Bombril é acusada de racismo nas redes sociais por nome e mais detalhes de esponja de aço; entenda o caso

Em meio a um debate crescente sobre racismo e a força do movimento “Vidas Pretas Importam”, a marca brasileira de produtos de limpeza Bombril veio à tona na madrugada desta quarta-feira (17) por manter em seu catálogo, uma esponja de aço chamada “Krespinha”, criada em 1952 e que, de acordo com a empresa, seria “ideal para limpezas pesadas”.

“Acabei de tirar esse print do site da Bombril e estou extremamente ofendida e chateada com isso, é inacreditável que em pleno século 21 ainda de encontre esse tipo de coisa”, denunciou uma mulher em seu Twitter.

O produto realmente continua sendo anunciado e vendido no site da empresa e a associação do nome com o formato e a função chamou atenção nas redes sociais. “A Esponja Inox Krespinha é perfeita para a limpeza pesada. Remove sujeiras e gorduras de um jeito rápido e eficaz, sem esforço. Resistente e não enferruja”, descreve a Bombril online.

A partir daí, uma onda de internautas se reuniram e levaram a hashtag “Bombril Racista” aos assuntos mais comentados do Twitter. Os usuários apontaram que o cabelo crespo, de pessoas pretas, sempre foi associado aos produtos da marca de forma racista e que manter esse item, com um nome tão explícito, no catálogo apenas fomenta as comparações.

Krespinha no site da Bombril (Foto: Reprodução)

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“Vendo o tal produto da #BombrilRacista e me despertou um gatilho. Eu passei infância e adolescência INTEIRAS sendo vítima de piadas racistas. Pessoas associando meu cabelo ao Bombril. Ai a marca, MAIS UMA VEZ, fomenta esse discurso. Que desserviço!“, acusou uma mulher. “Esse PRODUTO é comercializado hoje em dia. NÃO é de 100 anos atrás. A Bombril está vendendo agora, em pleno 2020. Uma absurdo terrível. Exigimos que retirem esse produto de circulação e se desculpem pelo passado e pelo presente”, pediu um homem.

“O ano é 1952, surge uma marca racista que associa cabelo crespo a esponja de aço. O ano é 2020, o absurdo se repete. Me pergunto se existe algum preto na equipe de criação, ou só brancos alienados mesmo”, especulou uma usuária do Twitter. “Sim! A Bombril, em pleno 2020, reviveu a Krespinha, de 1952, que associa cabelo crespo a uma esponja de aço. Inacreditável!”, indignou-se outra.

https://twitter.com/pratosdetigres/status/1273121684137132035?s=20

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“Não deveria, mas sigo me surpreendendo como é que ideias desse tipo passam por toda uma cadeia de produção: pessoa que teve ideia, chefe da pessoa que teve ideia, equipe de marketing, demais diretores, demais funcionários… e ninguém parou pra pensar: ‘serááá?'”, questionou uma usuária da rede em resposta a outra internauta.

“A ‘Krespinha’ não é um produto novo no mercado. Em 1952, uma esponja de nome idêntico era vendida no país e usava o desenho de uma menina negra em seus anúncios. Alheia aos crescentes debates sobre racismo, a Bombril resolveu relançar o produto, mantendo o nome original”, expôs a mulher.

https://twitter.com/claravelasco/status/1273213698362966016?s=20

“Cara, imagina quem sofreu bullying a infância/adolescência inteira vendo um c*ralho desse virando marketing. Eu acreditei até meus 18 anos que preto tinha que raspar o cabelo, me libertei e já fiz uns 10 penteados de lá pra cá. Eu to p*to, chateado”, lamentou um jovem. “Tá zuando, né? P*rra, homo sapiens, tanto nome pra colocar na p*rra e você me vem com ‘Krespinha’. Gatilho pra tanta gente que cresceu sofrendo, sendo chamado de Bombril porque o cabelo era CRESPO”, desabafou outro.

https://twitter.com/apassarelli/status/1273200917463080965?s=20

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Ao contrário do que viralizou na internet e em portais de notícias, o produto não foi relançado neste ano, mas está no catálogo anualmente, pelo menos, desde 2011. Ele foi criado em 1952, com uma campanha que deixava ainda mais evidente a associação racista.

Em uma das propagandas dos anos 1950, a esponja era vendida ao lado de uma imagem de uma menina preta, usando o “K” do nome do produto como vestido, e com seus cabelos crespos em destaque. “A queridinha do Rio está agora em São Paulo”, dizia o anúncio. Confira:

Campanha da Krespinha em 1952 (Foto: Divulgação/Bombril)

[Atualização às 16h40] Após a repercussão, a Bombril emitiu um comunicado, no qual afirma que irá retirar a marca “Krespinha” do seu portfólio de produtos. “Mesmo sem intenção em ferir ou atingir qualquer pessoa, pedimos sinceras desculpas a toda a sociedade”, escreveram em um trecho. Confira a mensagem na íntegra: