Em 1ª entrevista, empresário preso acusado de matar gari cita ‘incidente’ e surpreende Cabrini com respostas; assista

Renê da Silva Nogueira Júnior rebateu as acusações contra ele e negou um pedido de desculpas à família de Laudemir Fernandes

O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, preso em Minas Gerais pela morte do gari Laudemir, admitiu um “incidente”, mas divergiu nas versões dadas. O réu ainda rebateu as acusações contra ele e o motivo de sua prisão.

Renê da Silva Nogueira Júnior, preso acusado pelo assassinato do gari Laudemir de Souza Fernandes, admitiu que houve um “incidente” em entrevista a Roberto Cabrini, no “Domingo Espetacular” deste domingo (30). No entanto, posteriormente, ele negou ter participado do crime ou disparado contra o trabalhador. O empresário ainda alegou que sua prisão foi “ilegal” e que foi ameaçado por delegados.

Renê afirmou que a morte de Laudemir foi um “acidente” ocasionado por uma “bala perdida”, reforçando o argumento de um antigo advogado. “Passei por esse local. Admito que estava armado. O incidente pode ter acontecido. Até onde posso dizer por conta do processo, posso admitir que ocorreu um incidente”, declarou ele.

Em seguida, ao ser questionado por Cabrini sobre como tudo aconteceu, o empresário negou ter atirado. Ele acrescentou ser “impossível” a motorista do caminhão ou os garis terem ouvido qualquer ameaça por parte dele. “Eu não falei pra ela. [Ela não falou] nada pra mim, eu nem a vi, não sabia nem que a motorista era mulher. Eu não lembro do sexo, eu lembro do caminhão”, respondeu.

“Eu só falei: ‘Meu carro não passa’. E tinham algumas pessoas falando: ‘Vem, vem’. Esse modelo do carro, quando ele não passa, ele começa a apitar e dispara fotos 360º. Tanto que teve que manobrar o caminhão de novo pro carro passar. Eu só estava explicando que o carro não passava”, continuou o réu, pontuando que não estava nervoso na ocasião. Segundo ele, o veículo já foi batido em outras cinco vezes em ocasiões parecidas. “Se batesse, era só uma porta, não a vida de uma pessoa”, ponderou.

Assassinato de Laudemir aconteceu no dia 11 de agosto, no bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte (Foto: Reprodução/TV Globo)

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A motorista Eledias Aparecida Rodrigues contou ao dominical o que teria ouvido do empresário. “Ele olhou pra mim, colocou a pistola em punho, mirando pra mim, e falou: ‘Se você esbarrar no meu carro, eu vo dar um tiro na sua cara. Você duvida?'”, narrou ela. Renê, por sua vez, argumentou que os “depoimentos se contradizem”.

Ele ainda colocou em xeque, o motivo da morte de Laudemir. “Por que eu ia atirar no Laudemir sendo que nenhuma das testemunhas fala nada? Por simples maldade?”, questionou. “Na realidade, se elas tivessem me reconhecido, elas falariam no primeiro depoimento. Não precisaria de uma prova da polícia mandando uma foto pra me reconhecer”, completou.

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Na conversa com Cabrini, Renê rebateu ainda o motivo de sua prisão. “A placa do meu carro não foi filmada. Tem vários carros com o final 7 [na placa] em Minas Gerais. Minha primeira prisão foi ilegal. O que foi falado pra mim pelo delegado foi: ‘Sua testemunha te reconheceu e temos a placa do teu carro'”, descreveu. Porém, conforme o detento, a polícia negou que seu advogado visse as imagens para assegurar se tratava ou não do mesmo carro.

Após o jornalista apontar divergências nas versões dadas pelo empresário e até revelar que pessoas próximas a ele esperavam uma confissão de ter sido um tiro acidental, ele afirmou: “Quais pessoas? Não mudei a minha versão. Eu não tenho relatado nada pra ninguém, não tive contato com ninguém. Infelizmente, elas estão erradas. Eu não gostaria de fazer [ajustes] porque estou falando a verdade”.

