Adolescência: Criador explica o final do novo fenômeno da Netflix

No topo das séries mais assistidas da Netflix no Brasil, a produção acompanha a história de Jamie, jovem na mira de uma investigação criminal pelo assassinato de uma colega de classe

ouça este conteúdo
play_circle_outline pause_circle_outline

[ATENÇÃO: O texto abaixo contém spoilers sobre o final de “Adolescência”, série da Netflix]

Adolescência“, nova produção britânica da Netflix, tornou-se um fenômeno global e já é a série mais assistida pelos brasileiros. A trama gira em torno de um crime supostamente cometido por um garoto de 13 anos. Em entrevista ao site Tudum, os co-criadores Stephen Graham e Jack Thorne, e o diretor Philip Barantini, revelaram detalhes dos bastidores do desfecho da produção.

Na história, a polícia invade a casa da família de Jamie Miller (Owen Cooper) e prende o adolescente pelo assassinato de sua colega de classe, Katie (Emilia Holliday). Ao longo dos quatro episódios, acompanhamos a investigação e o julgamento do protagonista.

O último episódio culmina em uma cena de partir o coração: Eddie Miller (interpretado pelo próprio Stephen Graham) beija o ursinho de pelúcia de seu filho Jamie, pedindo desculpas ao brinquedo como se estivesse se dirigindo ao próprio filho. O momento ocorre logo após Jamie revelar sua decisão de mudar a confissão para “culpado”, aceitando seu destino pelo assassinato de Katie.

A revelação de Jamie acontece durante a tentativa da família Miller de celebrar o aniversário de 50 anos de Eddie, 13 meses após a prisão do adolescente. Contudo, a comemoração é marcada por uma série de eventos desastrosos: o carro da família é vandalizado, um encontro inesperado com um incel gera tensão, e, por fim, a ligação de Jamie confirmando sua mudança de confissão encerra qualquer esperança de um futuro diferente.

A produção figura no topo das mais assistidas pelos brasileiros. (Foto: Reprodução/Netflix)

Durante os três primeiros episódios, Jamie insiste para que seu pai acredite em sua inocência. No episódio 3, ele chega a implorar violentamente para que a psicóloga Briony Ariston (Erin Doherty) diga a Eddie que ele “está bem”. Segundo o co-criador Jack Thorne, essa obsessão com a opinião do pai reflete sua incapacidade de aceitar as consequências de seus atos.

Jamie foi influenciado pela “propaganda incel”, que o convenceu de que sua “feiura” impediria qualquer afeto romântico ou sexual. Somente ao final da série, ele percebe que suas ações foram irreversíveis. Thorne explica: “Jamie sabe o que fez, está apavorado e ainda não assimilou o quão definitivo foi. Ele quer que seu pai lhe diga: ‘Você está seguro e eu te amo’. Mas seu pai nunca poderá lhe dar isso novamente”.

Jamie (Owen Cooper) e Eddie (Stephen Graham) em cena da produção (Foto: Reprodução/Netflix)

Continua depois da Publicidade

A evolução de Jamie se intensifica no Episódio 4, quando ele finalmente aceita sua culpa. Segundo Thorne, esse é o primeiro momento de verdadeira clareza do adolescente desde o início da série: “Ele agora entende o que fez e qual pode ser seu futuro. Isso lhe permite colocar seus sentimentos em uma caixa e fechá-la sobre si mesmo”.

Para Owen Cooper, que interpreta Jamie, esse é o primeiro momento de honestidade do personagem: “Jamie está sempre tentando impressionar o pai e garantir que ele tenha orgulho dele, mas nunca consegue. Ele se preocupa com sua confissão, mas ainda mais com o que Eddie pensa. Embora não queira decepcionar sua família, Eddie é o centro de seu mundo”.

Desde o início, os criadores Graham e Thorne queriam que a série focasse nos Miller, explorando as repercussões desse ato horrível e evitando que os espectadores os vissem como uma família disfuncional. Segundo Graham, era essencial mostrar que Eddie não é um homem violento: “Ele pode não ser excessivamente carinhoso, mas é um pai trabalhador, que sai cedo, volta tarde e coloca comida na mesa. Ele traz o máximo de amor que pode”.

Thorne reforça que o desfecho é a peça final do quebra-cabeça para entender Jamie: “Você obtém uma nova perspectiva sobre Eddie. Precisa compreender como ele permitiu que seu filho se visse ausente, o que ensinou e o que deixou de ensinar”.

Continua depois da Publicidade

Para o diretor Philip Barantini, a cena da confissão e o foco na família foram cruciais para encerrar a história. Ele compara o momento ao de uma família ouvindo de um médico que não há mais esperança para um ente querido em suporte vital. “Estar com a família novamente é o apelo emocional da série. Cada membro tenta apoiar o outro, mas, no processo, acabam se destruindo. É realmente de partir o coração assistir a essa família se desfazendo”, ressaltou.

“Adolescência” é encerrada onde começou: no quarto de Jamie. Após a decisão do filho, Eddie se senta ali, sem saber o que fazer, consumido pela dor e pela culpa. Stephen Graham explica: “Queríamos que a jornada terminasse onde começou”.

No roteiro original, Eddie deveria apenas se deitar na cama do filho e puxar as cobertas sobre si, simbolizando o próprio Jamie preso. No entanto, durante os ensaios, Graham optou por beijar o ursinho de pelúcia e cobri-lo com cuidado. Para Barantini, esse toque foi perfeito: “Ensaiamos isso, e ficou ótimo. Mas senti que havia algo sobre ele cobrir o ursinho de Jamie. Essa é a única coisa que Eddie tem que pode tocar — que é maleável, que Jamie abraçou e esteve com ele. E então Stephen fez isso do seu próprio jeito”.

Eddie (Stephen Graham) sente culpa pelo que o filho se tornou. (Foto: Reprodução/Netflix)

Com o final, “Adolescência” encerra a trajetória de maneira emocional e impactante, deixando uma reflexão profunda sobre temas como violência juvenil, bullying e a influência da internet no comportamento dos jovens.

Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques