Caso Kathlen Romeu: Ministério Público denuncia dois policiais militares pelo assassinato da jovem

Rodrigo Correia de Frias e Marcos Felipe da Silva Salviano atiraram, sem legitimação, contra uma rua movimentada por civis

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O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou, nesta quarta-feira (13), os policiais militares Rodrigo Correia de Frias e Marcos Felipe da Silva Salviano pelo homicídio de Kathlen Romeu, que morreu baleada grávida no dia 8 de junho de 2021, no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio.

De acordo com a denúncia, feita mais de um ano após a morte da jovem e assinada pelo promotor Alexandre Murilo Graça, os dois agentes atingiram Kathlen ao dispararem contra pessoas que estariam vendendo drogas. Os policiais realizavam patrulhamento de rotina na região, quando teriam avistado os supostos traficantes. Segundo a denúncia, Marcos Salviano e Rodrigo Frias atiraram contra os indivíduos sem qualquer ação que legitimasse a referida agressão.

Nenhum dos alvos dos PMs foi atingido, apenas Kathlen, de 24 anos, que estava grávida de quatro meses. No momento da ação ela caminhava com sua avó pela Rua Araújo Leitão. O MPRJ chamou atenção ao fato de os policiais militares terem atirado em direção a essa rua em questão, já que sabiam se tratar de uma via de grande movimento de carros e pessoas.

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Kathlen Romeu tinha 24 anos e estava grávida de seu primeiro filho. Os dois faleceram. (Foto: @rogeriojorgeph)

A promotoria ressaltou que apesar de a ação ter sido dirigida a criminosos, eles não ofereciam risco aos policiais ou a terceiros, pois já estavam em fuga. O documento pede ainda a aplicação de medida cautelar pessoal, que proíbe que os denunciados mantenham qualquer tipo de contato com as testemunhas que não são policiais militares, em especial, com Sayonara de Oliveira (avó de Kathlen) e Jackelline de Oliveira (mãe de Kathlen).

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Na tarde desta quinta-feira (14), ao saber da notícia, Luciano Gonçalves, pai da jovem, disse estar aliviado, apesar da denúncia não mudar o destino de Kathlen. “É uma sensação de alívio, de uma resposta que estamos esperando há tanto tempo no sentido de reparar o irreparável. É o mínimo que queremos reparar a dignidade da nossa filha e tentar evitar que outras pessoas passem por isso”, afirmou o pai ao g1.

Kathlen
Familiares de Kathlen Romeu exigem justiça pela jovem (Foto: Reprodução/ TV Globo)

Contudo, Luciano alegou que o caso ainda não teve um fim, já que agora aguardam que a Justiça aceite a denúncia e transforme o caso em processo. “Mas sabemos que vencemos uma batalha, não ganhamos a guerra”, declarou ele. O pai falou também sobre a rotina de dor e luto com a mulher, Jackeline Oliveira. “É muito sacrificante. Estamos há 1 ano, 1 mês e cinco dias sem nossa filha, ainda não podemos viver o nosso luto, e todo dia revivemos essa dor. Mas esperamos que a justiça seja feita. Essa denúncia nos dá a sensação de que não está tudo perdido, que as pessoas podem correr atrás dos seus direitos e que ainda há justiça”, disse.

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PMs já são réus por fraude processual

Em dezembro de 2021, os cinco policiais militares que estavam na ação no Complexo do Lins que terminou com a morte de Kathlen já haviam virado réus na Auditoria da Justiça Militar por falso testemunho e fraude processual. A denúncia do Ministério Público foi aceita no dia 17 do mesmo mês.

De acordo com a promotoria, os PMs Chaves, Frias, Scanfela e Salviano retiraram o material que estava no local em que Kathlen foi atingida antes da chegada da perícia, e ainda acrescentaram 12 cartuchos calibre 9 milímetros deflagrados e um carregador de fuzil 556, com 10 munições intactas.

Mais tarde, o material foi apresentado pelos policiais na 26ª Delegacia de Polícia. O MP avaliou que os policiais cometeram fraude processual para dar a impressão de um confronto com criminosos na região. Testemunhas negaram que houve um tiroteio no momento em que Kathlen foi atingida.

Relembre o caso

A modelo e designer de interiores Kathlen Romeu, de 24 anos, morreu no dia 8 de junho, após ser atingida por um tiro durante uma operação policial na comunidade do Lins. Grávida de apenas 14 semanas, momentos antes da fatalidade, ela havia feito uma publicação nas redes sociais celebrando a gestação. O caso mobilizou os internautas nas redes sociais.

Segundo relatos de moradores ao g1, Kathlen foi atingida por uma “bala perdida”. Além da morte da designer, a operação resultou na apreensão de um carregador de fuzil, munições de calibre 9mm e drogas. A Polícia Militar do Rio de Janeiro afirmou que Romeu foi encontrada ferida na rua e levada para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu. Posteriormente, a instituição também confirmou a morte do bebê.

Em entrevista para a TV Globo na época, a avó de Kathlen Romeu deu mais detalhes de como tudo aconteceu. Segundo a senhora, elas estavam indo visitar a tia da designer de interiores. “A gente estava indo na firma da minha filha. Quando nós passamos a rua estava tranquila. Foi tudo muito de repente. A minha neta caiu, começou muito tiro. Quando eu puxei ela caiu, eu me machuquei ainda, me joguei para proteger ela, que está gravida. Eu só vi um furo no braço dela e gritei para eles me ajudarem a trazer. Perdi minha neta e meu bisneto”, desabafou.

“A minha rua tá muito perigosa, eu não queria ter perdido minha neta e perdi desse jeito estúpido”, completou a avó. No relato, ela ainda explicou que Kathlen tinha se mudado da comunidade justamente por causa do medo da violência. “A garota tem um mês que saiu dali por causa desses perigos, por causa de tudo daquele Lins. Uma garota que trabalha, que estuda, formada. Só isso que eu tenho a dizer, eu não tenho mais nada“, declarou.