Se fosse estupro culposo da minha filha, da sua mãe, da sua vó, você ia tá só no Instagram? Não! Vamos fazer mais! Vamos partir pra cima, não vamos abaixar a cabeça. Nem tem isso de estupro culposo. Se eu pegar na perna de uma mulher ou uma mulher pegar na perna de um homem sem permissão, é estupro. Que por sinal, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada. É futebol que a gente faz, mas a indignação é incrível”, acrescentou ele, citando dados de 2015 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Infelizmente, na edição de 2020, o Brasil tem um estupro a cada 8 minutos.

Assista ao vídeo aqui:

Neto ainda voltou sua atenção para André de Camargo Aranha. “É um empresário, hein? Empresário de jogador. Que, por sinal, participou da negociação do Gabriel Jesus. Deve ter ganho uma grana violenta, né?”, afirmou o apresentador, que seguiu criticando a postura da Justiça brasileira, argumentando que homens brancos e ricos costumam se safar de eventuais ilegalidades.

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“Ah, se fosse um negrão, né? Se fosse um Mike Tyson, se fosse um Edilson, ah, se fosse um pobre, né? Ah, se fosse o Pelé. Tava no xilindró, meu irmão. Porque você vai nas cadeias e só tem negro e pobre. Mas é só negro e pobre que rouba esse país?! Porque nos governadores do Rio de Janeiro não tem nenhum negro”, revoltou-se Neto. Confira o programa na íntegra abaixo (com o discurso logo nos minutos iniciais):

Essa não é a primeira vez que Neto solta o verbo e manifesta sua revolta em casos de violência sexual. Recentemente, o apresentador detonou a contratação de Robinho pelo Santos Futebol Clube, pelo fato de o jogador ter sido condenado por estupro em primeira instância na Itália, em 2017.

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“Não é por que é famoso, celebridade que pode fazer o que quiser da vida. Ninguém pode fazer isso. E condenado é condenado. Justiça é justiça. Lei é lei para todo mundo. Não é porque é jogador de futebol, não”, disparou ele. “Esse país precisa mudar. Depois de tudo o que tá acontecendo em relação à Covid-19, as pessoas morrendo. Eu fiquei perto da morte, e não tenho medo da morte. Vocês estão de brincadeira”, completou. Relembre o vídeo:

Cenas lamentáveis no caso Mari Ferrer

Ainda em setembro, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) voltou atrás e declarou improcedente o caso de Mariana Ferrer, por falta de provas, a denúncia contra André de Camargo Aranha, acusado de estuprar a blogueira. Vale lembrar, no entanto, que exames realizados por autoridades comprovaram que houve, sim, conjunção carnal e ruptura do hímen da vítima, assim como o sêmen do homem de 43 anos foi encontrado na calcinha da influencer.

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O promotor Thiago Carriço de Oliveira, por sua vez, aceitou a argumentação de que o acusado cometeu o que foi denominado como “estupro culposo”, que seria um ‘estupro em que não há a intenção de estuprar’. A infração não tem nenhum precedente. Trata-se de uma sentença inédita na história desse país, e de um crime jamais previsto na lei. Como ninguém pode ser condenado por uma infração que não é definida judicialmente, o empresário foi absolvido.

Durante audiência, Mariana Ferrer foi humilhada e menosprezada pelo advogado de André Aranha. (Foto: Reprodução/ND)

O site The Intercept Brasil teve acesso ao vídeo da audiência em questão, realizada remotamente em julho, e o divulgou nesta terça (3). Na sessão, o advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho, de André de Camargo, chegou a mostrar cópias de fotos sensuais produzidas pela jovem enquanto modelo profissional. O gesto foi interpretado por internautas como uma tentativa de se escorar no datado e misógino argumento de que a mulher, ao usar roupas curtas, pede para ser violada ou estuprada.

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A gravação é um verdadeiro show de falta de profissionalismo, empatia e covardia. Cláudio Gastão utiliza de argumentos baixos, coloca em xeque o caráter de Mariana baseado em poses fotográficas e roupas usadas por ela. Os diálogos menosprezando a jovem são inacreditáveis. “Mariana, vamos ser sinceros, fala a verdade. Tu trabalhava no café, perdeu o emprego, está com o aluguel atrasado há 7 meses, era uma desconhecida. Isso é seu ganha pão, né Mariana? A verdade é essa. É seu ganha pão, a desgraça dos outros. Manipular essa história de ser virgem…”, disse.

Em um dos momentos mais comoventes, Ferrer fica aos prantos e implora por respeito. “Eu gostaria de respeito, doutor, excelentíssimo, eu tô implorando por respeito, no mínimo! Nem os acusados são tratados da forma que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente! Nem os acusados de assassinato são tratados como estou sendo tratada! Eu sou uma pessoa ilibada, nunca cometi crime contra ninguém”, falou.

https://www.youtube.com/watch?v=X–JAQShBBw&feature=emb_logo

Juiz é denunciado ao CNJ

Após o Intercept Brasil divulgar vídeos revoltantes da audiência, o juiz responsável pelo caso, Rudson Marcos, foi denunciado na Corregedoria Nacional de Justiça nesta terça-feira (3). Além disso, o ministro do STF, Gilmar Mendes, cobrou explicações sobre as cenas “estarrecedoras” que foram vistas hoje.

André Camargo Aranha e o juiz Rudson Marcos. (Fotos: Reprodução)

Integrante do Conselho Nacional de Justiça, o conselheiro Henrique Ávila acionou a CNJ com uma reclamação oficial contra o juiz do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Rudson Marcos. O magistrado tomou como base as gravações que vieram à tona na matéria do Intercept Brasil. “As chocantes imagens do vídeo mostram o que equivale a uma sessão de tortura psicológica no curso de uma solenidade processual. A vítima, em seu depoimento, é atacada verbalmente por Cláudio Gastão da Rosa Filho, advogado do réu”, escreveu no documento.

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Henrique fez questão de ressaltar as atrocidades que foram feitas contra Mariana no julgamento, que foi realizado por chamada de vídeo. “Fotos da vítima são classificadas como ‘ginecológicas’; seu choro, como ‘dissimulado, falso’; sua exasperação, como ‘lagrima de crocodilo’. Afirma o advogado que não deseja ter uma filha ou que seu filho se relacione com alguém do ‘nível’ da vítima e que o ‘ganha-pão’ da vítima é a ‘desgraça dos outros’”, destacou.

Para Henrique Ávila, o juiz Rudson Marcos não teve uma postura profissional para cessar os ataques e humilhações que Ferrer estava sofrendo. “O magistrado, ao não intervir, aquiesce com a violência cometida contra quem já teria sofrido repugnante abuso sexual. A vítima, ao clamar pela intervenção do magistrado, afirma, com razão, que o tratamento a ela oferecido não é digno nem aos acusados de crimes hediondos”, lamentou. Henrique finalizou o documento pedindo “a imediata e completa apuração da conduta do juiz”.

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Mas não para por aí… A repercussão do vídeo do julgamento chegou ao conhecimento de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal. “As cenas da audiência de Mariana Ferrer são estarrecedoras. O sistema de Justiça deve ser instrumento de acolhimento, jamais de tortura e humilhação. Os órgãos de correição devem apurar a responsabilidade dos agentes envolvidos, inclusive daqueles que se omitiram”, compartilhou em sua conta no Twitter.

Estupro de vulnerável

Em julho de 2019, o Ministério Público de Santa Catarina seguiu o mesmo entendimento da polícia civil no inquérito e defendeu que Mariana não tinha discernimento para consentir com a relação sexual – que teria ocorrido em uma área privada de uma festa, em 15 de dezembro de 2018, no beach club Café de La Musique, em Jurerê Internacional, em Florianópolis.

André Camargo de Aranha, então, foi acusado pelo crime de estupro de vulnerável, que prevê situações de “conjunção carnal” ou “prática de outro ato libidinoso” com menor de 14 anos ou “com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”.

André de Camargo Aranha foi indiciado por “estupro de vulnerável” em 2019, no caso de Mariana Ferrer. (Foto: Reprodução/Instagram/Twitter)

Em sua versão, a jovem aponta que teria sido dopada e, por isso, não se lembrava do que havia acontecido e, consequentemente, não poderia ter consentido com a relação. Áudios gravados por ela no celular naquele momento também foram juntados ao inquérito policial. Neles, ela pedia, com a voz embaraçada, ajuda a pelo menos três amigos.

Saiba todos os detalhes do caso, da sua repercussão perante às esferas da Justiça, e da conclusão do processo, clicando aqui.