Caso João Alberto: Funcionárias do Carrefour se contradizem sobre atritos anteriores de vítima no supermercado ; saiba os detalhes

As investigações sobre a morte brutal e precoce de João Alberto Silveira Freitas, de apenas 40 anos, dentro do Carrefour, tiveram um novo desdobramento nesta segunda-feira (23). O site Uol conseguiu acesso exclusivo ao depoimento de duas funcionárias do supermercado, e relatou as contradições nas falas delas a respeito do cliente. Beto, como era conhecido por familiares e amigos, foi morto na última quinta (19), após ser agredido covardemente por dois seguranças do estabelecimento.

O primeiro depoimento é da fiscal que teria recebido um aceno de João no momento em que ele estava no caixa ao lado da esposa. Para as autoridades, a funcionária do supermercado disse que nunca tinha visto o cliente antes, e “não entendeu por qual motivo ele estava agindo daquela maneira”. No entanto, a agente de fiscalização Adriana Alves Dutra, que aparece no vídeo que viralizou na internet pedindo que as agressões não fossem filmadas, revelou que essa mesma colega de trabalho havia contado que Beto já tivera atrito com outros trabalhadores da empresa em situações passadas.

Adriana, que está sendo diretamente investigada pela polícia, afirmou que João Alberto teria “empurrado uma senhora e foi novamente orientado para ‘deixar disso’ e se acalmar”. Após esse momento, a agente fiscal relatou que Beto deu um soco no policial militar temporário, Giovane Gaspar da Silva. Daí em diante, começou as sucessivas agressões até que o cliente viesse a óbito.

João Alberto, de 40 anos, foi espancado e morto por dois homens brancos em Porto Alegre. (Foto: Reprodução/Instagram)

A agente de fiscalização explicou que foi ela quem acionou a Brigada Militar e ligou para o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) no momento em que viu sangue. Antes disso, ela alegou que estava “pedindo aos rapazes para que largassem Beto”. Porém, o que se viu no vídeo amador foi Adriana tentando impedir o registro das agressões. Na ocasião, ela chegou a ameaçar um motoboy dizendo “eu vou te ‘queimar’ na loja”. O homem respondeu que a equipe do Carrefour não poderia fazer aquilo, e ouviu como resposta de Dutra que João Alberto “bateu em uma mulher dentro da loja” e que “a gente sabe o que está fazendo”.

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Afinal de contas, quem foi agredido dentro do supermercado?

A versão apresentada pela colega de trabalho de Adriana em depoimento é que ela estava no caixa acompanhada dos seguranças, Giovane Gaspar e Magno Braz Borges, quando Beto chegou com a esposa para passar as compras e fazer o pagamento. Em seguida, ele teria começado a “encarar” ela e foi em sua direção, mas ela se esquivou. A fiscal disse que o cliente “parecia estar furioso com alguma coisa” e “não aparentava estar fazendo uma brincadeira”, como afirmou a esposa do cliente à polícia.

A funcionária alegou que Beto teria feito um gesto com as mãos, dando a entender que ele empurraria Magno Borges, mas o segurança conseguiu desviar. A fiscal também teria recebido um gesto similar, mas desviou. Até aqui, nenhum relato sobre a mulher que foi agredida fisicamente, como foi apontado por Adriana. Daí em diante, Magno e Giovane acompanharam o cliente para o estacionamento do Carrefour. Nesse percurso, ocorreu o soco registrado pelas câmeras de segurança e a sequência de agressões que resultou na morte de Beto.

Adriana aparece vendo de perto as agressões dos seguranças contra Beto. Foto: Reprodução/Twitter

Para as autoridades, a fiscal reforçou mais uma vez que não conhecia o cliente e que não sabia por qual motivo ele estava agindo daquela forma com ela e os outros dois seguranças. A funcionária acrescentou que não presenciou as agressões, e que só soube da situação em que Beto estava quando foi chamada até o estacionamento e os paramédicos já prestavam os primeiros socorros.

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Entenda o caso

João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte no dia 19 de novembro, por dois homens brancos, no estacionamento do supermercado Carrefour, localizado no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre (RS). O episódio aconteceu às vésperas do ‘Dia da Consciência Negra’ e, com razão, gerou grande revolta nas redes sociais.

Os seguranças da empresa, Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, foram presos em flagrante. Por ser policial militar, Giovane foi levado para um presídio militar, enquanto o segundo foi encaminhado para um prédio da Polícia Civil. A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre investiga o caso e trata o crime como homicídio qualificado.

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Em respeito à vítima, o hugogloss.com não replicará o vídeo aterrorizante da agressão. O registro – de revirar o estômago – mostra também uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) chegando ao local e tentando reanimar Beto, mas ele não resistiu.

Beto e a esposa Milena, que o acompanhava nas compras no supermercado. Foto: Reprodução

Em nota, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul informou que o espancamento começou após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado. João teria ameaçado bater na trabalhadora que, por sua vez, acionou a equipe de segurança. “A esposa [da vítima] referiu que eles estavam no mercado fazendo compras, que o marido fez um gesto, que ela não soube especificar, para a fiscal. E ele teria sido conduzido para fora do mercado”, declarou a delegada Roberta Bertoldo.

“Informações que foram colhidas com a equipe de peritos desse caso, que não ainda o laudo concluído, apontam suposições sobre a causa da morte, e que ele (João) possa ter tido um ataque cardíaco em função das agressões, porque ficou custodiado com duas pessoas em cima. Talvez tenha sido essa a causa da morte”, prosseguiu ela.

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O comunicado também explicou que Giovane é “policial militara temporário” e estava fora do horário de trabalho. As atribuições do agressor na corporação são limitadas a “execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento” e “guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos“. A Brigada não informou o que ele fazia no mercado.

Confira a nota da Brigada na íntegra, o posicionamento do Carrefour e as reações de revolta pelas redes sociais, clicando aqui. No dia 20 de novembro, manifestantes tomaram as ruas e lojas do supermercado em diversas cidades do Brasil, pedindo Justiça para o caso, e relembrando outros episódios semelhantes envolvendo a empresa.