A cantora gospel Ana Paula Valadão virou alvo de um inquérito aberto pelo Ministério Público Federal (MPF), para investigar declarações homofóbicas, feitas por ela durante o “Congresso Diante do Trono”, em 2016. O evento foi transmitido pela Rede Super de Televisão, emissora que pertence à Igreja Batista da Lagoinha. A informação foi divulgada nesta terça (1) pela coluna de Lauro Jardim, do jornal “O Globo”.
As falas absurdas da cantora apontavam a homossexualidade como um “pecado” responsável pela AIDS e viralizaram na internet em setembro deste ano, quando foram resgatadas pelos internautas, que se revoltaram. “Gente, isso não é normal. Deus criou o homem e a mulher, e é assim que nós cremos. Qualquer outra opção sexual (sic) é uma escolha do livre arbítrio do ser humano. E qualquer escolha leva a consequências. A Bíblia chama qualquer escolha contrária ao que Deus determinou como ideal, como ele nos criou para ser, de pecado. E o pecado tem uma consequência, que é a morte”, disse Ana Paula na ocasião, sendo ovacionada pela plateia.
Ela foi ainda mais perversa quando associou a homossexualidade à AIDS, doença que deixou de ser apenas uma preocupação da comunidade LGBTQIA+ há décadas. Inclusive, de acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2007 a 2019, os heterossexuais foram responsáveis por 58% dos novos casos de infecção por HIV. “A AIDS está aí para mostrar que a união sexual entre dois homens causa uma enfermidade que leva à morte, contamina as mulheres. Não é o ideal de Deus”, disse. “Sabe qual é o sexo seguro, que não transmite doença nenhuma? O sexo seguro se chama aliança do casamento”, finalizou a cantora gospel.
No documento do inquérito, a MPF pontua que se tratou de um discurso de ódio. “A situação, na forma em que foi narrada, caracteriza-se como ‘discurso de ódio’, restando ao estado o dever de proteger as vítimas e responsabilizar os infratores, de maneira que essa atuação é ainda mais necessária no atual cenário brasileiro, em que a homofobia se encontra tão presente e multiplicam-se casos de ódio e intolerância”, descreveu a portaria.
Ana Paula Valadão ainda não se manifestou sobre o assunto.
Revolta na web
As declarações ganharam vulto na internet no dia 12 de setembro deste ano, gerando grande revolta. Na época da repercussão, a Aliança Nacional LGBTI+ emitiu uma nota oficial, repudiando o caso e afirmando que entraria com um processo contra Ana Paula Valadão por crime de LGBTfobia. “O discurso de Ana Paula beira ao absurdo, extrapolando a liberdade religiosa e de expressão, tornando-se um discurso odioso, fanático e amplamente desproposital, com consequências potencialmente desastrosas, principalmente para quem a segue”, explicou a aliança.
“Em momento algum podemos permitir que a religiosidade seja utilizada como salvo-conduto para propagação do ódio e da desinformação. O direito à expressão religiosa, ainda que resguardado pela Constituição Federal, não garante a quem quer que seja o direito a se eximir das consequências de suas atitudes, sendo mister esclarecer que a comunidade LGBTI+ respeita a livre expressão de pensamento, desde que não fira a dignidade do outro”, completou a nota.
Na ocasião, a pastora foi cobrada por um pedido de desculpas, o que não aconteceu. Pelo contrário, ela fechou o seu perfil no Twitter e desativou os comentários de suas fotos no Instagram. Nas redes sociais, as reações também foram de indignação.
“A fala da Ana Paula Valadão consegue ser mais grave do que a do irmão, sobre igreja não ser lugar de gays. Ainda que haja um ferimento de direito de estar em um lugar, a afirmação de que gays introduziram a AIDS no planeta como consequência de pecado é um discurso MEDIEVAL”, julgou o deputado David Miranda. “Sorofóbica, homofóbica, desinformada e mentirosa! Ana Paula Valadão, que se diz pastora, destila ódio e reforça preconceito e estigma contra a comunidade LGBT. Essa mulher não tem escrúpulo e deve responder por isso na justiça. Ana Paula, você é a escória da escória”, criticou Erika Hilton, recentemente eleita como a primeira vereadora transexual de São Paulo.
A fala da Ana Paula Valadão consegue ser mais grave do que a do irmão, sobre igreja não ser lugar de gays. Ainda que haja um ferimento de direito de estar em um lugar, a afirmação de que gays introduziram a AIDS no planeta como consequência de pecado é um discurso MEDIEVAL.
— David Miranda (@davidmirandario) September 12, 2020
Sorofóbica,homofóbica, desinformada e mentirosa!
Ana Paula Valadão, que se diz pastora 😒, destila ódio e reforça preconceito e estigma contra a comunidade LGBT. Essa mulher não tem escrúpulo e deve responder por isso na justiça.
Ana Paula,você é a escória da escória.
— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) September 12, 2020
“Por que falamos tanto que educação sexual é extremamente importante: Ana Paula Valadão falou que o HIV é uma doença que veio devido ao pecado dos LGBTs e suas mortes seriam uma punição de Deus. É triste o ponto em que chegamos que devemos desmentir absurdos LGBTfóbicos como esse”, disparou o deputado Alexandre Padilha. “Ana Paula Valadão é o pior tipo de cristão que há, o que destila ódio e preconceito fingindo a doçura de um anjo”, pontuou uma internauta.
Por que falamos tanto que educação sexual é extremamente importante: Ana Paula Valadão falou que o HIV é uma doença que veio devido ao pecado dos LGBTs e suas mortes seriam uma punição de Deus.
É triste o ponto em que chegamos que devemos desmentir absurdos LGBTfóbicos como esse
— Alexandre Padilha (@padilhando) September 12, 2020
Ana Paula Valadão é o pior tipo de cristão que há, o que destila ódio e preconceito fingindo a doçura de um anjo.
— Brisa Donna (@Donna_dBrisa) September 12, 2020