Polícia revela últimos passos de responsável por sequestro de advogada antes de ser preso, e atitude chama atenção

Três meses após o suposto sequestro, Anic, a advogada e esposa de herdeiro do RJ segue desaparecida. Segundo a investigação, ela mantinha um relacionamento amoroso com o responsável pelo crime

Após o desaparecimento de Anic de Almeide Peixoto Herdy, a polícia descobriu o envolvimento do amigo de família, Lourival Correa Netto Fadiga no caso. Segundo informações do g1, o homem – que fingiu ser policial e se infiltrou na família por três anos – foi denunciado e se tornou réu num processo por extorsão mediante sequestro. Na reconstrução de seus passos, a investigação revelou, ainda, que ele e a amante, Rebecca Azevedo dos Santos, passaram dois dias em um hotel antes de sua prisão.

Lourival ajudou Benjamin Cordeiro Herdy, marido da vítima, a negociar com os supostos sequestradores e ficou responsável por entregar o valor do resgate. Entretanto, uma hora após o pagamento da quantia, Benjamin recebeu uma mensagem de texto, supostamente escrita pela esposa, com uma “reviravolta”. No recado, ela teria dito que o sequestro era uma “trama” para encobrir sua fuga com um amante.

Dois dias depois, outra mensagem também supostamente de Anic, esta enviada aos filhos do casal, informava que a advogada havia deixado o Brasil com uma pessoa, com a qual pretendia passar o resto da vida. Desconfiada, a filha de Anic foi à polícia para denunciar o caso, 14 dias após o sequestro. A partir daí, o 105ª DP (Petrópolis) teve acesso aos celulares de todos os envolvidos, bem como o histórico da localização de cada um e passou a monitorar Lourival, que atuava como “faz-tudo” e segurança dos Herdy.

“O Lourival acreditava que tinha feito o crime perfeito”, detalhou a delegada Cristiana Onorato Miguel, responsável pelo caso.

Lourival é apontado como amante de Anic e também quem orquestrou o crime. (Foto: Reprodução/g1)

A investigação seguiu Lourival e Rebecca, que fizeram um check-in no hotel Prodigy Santos Dumont, no dia 16 de março. Eles deixaram o estabelecimento após dois dias, em 18 de março. A mulher, apontada como uma das amantes do capanga, retornou para sua residência em Teresópolis, enquanto o sequestrador seguiu para Foz do Iguaçu (PR). Lá, ele adquiriu 950 celulares com parte dos R$ 4,6 milhões do resgate, afirma a polícia.

Em 20 de março, Fadiga foi preso ao retornar ao Rio de Janeiro, quando seguia para a casa de Rebecca. “A casa de Rebecca, era, portanto, frequentada assiduamente por Lourival, sendo certo, inclusive, que era para lá que ele estava indo, quando veio de Foz do Iguaçu e foi preso temporariamente”, revelou a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro.

Apesar do pagamento da quantia, Anic segue desaparecida. Desde então, um novo inquérito foi aberto na 105ª DP (Petrópolis) para tentar localizá-la. “Ou ela está desaparecida ou efetivamente foi assassinada. A polícia não descarta nenhuma possibilidade, mas eu acredito que por conta dessa ambição e dessa impunidade, Anic possa ter perdido a vida”, explicou a delegada.

Em meio às diligências, as autoridades também descobriram o envolvimento de Lourival com Anic. O relacionamento amoroso foi apontado na denúncia do MPRJ, aceita pela 2ª Vara Criminal da Comarca de Petrópolis. Segundo a Polícia Civil, no dia em que a advogada foi vista pela última vez, em 29 de fevereiro, ele a atraiu para um encontro. “Segundo apurado, o denunciado Lourival mantinha relacionamento simultâneo com várias mulheres, dentre elas a vítima Anic e Rebecca [ré no caso]”, detalhou o MPRJ.

