Hugo Gloss

Caso Isabele: Em entrevista, mãe da vítima revela como se sentiu com conclusão das investigações: “Espero que essa garota seja presa e internada” – Assista

(Foto: Reprodução/TV Globo)

A mãe da Isabele Guimarães Ramos, morta por um tiro na cabeça no dia 12 de julho, com apenas 14 anos, conversou com o “Fantástico” nesse domingo (06) e revelou como se sentia com a conclusão das investigações sobre o homicídio da filha. Na última quarta-feira (02), a Polícia Civil de Mato Grosso determinou que o tiro não havia sido acidental, como a amiga da adolescente, e principal suspeita do crime, alegou inicialmente. Pelo contrário, as autoridades acreditam que a jovem tinha, sim, intenção de matar Isabele.

Patrícia Hellen Guimarães Ramos avaliou que a conclusão do inquérito foi um passo importante para garantir justiça para a sua filha, mas a responsabilização dos culpados não diminui o sofrimento. “Não me traz conforto nenhum, porque, veja bem, minha filha não está aqui mais para poder falar, e posso falar por ela. Ela teve os sonhos interrompidos naquele dia, quando recebeu um tiro na cabeça”, lamentou a mãe.

“Ela tinha toda uma vida pela frente. Ela era uma garotinha brilhante e hoje ela não está aqui para fazer o que tinha vontade, pra poder realizar os sonhos dela”, completou Patrícia, abalada. “Espero que nunca nenhuma mãe nesse mundo passe por essa dor que estou vivendo hoje”, desejou ela.

Na entrevista, a mulher contou que agora espera os próximos passos da Justiça e ainda foi honesta ao revelar como se sente sobre a adolescente que matou Isabele. “O que mais espero é que essa garota seja presa e internada. Espero também que o Ministério Público apresente a denúncia e acate o inquérito policial na integralidade”, declarou.

Assista ao trecho da reportagem:

https://youtu.be/ALxqOEvLlUA?t=690

Isabele Guimarães Ramos estava na casa de uma amiga em 12 de julho, num condomínio de luxo em Cuiabá, Mato Grosso, quando levou um tiro no crânio e veio a óbito. De acordo com a adolescente suspeita de efetuar o disparo, a pistola teria sido acionada quando ela guardava a arma para seu pai –  negando que estivesse brincando com o objeto, ou tentando mostrá-lo para a amiga.

O laudo oficial de balística da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), no entanto, garantiu que a arma de fogo utilizada não pode produzir um tiro acidental. A reportagem do “Fantástico” deu mais detalhes sobre como a polícia chegou ao resultado e ainda exibiu as últimas imagens da vítima, poucas horas antes de falecer. A gravação faz parte do circuito de câmeras de segurança da casa da família da amiga e mostra o momento em que Isabele chegou ao local, por volta das 16h40 do dia 12. Ela ia preparar uma sobremesa lá.

Imagens da câmera da casa mostram o momento em que Isabele chegou ao local (Foto: Reprodução/TV Globo)

Em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o nome da adolescente atiradora, do namorado dela e dos pais não foram divulgados. No entanto, sabe-se que as duas famílias faziam parte de um grupo chamado CACs, de caçadores, atiradores e colecionadores de armas de fogo. Quando Isabele chegou à casa, o pai de sua amiga estava fazendo manutenção de seis armas na mesa da sala.

A polícia colheu 25 depoimentos de testemunhas e realizou 12 perícias criminais, incluindo uma reprodução simulada. Devido às versões e provas conflitantes, a perícia foi essencial para a conclusão. “Já que não tem confissões nem testemunhas, a prova técnica é elementar, ela é indispensável para solução de qualquer investigação. Pois ela pode, ela deve, trazer as verdades dos fatos”, explicou Eduardo Andraus Filho, diretor de Medicina Legal.

Isabele ao lado da mãe (Foto: Reprodução/TV Globo)

A partir desta análise, os investigadores concluíram que a amiga, que também tem 14 anos, deixou o estojo com uma das armas em cima de um móvel no quarto dela e, então, foi até o banheiro. Dentro dele, disparou contra Isabele a 20 ou 30 centímetros de distância, em uma altura de 1,44 centímetros. O tiro entrou no nariz e saiu pela nuca.

“Evidencia-se que a vítima estava de frente e apontando diretamente a arma para o rosto da vítima. A pessoa que efetuou o disparo estava dentro do banheiro. Isso pode ser comprovado, conforme deixa claro o laudo pericial, pelas manchas de sangue, pela posição de queda da vítima, e pelos elementos e marcas que foram deixados no local”, pontuou o delegado Wagner Bassi. As investigações, no entanto, não conseguiram determinar o que motivou o crime.

De acordo com a polícia, a adolescente que atirou cometeu ato infracional análogo ao crime de homicídio doloso, quando há intenção ou assume o risco de matar. O namorado dela, ato infracional análogo ao porte ilegal de arma de fogo. Já o pai dela foi indiciado por quatro crimes: homicídio culposo, quando não há intenção de matar, posse ilegal de arma de arma de fogo, omissão de cautela na guarda de arma de fogo, e fraude processual.

Isabele Guimarães, de apenas 14 anos, foi morta após levar um tiro no rosto, enquanto estava na casa de sua amiga. (Foto: Reprodução/Instagram)

Os investigadores também indiciaram a mãe da jovem e o pai do namorado dela pelo crime de omissão de cautela na guarda de arma de fogo. Agora, cabe ao Ministério Público analisar o caso e aceitar a decisão. “Caso o Ministério Público concorde com a conclusão do delegado de polícia, e ofereça a denúncia nestes termos, a adolescente pode ser submetida à medida sócio-educativa de internação de até três anos”, explicou Breno Melaragno Costa, advogado e professor da PUC-RJ.

O caso evidencia como o acesso cada vez mais fácil a armas de fogo, no Brasil, pode ter consequências trágicas. “É bom que fique bem claro que a morte de Isabele não se deu única e exclusivamente pelo dedo da jovem atiradora. Houve ali uma conjunção de fatores, houve todo um contexto envolvendo tanto os pais da adolescente atiradora, quanto o jovem que levou essa arma e os pais dele. Foi a união dessas condutas que causou o resultado morte”, destacou Hélio Nishiyama, advogado da família de Isabele.

“Toda essa tragédia teria sido evitada se o Estado conseguisse controlar de maneira eficiente a circulação de arma de fogo”, completou o advogado Breno Melaragno Costa.

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