Hugo Gloss

Após perder contato com a família, idosa de 80 anos surpreende ao revelar como escapou de enchente no RS

Senhora de 80 anos conta que pulou de janela de prédio em Canoas para se salvar da enchente (Reprodução/Arquivo Pessoal/TV Globo)

A aposentada Marina dos Santos, de 80 anos, contou os momentos de tensão que viveu nos últimos dias, em meio às enchentes no Rio Grande do Sul. Nesta quinta-feira (9), em entrevista ao UOL, ela disse que pulou da janela do 3º andar de um prédio em Canoas para conseguir se salvar. A idosa ainda explicou que viajou de Porto Alegre para a cidade a fim de acompanhar sua irmã, Ana Santos, que estava internada em um hospital da região.

“Acordei na sexta com uma falação dos vizinhos e quando fui ver [a água] tinha subido muito. Estávamos no segundo andar, mas tivemos de passar para a casa de uma vizinha no terceiro”, recordou Marina. Segundo ela, o socorro só apareceu dois dias depois. “Passaram muitos helicópteros esses dias, mas nenhum vinha ajudar. Só no domingo, já clareando o dia, que um bombeiro escalou. Eles chegaram, e o peito dele [bombeiro] estava na altura dos meus pés. Pulei da janela do terceiro andar e ele me segurou”, contou a idosa.

A aposentada relatou ter ficado incomunicável durante este período. “Minha filha ficou doidona me procurando”, comentou. “A última pessoa que falou com minha mãe foi meu pai. Perdi a comunicação com ela dois dias antes de ela ser resgatada e fiquei 24 horas falando com pessoas e ligando em lugares para tentarem resgatar ela“, explicou a psicóloga Helen Santos, filha da senhora.

O contato só ocorreu quando Marina chegou ao hospital universitário da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) e conseguiu carregar o celular. “Agradeço por ter vindo para o lugar certo e conseguir falar com minha filha”, pontuou. Ela preferiu ficar na unidade médica para visitar a irmã, além de receber o tratamento médico adequado.

“Estão me dando remédio para dor, porque minha perna já não estava muito boa e acabou forçando um pouco na hora do resgate”, pontuou a idosa. Segundo o UOL, o hospital já recebeu cerca de 6 mil desabrigados nos últimos dias. O entorno da região não está alagado.

Marina está abrigada no hospital universitário da Ulbra, onde divide o quarto com outras pessoas (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Helen esclareceu ao portal que sua mãe também tem receio de sair do local e não encontrar atendimento médico disponível. “Ela já não estava com o joelho muito bom e os próprios médicos pediram para que minha mãe ficasse, porque minha tia está acamada e com pouca mobilidade”, disse.

Falta de comida

No momento, Marina está em uma área do abrigo da Ulbra, que divide com outras famílias. Ao UOL, a aposentada relatou algumas das dificuldades que eles estão enfrentando. “Ontem faltou comida na hora do almoço, mas no jantar estava normal. Ontem apareceu um homem armado com revólver, mas foi detido. Agora colocaram mais guardas e tem um no banheiro”, declarou ela.

Por fim, a idosa afirmou que os médicos e residentes ajudam no bem-estar de todos. “Trazem roupas de doação todos os dias, os médicos residentes ajudam a varrer o chão e trazem café para a gente”, listou.

Em Canoas, 11 bairros foram evacuados por determinação da prefeitura da cidade por causa das enchentes. Mais de 50 mil pessoas vivem em áreas de risco e 15 mil foram levadas para um dos 55 abrigos abertos no município.

O mais recente boletim da Defesa Civil do Rio Grande do Sul apontou que o número de mortos em razão das chuvas subiu para 107. De acordo com a atualização desta quinta-feira (9), há um óbito sendo investigado. O estado ainda registra 136 desaparecidos e 374 feridos. Há 232,1 mil pessoas fora de casa. Desse total, são 67.542 em abrigos e 164.583 desalojados – nas casas de familiares ou amigos.

O RS tem 425 dos seus 497 municípios com algum relato de problema relacionado ao temporal, com 1,476 milhão de pessoas afetadas.

Imagem aérea de Canoas mostra cidade coberta por água (Foto: Reprodução/TV Globo)
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