Lourival foi descrito pelo MPRJ como “detentor de uma personalidade galanteadora, possuía relacionamento amoroso com várias mulheres, dentre elas a vítima Anic”. Os promotores apontaram que o réu usou o affair com a advogada como pretexto para encontrá-la na Rua Teresa, em Petrópolis, “quando, então, a sequestrou e passou a exigir do marido o preço do resgate”. O veículo do denunciado também foi flagrado na mesma região minutos antes de Anic ser abduzida.

Anic não é vista há três meses. (Foto: Reprodução/TV Globo)

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Confiança

Lourival era conhecido da família e convivia com Benjamin e Anic há pelo menos 3 anos. Ele foi apresentado por um enteado que namorava a filha do casal e, desde então, fazia serviços de informática para o grupo. Ele passou a atuar como segurança e se identificava como policial federal, o que não era verdade.

Junto do amante, Anic chegou a visitar Foz do Iguaçu a passeio algumas vezes. “Passando-se por agente da lei, Lourival exercia a segurança pessoal dos membros da família, inclusive de Anic; instalava equipamentos eletrônicos na residência; pagava contas; e tinha acesso irrestrito aos cartões de crédito e contas bancárias de Benjamin [Herdy, marido de Anic]”, detalhou a denúncia.

Ao longo dos 14 dias de sequestro, Benjamin Herdy recebeu comunicações dos supostos criminosos através do aparelho de Anic. Ele foi avisado de que a esposa havia sido sequestrada e que ele deveria pagar R$ 4,6 milhões para o resgate, mas deixar as negociações nas mãos de Lourival. O herdeiro também foi orientado a não procurar a polícia.

De acordo com o MPRJ, tudo isso foi orquestrado por Lourival. “Todo o dinheiro do resgate foi direcionado para Lourival, já que ele, em total manipulação de Benjamin, que nele confiava cegamente, indicou contas bancárias para as quais deveriam ser realizadas as transferências para pagamento do resgate”, revelou o processo.

Benjamin realizou 40 transferências para os “sequestradores”, totalizando R$ 3.390.066,85, destinadas à aquisição de dólares. “Além disso, Benjamin sacou R$ 680 mil em espécie, pagando o restante do resgate em bitcoins”, disse o MPRJ. Na época, 1 bitcoin valia aproximadamente R$ 70 mil. Como faltavam R$ 530 mil, Benjamin pode ter comprado 8 bitcoins.

“Os beneficiários dos valores confirmaram que as transações foram feitas em razão de negócios efetivados com Lourival”, detalhou o documento. “Ainda sem desconfiar de que estava sendo enganado por Lourival, Benjamin entregou os dólares e o dinheiro sacado a Lourival para que ele, no dia 11 de março, supostamente encontrasse os sequestradores e fizesse o pagamento do resgate”, continuou.

Lourival contou à família que os sequestradores o orientaram a deixar o dinheiro numa lixeira na comunidade do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes. Todavia, ele foi, acompanhado pelos filhos, para a concessionária USA Star, onde desembolsou meio milhão de reais (em notas de R$ 200 guardadas numa mochila) por uma picape RAM 3500 Longhorn, a qual colocou no nome da filha, Maria Luíza. Uma moto Royal Enfield Classic Dark Stealth Black, no valor de R$ 30 mil, também foi adquirida. Esta quantia foi paga via Pix.

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Defesa

A defesa de Lourival afirmou que os fatos investigados são “meramente especulativos e baseados em suposições”. Os advogados afirmam, ainda, que a acusação contra ele não foi “formalmente notificada”.

Já o advogado dos filhos afirmou que “está trabalhando para que tudo seja esclarecido”. A defesa de Rebecca, por sua vez, disse se preocupar com a maneira como a prisão foi decretada e reforçou que confia que a inocência dela será comprovada.

Benjamin e os filhos se pronunciaram por meio dos advogados, destacando que eles ainda esperam encontrar Anic com vida. Até hoje, ela não foi localizada.

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