Ana Maria Braga foi a convidada do “Roda Viva”, da TV Cultura, nessa segunda-feira (21) e falou sobre diversos temas que cercam sua vida de forma aberta e honesta. A apresentadora revelou o motivo de sua saída da Record TV nos anos 1990, comentou a atual relação com a Rede Globo e disse que não tem planos de se aposentar tão cedo.
A estrela da TV brasileira também se abriu sobre sua mais recente vitória contra o câncer e a sensação de enfrentar a doença pela quarta vez. Ela confessou que ainda está travando uma luta interna para parar de fumar e contou um caso de assédio que sofreu de um supervisor dentro do trabalho no passado.
Assédio no trabalho
O assunto do assédio acabou surgindo pela primeira vez durante um mal-entendido nas perguntas. O colunista Paulo Sampaio, do ‘UOL’, trouxe à tona as recentes denúncias de ‘ex-funcionários da “Vogue Brasil” por assédios e xingamentos de diretora. Ele, então, questionou a apresentadora se ela havia vivenciado alguma experiência parecida quando trabalhava na editora Abril.
Sem saber a fundo do que se tratavam as acusações, Ana Maria achou que seria um caso de assédio de homens contra mulheres. “Eu cheguei aqui em São Paulo, na década de 70, quase 80, antes da Tupi quebrar e fechar. E naquela época, sem dúvida nenhuma, tinham diretores, não só de TV, mas de empresas, de rádio, jornal, e máquina de fazer parafuso. Qualquer coisa onde a mulher trabalhasse, e ainda mais no mercado de audiovisual, porque era novo e glamourizado, sem dúvida nenhuma existiam pessoas que não estavam apaixonadas e que eram assediadas”, declarou ela.
Em seguida, a artista de 71 anos revelou que ela mesma já havia vivenciado um caso do tipo. “Acho que o mundo está mudando com relação a isso. Eu sabia de algumas histórias, sofri uma dessas ameaças, mas nunca deixei de dizer, e repudio isso enormemente. Naquela época fui falar com o [meu] chefe e ele fez de conta que não acreditou em mim, o cara continuou lá”, prosseguiu.
Neste momento, o colunista interveio. “Mas eu falo de assédio moral, eu não tô falando de assédio sexual”, declarou ele. Mas Ana Maria não se abalou e eles tiveram uma pequena discussão. “Mas o assédio moral vem junto com o assédio sexual”, rebateu ela. “Nem sempre”, discordou Paulo. “Da mesma forma que o cara não consegue alguma coisa que queira, ele pode assediar a pessoa de uma forma diferente, de desacreditar e falar de uma forma que não aconteceu”, explicou a apresentadora.
O entrevistador, então, deu mais detalhes do caso em questão e explicou o que quis dizer com a pergunta. “Nesse caso que eu tô me referindo, era uma mulher, não era um cara. E ela maltratava as pessoas, os funcionários. Por isso que eu falei de assédio moral. Lá, naquele tempo da Abril, você lidava com muitas [revistas] femininas, e talvez você tenha tido essa experiência”, ponderou ele.
“Não, na Abril não aconteceu nada comigo em relação a isso. Não tive assédio moral, nenhum. Eu sempre fui muito respeitada na editora. Eu fui uma profissional que dei muita rentabilidade pra empresa, por isso que eu fiquei lá nove anos. Eu tinha, entre as pessoas que trabalhavam comigo, mulheres magníficas”, elogiou a estrela. “Eu não conheço bem essa história que você tá falando e citou, mas eu repudio”, acrescentou.
Em relação ao cenário de assédios em empresas no geral, ela vê uma melhora suave. “Acho que a gente tem avançado cada vez mais, porque as mulheres têm se fortalecido, sem vergonha mais de ser ‘culpada’ por ser assediada. Então eu acredito que já tenha mudado e acredito que cada vez menos, quando acontece um homem com uma mulher, esse tipo de assédio possa acontecer e, se acontecer, que seja punido e seja mostrado às claras no ambiente que for. E que a mulher não tenha medo de ser penalizada porque tá contando uma verdade”, concluiu ela.
Por conta do mal-entendido, o assédio que a própria apresentadora havia vivido ficou esquecido e, então, foi resgatado pela jornalista Janaína Nunes, da Record TV, que pediu mais detalhes do caso. “Eu estava na sala de um diretor, ele tinha me pedido um projeto que seria muito bom para a televisão brasileira. Fiz um projeto lindo, fiquei 15 dias trabalhando no projeto, acreditando que pudesse sair do programa da tarde e ter um programa à noite. Ele tinha me dito ‘você pode ser a Hebe Camargo amanhã'”, relembrou ela, sem citar nomes.
“Ele me olhou, levantou da mesa e veio para cima de mim. Fiquei absolutamente estupefata. Ele falou ‘venha cá’. Eu fugi, saí da sala dele com tanto ímpeto, que tinha uma escada, despenquei da escada do nono andar até o oitavo andar, que era o departamento comercial. Quebrei o braço”, lamentou. No entanto, o caso passou impune. “Eram os Diários Associados, na época. Aí eu fui e marquei uma reunião pra falar daquele indivíduo pro chefe geral. Mas ficou como tava. Ele continuou sendo o que ele era lá, não [foi punido]”, afirmou a apresentadora.
Ana Maria acrescentou que, felizmente, não precisou mais conviver com ele no trabalho, mas acabou encontrando-o anos depois em um restaurante. “Passaram-se muitos anos, eu estava num restaurante aqui, em São Paulo, que até já fechou. Eu estava saindo toda linda e formosa com um diretor de empresa e essa figura estava adentrando ao recinto. Os dois [o empresário e ele] se conheciam. O cara parou e cumprimentou. E quando olhou para mim, baixou o olho e se mandou”, recordou.
Superação do câncer e luta contra o cigarro
No começo deste ano, a apresentadora do “Mais Você”, revelou que havia sido diagnosticada com câncer de pulmão. Felizmente, em abril, Ana Maria anunciou que estava curada. Mesmo depois de três batalhas vencidas contra a doença, ela contou que a sensação de medo ainda foi a mesma quando soube do mais recente diagnóstico.
“Cada vez, a cada susto, quando você acha que já se curou definitivamente e que o câncer não vai mais aparecer, ele volta em outra área e de outra forma. Eu achei que eu fosse olhar diferente, mas é o mesmo susto, a mesma sensação de que você não sabe o amanhã. A sensação é sempre de ‘nossa, vai acontecer um desastre’. É um baque danado [a cada descoberta] e aí você se refaz desse susto, pensa um pouco e fala: ‘Vamos guerrear'”, explicou a estrela.
“Eu adoro viver. Me disseram lá atrás: ‘Olha, você tem que ter na cabeça que está entrando numa guerra. E, como toda guerra, tem soldado bom e soldado ruim, soldado que morre e que sobrevive. Você tem que imaginar que estou te dando as armas para lutar. Se fizer um bom uso dessas armas você pode vencer a guerra, que nós estamos entrando juntos’. É um pensamento que eu nunca mais esqueci e que eu uso não só pro câncer, mas pra todas as coisas da vida”, dividiu ela.
Dentro do assunto, Ana Maria foi questionada sobre o seu vício com cigarro e admitiu que ainda trava uma guerra diária. “Como aquelas pessoas que dependem de uma droga, seja procurando ajuda no [grupo] Alcoólicos Anônimos, ou seja você se internando numa clínica, a gente não pode dizer ‘nunca’. Eu falo ‘hoje eu não fumo, hoje estou sem fumar’. Tem dias que venço essa guerra, tem dias que não venço, e não tenho vergonha nenhuma de dizer isso”, refletiu.
