Na tarde desta quarta-feira (30), um trote realizado por estudantes de medicina veterinária no campus da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Palotina, terminou em tragédia. Segundo informações do G1, 25 calouros tiveram queimaduras de 1º e 2º grau, e desses, 21 foram hospitalizados.
O episódio aconteceu em um terreno baldio a menos de cem metros da entrada do campus da UFPR, no oeste do estado. À polícia Civil, os calouros relataram que, no início, o trote exigia apenas que eles pedissem dinheiro pelas ruas da cidade. O grupo eventualmente foi levado até o terreno em questão e obrigado a se ajoelhar em fileiras. Na sequência, o produto que provocou as queimaduras foi derramado sobre os estudantes.
Segundo o boletim de ocorrência registrado pelas vítimas e divulgado pelo portal RIC Mais, a mistura era composta de creolina, desinfetante e germicida para animais. No entanto, o delegado responsável pelo caso, Pedro Lucena, não descartou a possibilidade de que outro material tenha sido usado na composição. “A embalagem que foi apreendida é de creolina, mas eu não tenho dúvida de que foi adicionado algum produto para lesionar as vítimas. Um exame no IML (Instituto Médico Legal) vai identificar isso, já que tivemos pelo menos um dos alunos que sofreu queimaduras de 3° grau”, disse Lucena, em entrevista à publicação paranaense.
Os calouros afirmaram que não sabiam os nomes dos envolvidos, mas reforçaram que poderiam fazer o reconhecimento facial deles. “Todo mundo começou a reclamar que tava ardendo, que tava queimando”, relatou uma das vítimas, um jovem de 19 anos, ao G1.
“A menina que estava com a lata de creolina, abriu, e ela falou: ‘abaixa a cabeça’. Eu achei que fosse o menino que ia jogar água, porque eles estavam aplicando em grupo o trote. E ela jorrou, despejou nas minhas costas. No mesmo momento que caiu, que eu vi que ela começou a jogar no meu colega, eu comecei a gritar, porque tava doendo muito, ardia muito. Eu falei: gente, tá queimando, tá queimando”, recordou uma segunda. “Enquanto eu gritava, eles continuavam passando o produto em outras pessoas.. Tinha gente chorando, desesperado e tremendo de dor. Uma colega chegou a desmaiar com tanta dor. Foi uma cena caótica e bem traumatizante“, descreveu.
Após o episódio, os feridos foram encaminhados ao Hospital Municipal de Palotina. Lá, médicos constataram que eles tiveram queimaduras de 1° e 2° grau e uma das alunas, que chegou a inalar o composto químico, desmaiou. Dos 21 estudantes que receberam atendimento médico, 20 foram liberados na mesma noite. Já a jovem que inalou o produto, ficou em observação e teve alta na manhã de ontem (31).
Suspeitos do crime
As investigações sobre o caso já estão em andamento e, nesta quinta-feira (31), quatro estudantes de medicina veterinária foram presos em flagrante. Os jovens são suspeitos de jogar a mistura química nos calouros e ainda dos crimes de lesão corporal grave e constrangimento ilegal. Os presos têm idades entre 21 e 23 anos.
O delegado afirmou que também serão apurados os crimes de tortura e cárcere privado, caso os calouros tenham sido obrigados a permanecer em algum local específico durante o trote trágico.
Instituição se manifesta
Ainda ontem, a UFPR emitiu uma nota sobre o ocorrido. No texto, a universidade repudiou a violência do ato, afirmou estar indignada com o ocorrido e reforçou que, aos olhos da instituição, o trote deveria ser um “momento de alegria e integração” para os calouros. “(…) A UFPR não tolera nenhum tipo de violência e o episódio infeliz envolvendo calouros em Palotina é um caso isolado”, afirmou.
O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, se manifestou em vídeo e apontou que a tragédia é ‘injustificável’. “Apresento minha solidariedade tanto aos alunos e alunas, quanto aos seus familiares que sofreram essa violência injustificável no momento do trote. A insatisfação da universidade é imensa porque temos trabalhado continuamente nos últimos anos para que haja tolerância zero com relação a esse tipo de atitude na recepção dos nossos estudantes. Quero assegurar aos alunos e estudantes, como a toda comunidade que nós faremos uma apuração imediata e rigorosa das responsabilidades para que isso não possa se repetir”, declarou.
A universidade informou, ainda, que abriu um processo para apurar os responsáveis pelo ocorrido e que a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis está trabalhando no acolhimento das vítimas, em conjunto com a direção do setor Palotina.