Caso Henry Borel: Dr. Jairinho teria agredido outras crianças, segundo relatos chocantes de antigos relacionamentos; saiba detalhes

O caso Henry Borel ganhou novos contornos nesta sexta-feira (2), com a divulgação de novos e tenebrosos relatos pela revista Veja. Segundo depoimentos, o vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade-RJ), teria agredido ex-namoradas e filhos delas. Alguns dos casos, inclusive, já haviam sido relatados à polícia. O político carioca é namorado de Monique Medeiros, mãe de Henry.

De acordo com a publicação, apesar de aparentar ser muito gentil e educado, os relatos e conversas obtidos sugerem que o vereador teria um temperamento violento e quase “sádico” na sua vida privada. Um desses episódios teria acontecido com uma ex-namorada que tinha um filho de 5 anos na época em que ela se relacionou com Jairinho, entre 2014 e 2016.

Segundo relatos à Veja, Dr. Jairinho, namorado de Monique Medeiros e padrasto de Henry, teria supostamente agredido ex-namoradas e filhos delas. (Foto: Reprodução/Record TV)

Passeios a sós e muitos machucados

Apesar da mulher ter negado maus-tratos quando depôs à polícia, sua amiga íntima foi ouvida pela Veja e deu detalhes do que ela teria vivido. A entrevistada diz já ter visto o garoto “chorando e tremendo” diversas vezes só de ouvir as palavras “tio Jairinho”. Em um dos casos chocantes, o parlamentar teria até mesmo tentado dopar a namorada. “Minha amiga acordou, grogue, e se deparou com o menino chorando e o namorado o forçando a tomar banho de banheira”, relatou ela.

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De acordo com a amiga, Jairo arrumava pretextos para sair a sós com a criança, que, por sua vez, voltava como se tivesse passado por “sessões de tortura”, de tão machucada. Segundo ela, o garoto já apareceu com rosto inchado, olhos roxos e desfigurados em um passeio, enquanto em outra ocasião surgiu com a perna fraturada na altura do fêmur. As justificativas seriam uma “queda de cabeça”, para o primeiro o caso, e no segundo, o político teria dito que o menino se prendeu no cinto de segurança e tropeçou ao sair do veículo.

“Nas duas vezes, Jairinho o levou a uma clínica de conhecidos dele. Minha amiga estava deslumbrada e tinha medo por ele ser poderoso”, disse a entrevistada. Em depoimento à polícia, essa ex-namorada em questão afirmou ter recebido um telefonema de Dr. Jairinho após a morte de Henry, mas negou que o vereador tivesse comentado algo sobre a tragédia.

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Situações horripilantes

Os relatos coincidem com o que diz outra ex-namorada de Jairinho, que teve um relacionamento com ele entre 2010 e 2013, e que expôs à polícia os ataques que sua filha teria sofrido. Segundo ela, o político também buscava motivos para sair sozinho com a menina, que tinha 4 anos na época. A própria criança passou a confessar que o “tio” lhe agredia com cascudos, além de que torcia seus braços e pernas.

Numa das situações mais tenebrosas, a filha disse que teria sido levada a um local com um quarto com cama e piscina — segundo a publicação, com uma descrição similar a de um motel. Ele teria tirado a roupa dela e entrado com ela, de sunga, no boxe do banheiro, onde teria aberto o chuveiro e batido a cabeça da menina contra a parede, além de afundar a cabeça dela na piscina.

O vereador teria agido de forma violenta com enteados da mesma faixa etária que Henry, que morreu aos 4 anos. (Foto: Reprodução)

Agora, essa ex-namorada resolveu se pronunciar tanto pela morte de Henry, quanto por também ter supostamente recebido uma ligação de Jairinho em tom de ameaça, após oito anos sem falar com o vereador. “Passei muito tempo da minha vida me culpando e me sentindo péssima como mãe por não ter visto a realidade. Ele é um tipo de homem que cega, ilude, mente”, desabafou ela para a revista.

Ex-mulher também já denunciou “ataques”

De acordo com a Veja, a ex-mulher de Dr. Jairinho, Ana Carolina Ferreira Netto, também seria uma das vítimas do parlamentar. Em 2014, ela deu queixa na polícia dizendo que o político teve um “ataque de fúria”, desferindo socos e pontapés após uma discussão, que teria feito com que ela fosse hospitalizada. Já em 2020, a nutricionista registrou uma ocorrência de “lesões corporais”. Ela e o vereador têm dois filhos, frutos do relacionamento.

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Pai de Henry relata mudanças do menino

O pai de Henry, Leniel Borel de Almeida, também foi ouvido pela Veja e contou que o menino já havia reclamado que o padrasto batia nele e dito que o “tio Jairinho abraça muito forte”. Segundo o engenheiro, o garoto teve uma mudança de comportamento semanas antes de sua morte, quando a mãe foi morar com Jairinho. “Meu filho, uma criança linda e feliz, passou a chorar desesperadamente para não voltar para a casa dela. Só queria ficar comigo e com os avós. No domingo, horas antes da morte, chegou a vomitar de tão nervoso quando o deixei no prédio”, disse.