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Em seguida, o réu disse que não tentou fugir e explicou o fato de ter mantido sua rotina após o crime. “Fui trabalhar normal, porque tinha feito meu caminho, fiz o que eu fazia com os cachorros todos os dias, fui pra academia no meu horário de almoço”, listou. Ele ainda reagiu às acusações de ter “desprezado” a família da vítima.

“Ué, mas eu vou fazer o quê? Eu fiz a minha rotina. Eu não poderia mudar a minha rotina por algo que eu não fiz. Eu não me envolvi em nada. Então é mais do que normal eu cumprir a minha rotina”, cravou. “O que você diria de alguém que assassina um gari friamente e depois vai passear com os cachorros e ainda malhar?”, perguntou Cabrini. “Eu acho que seria um psicopata”, respondeu Renê.

Posteriormente, o réu entregou que não tem porte de armas e justificou por que estava com uma naquela ocasião: “Foi a primeira vez. Eu sofri ameaça de um bicheiro e, prezando pela minha vida, falei: ‘Eu não vou arriscar’. Eu tenho boletim de ocorrência”. “Mas por que você não deu essa explicação logo no início?”, quis saber o jornalista.

O empresário foi preso em 11 de agosto, horas depois do crime (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

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“Eu fui ameaçado para dar meu depoimento. [Fui ameaçado] pelos dois delegados da Polícia Civil, [que disseram]: ‘Ou você confessa da forma que a gente vai ditar o texto ou a gente vai prejudicar a sua esposa’. Eu não roubei a arma da minha esposa”, garantiu. “A polícia está dizendo várias coisas. Só que ela tá dizendo várias coisas e não está provando nada. Se tem a prova, cadê o projétil? [A arma] não foi reconhecida, porque não teve exame de balística. Eu tenho zero receio, é só eles me mostrarem a cápsula”, acrescentou.

O advogado Leonardo Guimarães, representante da delegada Ana Paula Lamego Balbino, abordou o posicionamento da cliente sobre o caso. “Ela não tinha conhecimento. A posição dela é de nenhuma participação, obviamente. Ela não tem nenhuma relação direta ou indireta, de empréstimo de arma ou qualquer comportamento posterior ao fato. A arma que a polícia aponta que foi utilizada nesse fato, pertence a ela, é registrada no nome dela”, afirmou.

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Renê também confessou estar triste por não ter sido visitado por Ana Paula até o momento. “Eu diria que eu a amo, em primeiro lugar, independente do que ela decidir. Estar comigo ou não, o meu sentimento não vai mudar. Se ela aceitar o meu erro de ter feito isso, a gente vai ter a nossa família. Eu estou triste, eu entendo ela. Isso indica que ela tá sofrendo um processo dentro da polícia também. [Agora, a nossa relação] é duvidosa. Eu nem sei ainda se eu estou casado, porque eu acabei com a minha carreira e com a dela, e com uma vida que é mais importante”, reconheceu.

O empresário insinuou que os demais garis que trabalhavam com Laudemir combinaram seus depoimentos. “Eu os conheci durante o processo. Lógico [que eles confirmam que eu atirei], se eles estão com total interesse financeiro. Vão falar que foi o cara da comunidade? Não sou eu que estou falando isso, são as provas. E essas pessoas entraram com um processo contra mim agora, quatro meses depois. No primeiro mês, a família me pediu R$ 8 milhões”, relatou ele.

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Já a Polícia Civil de Minas Gerais informou que o inquérito policial “seguiu os preceitos constitucionais e legais, respeitando a ampla defesa do investigado”. Caso seja condenado, Renê pode pegar até 30 anos de prisão.

Por fim, Cabrini questionou o empresário se ele estava com a consciência tranquila e se cabia um pedido de desculpas à família de Laudemir. “Sim [tenho minha consciência tranquila]. Cabrini, eu não posso pedir desculpas, porque eu não atirei. Eu estaria confessando culpa de algo que não sou culpado. As provas agora vão responder [as acusações], agora vem a defesa”, concluiu o réu.

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