Hugo Gloss

No “Encontro”, Fátima Bernardes não consegue conter as lágrimas ao ouvir depoimento forte de mãe de Kathlen, grávida morta a tiros – assista

De cortar o coração… Na manhã desta quinta-feira (10), a apresentadora Fátima Bernardes não conseguiu conter as lágrimas enquanto conduzia uma entrevista emocionante com Jaqueline de Oliveira Lopes e Luciano Romeu, pais de Kathlen Romeu, grávida que faleceu após ser atingida durante um tiroteio no conjunto de favelas Complexo do Lins, na zona norte do Rio, na última terça-feira (8).

Apenas dois dias após o assassinato da filha, a mulher abriu o coração e implorou, ao vivo, pela punição dos responsáveis pela tragédia durante o “Encontro”. “Eu não tenho mais vontade de viver. Tenho vontade de morrer. Ela era o meu tudo”, lamentou Jaqueline, aos prantos. Revoltada, a mãe ainda aproveitou o espaço no matinal da TV Globo para enfatizar a forma cruel como os negros são tratados no Brasil. “Parece que tudo que ensinam para a gente, que você tem que estudar, se misturar com pessoas de bem, se formar. Parece que é sempre perdido no meio do caminho. Parece que preto e favelado tem que ficar se reafirmando a todo momento, a gente nunca é respeitado por nada. Sempre tem uma desculpa para justificar o injustificável”, declarou.

O momento impactante não parou por aí. Muito consternada com o falecimento de Kathlen, que estava grávida de quatro meses e tinha apenas 24 anos, Jaqueline revelou sua dificuldade em aceitar a perda imensurável. “É inconcebível ver a minha filha dentro de um caixão. É inconcebível ver a minha filha dentro de um saco preto no IML. A minha filha era grande, Fátima. Minha filha era grandiosa, era uma luz. Eu comparei ela ao Paulo Gustavo. (…) Estou tentando inventar uma desculpa na minha cabeça para eu seguir. Sou covarde, não quero aceitar que ela morreu. E ela não morreu, o nome Kathlen Romeu tem que ser lembrado como forma de justiça para outras mães, meninas, mulheres”, declarou.

Em meio à conversa, a mulher também fez um pedido desesperado. “Se fosse o filho de um desembargador, de um juiz, teria resposta imediata. Então, eu quero uma resposta. A minha filha não é filha de um desembargador, de um juiz, mas ela é minha filha. Então, por favor, a única ajuda que eu peço é orações pela minha filha e a justiça pela minha filha. Ela não pode ter morrido em vão, Fátima. Ela era grande demais para ter morrido em vão. Ela tem que ajudar outras pessoas, ela tem que ajudar outras vidas. Não podem nos calar. (…) Eu peço a todos os repórteres, não escutem só um lado, me ajudem! Ajudem outras mães. Tem o outro lado. Vidas negras e faveladas importam muito”, chorou ela.

https://twitter.com/EncontroFatima/status/1402994551489396747?s=20

O desabafo inconsolável de Jaqueline arrancou lágrimas de Fátima que, aos prantos e com a voz embargada, tentou oferecer conforto à entrevistada. “Só tenho que pedir a Deus para orientar e ajudar vocês”, disse a comunicadora. Na sequência, Jaqueline chegou a se punir por estar sofrendo tanto com a morte da filha. Neste momento, a jornalista voltou a se pronunciar. “Você não é covarde. Vocês são muito corajosos. Uma família negra viver hoje em dia é um ato de coragem e resistência”, reforçou.

Fátima então incentivou que a população se manifestasse contra a violência contra os negros no Rio de Janeiro. “Seria tão bom ver manifestações generalizadas de revolta contra uma situação como essa, que não se limitasse ao protesto que é feito na comunidade”, disse ela. A apresentadora pediu que o caso seja uma comoção geral no país. “Tem que ser uma causa de todos. Vidas Negras importam”, concluiu.

A sensibilidade da jornalista ao conduzir a entrevista não passou despercebida na web. Durante a exibição do programa, internautas tomaram o Twitter para elogiar a gentileza de Fátima. “A empatia e o amor que a menina Fátima vem demonstrando no caso de Kathlen no Encontro hoje tá quase palpável”, escreveu um. “Gente, que lindo cheguei a me arrepiar assistindo encontro com Fatima Bernardes. Pela primeira vez vi na TV Globo um pedido de manifestação pelas vidas negras e faveladas”, comentou outro.

“Poucos entrevistadores têm a sensibilidade da Fátima pra conversar com pessoas que vivem momentos tenebrosos como é o caso dos pais da Kathlen. E a importância dos relatos deles em rede nacional é imensurável. Esse não é mais um caso isolado”, escreveu um terceiro. Assista à reportagem completa. Ficam aqui os nossos sentimentos à Jaqueline e a toda a família de Kathlen.

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