O pai de Henry Borel afirma que o garoto mudou muito de comportamento semanas antes de sua morte, quando sua mãe se mudou com Dr. Jairinho. (Foto: Reprodução)

Quando Borel dividiu essa preocupação com Monique, a mãe do garoto imaginou que isso seria coisa da imaginação dele e um mero reflexo da separação de seus pais. “Que mãe não ficaria desesperada para saber o que aconteceu, em vez de proteger o namorado? Não sei se ela age assim por medo ou por interesse”, disse o pai de Henry. Após a tragédia, ele também menciona que um desconhecido foi ao seu condomínio fazer “perguntas estranhas”, e que teve seu carro arranhado com a expressão “filho da p*ta”.

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Quanto à noite em que seu filho perdeu a vida, Leniel diz que Jairinho se aproximou e disse com todas as palavras, diante dos presentes: “Vamos virar essa página, vida que segue. Faz outro filho”. Segundo os médicos que atenderam o menino, o vereador também não queria que o corpo de Henry passasse por uma perícia.

Entenda o caso

A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga a morte de Henry Borel, enteado do vereador Jairo Souza Santos. O menino, que tinha 4 anos de idade, faleceu na madrugada do dia 8 de março. Segundo laudo do Instituto Médico-Legal, divulgado em reportagem do jornal RJ2, há sinais de violência e o óbito foi causado por hemorragia interna e laceração hepática, decorrentes de uma ação contundente.

A perícia constatou ainda múltiplos hematomas no abdômen e membros superiores, infiltração hemorrágica na região frontal do crânio, edemas no encéfalo, grande quantidade de sangue no abdômen, contusão no rim à direita, trauma com contusão pulmonar, laceração hepática (no fígado) e hemorragia retroperitoneal.

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Henry, que passava a noite na casa da mãe, Monique Medeiros da Costa Almeida, e do padrasto, foi levado ao hospital pelos responsáveis, mas chegou ao local sem vida. Dr. Jairinho e a namorada prestaram depoimento por cerca de 12 horas, na 16ª DP (Barra da Tijuca). Eles foram ouvidos em salas separadas e deixaram a delegacia às 2h30, do dia 18.

O casal relatou que ouviu um barulho durante a madrugada e encontrou o garoto desacordado, caído no chão do quarto. Leniel Borel de Almeida Jr., pai da criança, ouviu da ex-mulher que o pequeno foi encontrado com dificuldade de respirar e os olhos já revirados.

Henry tinha apenas 4 anos de idade. “Menino ativo, inteligente, amigo, companheiro, muito divertido, gostava de brincar. Quando não conhecia alguém, era até meio introvertido. O resto era só alegria”, lamentou Leniel. (Foto: Reprodução)

Peritos ouvidos pela TV Globo dizem ser impossível que Henry tenha se machucado de tal forma, somente ao cair da cama. Uma queda de uma altura baixa é pouco provável que esteja na origem dessas lesões traumáticas. “Nós observamos esses tipos de lesões em acidentes de trânsito, com muito mais energia”, afirmou o legista Carlos Durão. Os ferimentos do menino também não poderiam ter sido causados durante uma tentativa de reanimá-lo.

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Ao jornal O Globo, Dr. Jairinho enviou uma nota na qual disse “estar triste, sem chão e suportando a dor graças ao apoio da família e dos amigos“. “As autoridades apuram os fatos, e vamos ajudar a entender o que aconteceu. Toda informação será relevante. Por isso, acho prudente primeiro dizer na delegacia a dinâmica dos fatos, até mesmo para não atrapalhar os trabalhos desenvolvidos”, informou o líder de Marcelo Crivella na Câmara.

Monique Medeiros da Costa Almeida e Dr. Jairinho deixam a delegacia após 12 horas de depoimento sobre a morte do menino Henry Borel  (Foto: Reprodução/Globo)

Em 18 de março, a 16ª DP teve acesso às imagens de câmeras de segurança que mostram o menino Henry em boas condições e sem lesões aparentes, durante passeio pelo shopping com o pai, ainda no dia 7, e sendo deixado mais tarde no condomínio onde moram Monique e Jairo.

“O menino estava em perfeitas condições, totalmente normal, brincando, alegre, feliz, e quanto a isso não tem nenhum questionamento a se fazer. O que me chamou atenção nesse caso foi o laudo. O que o pai me contou foi que ele foi para o hospital com alegação de parada respiratória e quando tive acesso ao laudo, ele transcreveu causa de morte por ação contundente, hemorragia no fígado e lesões em outros órgãos. Isso me causou total estranheza, pois não tinha nexo causal com o que aconteceu e a informação prestada no hospital”, disse Leonardo Barreto, advogado de Leniel, ao UOL.

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“Se eles (a mãe e o vereador) mudaram a versão, está bem claro o que aconteceu. Nossa função aqui não é atribuir responsabilidade a ninguém, não é tentar incriminar A ou B, é simplesmente saber a verdade como o menino morreu”, acrescentou ele à reportagem. O advogado disse ainda que o pai do menino está estarrecido. “Quando ele viu o laudo o mundo dele caiu, desabou, ele está completamente mal e desnorteado”, concluiu.

Uma reportagem exibida em 28 de março, no “Fantástico”, também revelou imagens exclusivas dos últimos momentos do garoto, em vida, assim como divulgou trechos de um depoimento feito na última semana, por uma ex-namorada de Dr. Jairinho, relatando supostas agressões contra ela e a sua filha. Veja e saiba todos os detalhes, clicando aqui.