“Porque, apesar de guerrear bem, eu sou e continuo dependente do fumo, todo dia de manhã eu levanto falando: ‘Não vou fumar’, mas ainda não consegui chegar e olhar no seu olho e dizer com verdade, ‘olha, faz 4 meses que não fumo’. Não posso falar isso porque seria uma mentira”, confessou a estrela, honesta.
Saída da Record e relação com a Globo
Após ser alvo de boatos de que estaria saindo da Rede Globo, Ana Maria foi questionada sobre o que a faria cogitar alguma mudança. “Eu tenho amigos em todas as emissoras do Brasil. Obviamente já recebi ao longo desses 20 anos umas perguntas assim: ‘ah, o que precisaria para a gente trazer você para tal lugar?’ Eu falo, ‘Olha, não preciso de nada, nem especule, porque o dia que estiver insatisfeita no lugar que estou, coisa que nunca aconteceu, vocês vão ser os primeiros a saber’, como aconteceu na Record”, explicou ela.
Foi então que a apresentadora contou detalhes de uma briga que teve com o bispo Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente artístico da Record, e que culminou com a sua saída definitiva da emissora, em 1999. “Eu tive uma briga com o bispo Gonçalves por conta de um pagamento. Aí a gente ficou chateado um com outro. Era sexta-feira à tarde. Ele me olhou e disse: ‘Você não precisa voltar mais’. Eu falei: ‘Não quer que eu faço semana que vem?’. Ele falou, ‘não’! Aí eu fui embora e não voltei mais”, relembrou ela.
Após a discussão, Ana se transferiu para a Globo, onde apresentaria o “Mais Você”. Um dos assuntos abordados no “Roda Viva” foi a recente polêmica da mudança do programa do Rio de Janeiro para São Paulo. No entanto, segundo Namaria, o projeto já estava sendo planejado há um ano. “Uma das coisas que eu tenho mais tranquilidade é minha relação com a direção da Globo. Sempre tive as portas abertas e sempre tive um diálogo muito honesto. Tudo o que conversei com meus chefes nunca deixou de ser cumprido ao pé da letra”, pontuou.
“Nunca tive uma repreensão da Rede Globo nesses 21 anos. Eu sei o que ela espera de mim, sei os meus limites. Agora, por exemplo, quando começaram a falar que eu não voltava mais, eu sabia exatamente o que foi tratado e qual seria o futuro. Há um ano, a Globo estava se preparando comigo sobre a volta para São Paulo, que é um grande desejo que eu tinha. É minha casa, eu não tive insegurança de dizer que precisava procurar outra emissora. É uma especulação, não me atinge, eu tô fazendo projeto. Como é que eu posso ficar insegura? Nunca teve isso, só acontece fora, comigo não”, garantiu.
Aposentadoria
Aos 71 anos, Namaria garantiu que ainda está longe de querer se aposentar e provavelmente só deixará de trabalhar quando os telespectadores falarem que ela está “gagá”. “Eu tenho pensado muito nisso, os meus filhos falam isso, os maridos, os amigos. Por que essa vida? Não é uma vida fácil. Parece que tem uma torcida [para que eu pare], não sei muito bem porque”, ponderou ela.
No entanto, a rotina de aposentada não tem um apelo tão grande para ela. “Eu paro e penso: acho que eu podia mesmo levantar às 8h da manhã todo dia, fazer ginástica, sair pra almoçar com as amigas, ir pra fazenda e ficar lá uma semana. Mas quando eu tô lá, eu fico pensando: o que eu ia ficar fazendo mais do que uma semana? Eu não consigo me imaginar nessa posição de jeito nenhum, porque eu adoro o que eu faço. Adoro”, contou.
Ela acrescentou: “É um prazer tão grande, por que eu vou me furtar disso? A não ser que alguém fale: ‘Chega, não dá mais, você tá gagá’. Mas enquanto for bom e as pessoas gostarem de ver as bobagens que eu falo, eu vou continuar lá porque não sei o que fazer fora disso”.
Assista ao programa na íntegra: