Após ser humilhado com ofensas racistas, motoboy atinge um milhão de seguidores e ganha bolada em vaquinha e duas motos novas; Homem que o atacou aparece em vídeo inédito quebrando carro

Já que não é possível voltar no tempo e evitar que uma situação lamentável ocorra, o melhor a se fazer é contribuir para um desfecho minimamente positivo… Após ser humilhado por um homem com ofensas racistas, o motoboy Matheus Pires Barbosa tem contado com o apoio e a boa vontade de pessoas no Brasil todo. Além de alcançar mais de um milhão de seguidores no Instagram, o rapaz ganhou duas motos novas, uma do humorista Matheus Ceará e outra de Luciano Huck.

No vídeo que viralizou nas redes sociais na sexta-feira (7), o entregador discute com Mateus Abreu Almeida Prado Couto, e mantém uma postura impecável enquanto ouve ofensas extremamente preconceituosas. “Com você já não sei… Hein? Desempregado. Você trabalha como motoboy, filho. Você tinha que ser assim lá na favela, seu moleque”, disparou o homem que trabalha como contabilista.

Em entrevista para o G1, Matheus explicou que tinha sido a segunda vez que ele fazia entrega na casa, localizada em um condomínio na cidade de Valinhos, interior de São Paulo. Na primeira vez, Almeida foi grosso com o motoboy por ele não ter achado o endereço da residência. Agora, a discussão foi motivada por um problema no interfone do paulista. Entre os vários ataques proferidos, Pires foi chamado de “lixo”, “semi-analfabeto” e, por fim, chegou ao ponto de ser discriminado pela sua cor de pele. “Você tem inveja disso aqui”, falou o cliente enquanto apontava para a própria pele, de cor branca.

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“Eu falei que ele não podia fazer mais isso porque ninguém gostava desse tipo de atitude. O que ele faz é pra se mostrar superior às pessoas. Teve um momento que ele cuspiu em mim, jogou a nota no chão e disse que eu era lixo. Na frente da polícia, ele continuou com as agressões, me chamou de favelado”, recordou o motoboy para o portal de notícias.

Com a grande repercussão do caso, o rapaz de 19 anos viu seu Instagram aumentar progressivamente o número de seguidores. Até o fechamento desta matéria, já eram 1,6 milhão de usuários o acompanhando, incluindo celebridades como Bruno Gagliasso, Alok e Luan Santana.

Número de seguidores no Instagram de Matheus Pires não para de crescer. Foto: Reprodução/Instagram

Durante uma live com Luciano Huck, o entregador explicou que estava trabalhando com a moto do pai porque a sua estava estragada. O global se solidarizou com a situação de Matheus e prometeu uma nova moto, que foi entregue neste sábado (8). “Vergonha, tristeza e revolta. Foi o que senti quando recebi este vídeo. Nele está tudo contra o que lutamos. Matheus Pires foi corajoso e não baixou a cabeça para o preconceito”, comentou o apresentador.

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O humorista Matheus Ceará também presenteou seu xará com uma motocicleta zerada. Os dois foram juntos à concessionária ainda ontem para escolher o presente. “Vai me ajudar bastante, minha moto estava ferrada no mecânico. E, como eu estou recebendo ajuda de todos os lugares, vou doar a minha para outra pessoa”, revelou Pires nas redes sociais.

“Tudo isso já mudou a minha vida. Mas a gente fica achando que as coisas acontecem longe da gente, mas o racismo e o preconceito estão perto da gente. No meu caso se não tivesse ninguém gravando, talvez seria mais um caso que ninguém saberia de nada”, refletiu.

Motorizado! Matheus ganhou a primeira moto do humorista Matheus Ceará. Foto: Reprodução/Instagram

A página “Razões para Acreditar” também conversou com o paulista e descobriu que ele estava trabalhando como motoboy há um mês. Pires atuava como social media, porém, por conta da pandemia do coronavírus ele teve que vender seu computador para conseguir pagar as contas de casa, inclusive as parcelas do próprio instrumento de trabalho. Uma vaquinha online foi criada após o episódio de discriminação e já arrecadou mais de R$ 128 mil!

Vaquinha online ainda ficará disponível pelos próximos dias. Foto: Reprodução

https://www.instagram.com/p/CDmeTohDK-m/

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Denúncia

A discussão de Matheus com o contabilista ocorreu no dia 31 de julho, mas só viralizou na internet nesta semana. Por conta da discussão, a Guarda Municipal de Valinhos foi acionada pelos vizinhos. Quando Almeida começou a proferir ofensas criminosas, ele foi encaminhado até a delegacia da Polícia Civil onde foi denunciado por injúria racial.

“Todo o desentendimento começou após o motoboy comentar que alguns colegas estavam reclamando da maneira hostil que são tratados pelo contabilista toda vez que vão até sua residência para fazer qualquer tipo de entrega, fato constatado pelos guardas no local e na delegacia. Lá, o contabilista continuava ofendendo e menosprezando o rapaz”, revelou Sidnei Aureliano, comandante da Guarda Municipal de Valinhos, para  o jornal Extra.

A Secretaria de Seguraça Pública de São Paulo também confirmou que o entregador registrou boletim de ocorrência por injúria. “As partes foram ouvidas e a vítima orientada quanto ao prazo de seis meses para representação criminal contra o autor”, informou a pasta em nota.

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Comportamento agressivo já era conhecido de vizinhos

Neste sábado, o delegado Bruno Lima teve acesso a alguns vídeos enviados por vizinhos de Mateus Abreu Almeida Prado. “A arrogância e agressividade desse sujeito não é de hoje, como podemos ver nas imagens em briga com vizinha quebrando o carro dela e falando barbaridades. Segundo relatos, atitudes como essa e da humilhação do entregador são frequentes. O prepotente além de RACISTA é um COVARDE!”, escreveu na legenda.

Nas imagens, o contabilista aparece descontrolado jogando uma pedra seguidamente em um carro estacionado na garagem. Em outra sequência, Mateus é filmado ofendendo outra pessoa. “Olha a cara desse marginal! Olha a carinha de marginal”, diz.

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Banido de aplicativo

O aplicativo de delivery de comida iFood, para o qual Matheus fazia a entrega no momento da briga, soube do caso e tomou um decisão certeira. “Baseados nos termos de uso do aplicativo, o IFood descadastrou o usuário agressor da plataforma. A empresa está em contato para oferecer ao entregador apoio jurídico e psicológico”, comunicou. A empresa acrescentou que não tolera preconceito ou discriminação, seja dos seus entregadores ou das pessoas cadastradas na plataforma.