[Alerta spoiler!] No topo das séries mais assistidas da Netflix no Brasil, “Bebê Rena” tem chocado os espectadores com uma história real. A produção gira em torno das experiências de Richard Gadd, comediante que foi perseguido por uma mulher durante quatro anos. Com 7 episódios, a série desponta como o novo fenômeno do streaming e terá campanha reforçada para o Emmy.
A atração é uma adaptação da peça homônima de Gadd, que estreou no Festival Fringe de Edimburgo, em 2019. O nome da série, aliás, era a forma com que a perseguidora o chamava. Na trama, Richard é retratado como Donny Dunn, um garçom que tenta a vida como humorista nas horas vagas, em Londres. Em um dia no trabalho, ele conhece Martha (Jessica Gunning), uma mulher mais velha inicialmente inofensiva, mas que acaba se tornando a sua maior stalker.
Durante os anos de perseguição, o artista recebeu 41.071 e-mails, 350 horas de mensagens de voz, 744 tweets, 46 mensagens no Facebook e 106 páginas de cartas. Em entrevista ao The Times, o comediante, que interpretou o próprio personagem, disse que todos acharam a situação engraçada no começo, entretanto, os atos da stalker saíram do controle.
“No início, todos no pub acharam engraçado eu ter uma admiradora. Aí ela começou a invadir minha vida, me seguindo, aparecendo nos meus shows, esperando do lado de fora da minha casa, enviando milhares de mensagens de voz e e-mails“, contou ele, que foi o responsável pelo roteiro de toda a série.
“Stalking na televisão tende a ser muito sexual. Tem uma mística. É alguém em um beco escuro. É alguém que é muito sexy, muito normal, mas depois fica estranho aos poucos. Mas a perseguição é uma doença mental. Eu realmente queria mostrar as camadas da perseguição como eu nunca tinha visto na televisão antes“, acrescentou.
Tudo na série é real?
Ainda que baseada em sua experiência traumática, Richard decidiu não expor o nome verdadeiro de sua stalker. “Há certas proteções, você não pode simplesmente copiar a vida e o nome de outra pessoa e colocá-los na televisão. E, obviamente, estávamos cientes de que alguns personagens são pessoas vulneráveis, então você não quer tornar a vida deles mais difícil. Então, você precisa mudar as coisas para se proteger e proteger outras pessoas“, explicou o artista à Variety.
À revista, Gadd revelou ainda que também fez algumas modificações para deixar a história mais atraente. “Também, por razões artísticas, muita perseguição às vezes é bastante chata, como se fosse uma ação repetitiva, do tipo ‘Ai, Deus, uma mensagem dessa pessoa de novo’. E, claro, na televisão, especialmente em um thriller, você precisa mover certas linhas do tempo, precisa mover certos pontos para o final dos episódios terem um resultado um pouco melhor. Além de uma história verdadeira, você precisa torná-la visualmente interessante. Eu não seria capaz de definir em termos de uma porcentagem, mas é uma história muito verdadeira – vem de uma verdade emocional, e acho que é com isso que as pessoas mais se identificam“, pontuou.
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O que aconteceu com Martha?
No final de “Bebê Rena”, a stalker é presa por perseguição e assédio. Ela admitiu a culpa e foi condenada a nove meses de prisão, além de ter recebido uma ordem de restrição. Na vida, entretanto, o que aconteceu com a perseguidora é incerto. Em entrevista ao The Independent, Gadd demonstrou, assim como na série, a sua empatia e indicou não querer que a mulher fosse presa.
“Não consigo enfatizar o suficiente o quanto ela é uma vítima em tudo isso. Perseguição e assédio são uma forma de doença mental. Teria sido errado colocá-la como um monstro, porque ela não está bem e o sistema falhou com ela“, declarou ele.
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