Hugo Gloss

Em entrevista bombástica, Flordelis diz que mostrou a Anderson mensagens dos filhos tramando matá-lo: ‘Ele tinha consciência’ – Assista

Uma semana após a polícia concluir que Flordelis foi a mandante do assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, a deputada federal concedeu uma entrevista bombástica a Roberto Cabrini, no “Conexão Repórter” exibido nessa segunda-feira (31). Na conversa, a pastora negou qualquer envolvimento no homicídio, reconstituiu a cena do crime e ainda acusou um dos filhos, que ela acredita que não tenha sido investigado o suficiente pela polícia.

Logo no início, a parlamentar foi enfática ao responder se havia mandado o assassinato de Anderson. “De jeito nenhum. Eu digo com firmeza, com certeza, que eu jamais faria isso. É a verdade. Eu jamais transformaria meus filhos em assassinos. Jamais”, afirmou ela, que ainda disse ter dificuldades em aceitar que seus filhos, Flávio e Lucas, foram os principais responsáveis pelo crime. “Eu queria falar com eles. Pra mim os meus filhos não mentiriam. Eu queria ouvir da boca deles”, explicou.

Além de um bate-papo frente a frente com Cabrini, Flordelis também recebeu o jornalista em sua própria casa, mostrando todos os detalhes do que teria vivenciado na madrugada do homicídio, no dia 16 de junho de 2019. Em seu relato, a deputada contou que chegou na residência por volta das 3h da manhã com o marido. Ela disse que logo entrou em casa, enquanto ele continuava no carro, mexendo no celular.

“Eu estava com a bolsa e meus sapatos, deixei na cama. Eu subi pra ver os filhos e fiquei conversando com Ramon (neto dela) sobre o culto [do dia seguinte]”, descreveu ela, enquanto passava pelos cômodos. “Eu estava exatamente aqui quando nós ouvimos os tiros. Eu só ouvi seis (a investigação diz que foram 30). Eu sinceramente não sabia que havia sido uma execução”, afirmou ela no relato.

Flordelis manteve a versão de que ouviu apenas 6 tiros, dos 30 disparados contra o marido (Foto: Reprodução/SBT)

Ela continuou falando, enquanto ia para outro quarto: “Não sabia o que estava acontecendo. Nem imaginava que tinha sido algo com alguém de dentro da minha casa, porque há muitos tiroteios na rua de baixo. Corri pra cá, porque é o quarto das crianças pequenas, elas ainda estavam deitadas, dormindo. Aí comecei a gritar: ‘Cadê o Nem?'”. Em sua versão, Flordelis disse que apenas entendeu que algo havia acontecido com o marido, quando seus filhos começaram a segurá-la, enquanto ela procurava por ele.

“Comecei a descer as escadas, mesmo com meus filhos me segurando. Quando eu cheguei aqui, minhas filhas estavam na janela, que elas trancaram. Aí eu ouvi o barulho do carro. Só depois que eu ouvi o barulho do carro que o meu filho falou: ‘Mãe, foi o pai, mas ele já foi pro hospital'”, relembrou. Cabrini chegou a questionar se ela não achava estranho não ter visto o corpo, mas Flordelis reforçou que havia sido impedida pelos filhos.

“Quem encontrou o corpo foi Flávio, que é meu filho, Ramon, que é meu neto, e Daniel, meu filho. A descrição do Flávio e do Ramon é de que ele já estava morto”, explicou. Ela ainda falou sobre os filhos, atualmente presos, que achava que estavam na casa na hora. “Lucas não, porque eu não o vi. Marzy, eu achava que ela estava em casa, mas ela não estava. Simone não estava”, pontuou.

Flordelis concedeu parte da entrevista na garagem da própria casa, local onde o marido foi assassinado (Foto: Reprodução/SBT)

Antes de chegar em casa, Flordelis havia mandado uma mensagem para Marzy, sua filha adotiva, com os dizeres: ‘Me acorde às 8h’. Segundo a polícia, isso seria um código para indicar que ela e Anderson estavam chegando e que os filhos deveriam ficar a postos. “Isso é um absurdo. Eu não sei qual horário eu mandei mensagem pra Marzy, mas com certeza não foi na nossa chegada [na casa]”, disparou a pastora sobre a teoria dos oficiais.

Flordelis diz ter avisado Anderson sobre plano dos filhos

No entanto, ela reconheceu que Marzy esteve envolvida no planejamento da morte de Anderson e revelou, inclusive, que chegou a avisar o marido sobre uma possível emboscada no futuro. “A Marzy usou meu telefone pra algo muito grave. Ela falou em juízo. Eu vi a mensagem da armação para matá-lo. [Meu marido] tinha consciência, eu levei até ele. Ele fez até reunião”, recordou, dando mais detalhes da conversa que teve com o pastor a pedido do jornalista.

“Falei: ‘Amor, temos que ir pra delegacia. Você tem que fazer alguma coisa’. Ele olhou a mensagem e disse: ‘Deixa que eu vou resolver’. Não [fomos à polícia]. Meu marido era muito articulado. Ele falou: ‘Nós somos pessoas públicas, se formos a qualquer delegacia agora, isso vai se torna notório’. Nessa época, [quem queria assassiná-lo] era Lucas e Marzy”, afirmou, sem papas na língua.

Flordelis reconheceu que a filha Marzy estaria envolvida no planejamento do homicídio (Foto: Reprodução/SBT)

Sobre outras mensagens incriminatórias enviadas de seu telefone, Flordelis afirmou que não foram mandadas por ela e especulou que também poderia ter sido Marzy, a autora. “André, pelo amor de Deus, vamos por um fim nisso. Me ajuda. Cara, tô te pedindo, te implorando. Até quando vamos ter que suportar esse traste no nosso meio? Independência financeira é pouco”, dizia um dos envios. “Eu jamais chamaria o meu marido de traste, não faria isso. Minha filha já declarou em depoimento, em juízo, que ela mandou mensagens gravíssimas através do meu celular. A Marzy”, ponderou a parlamentar.

Entre as acusações enfrentadas por Flordelis estão a de que ela teria forjado uma carta escrita por Lucas para confessar o crime e acusar outros irmãos envolvidos. Novamente, a pastora negou qualquer envolvimento. “De jeito nenhum, eu nunca escrevi. Eu jamais faria isso com meu filho”, garantiu. “Aquela carta chegou e, quando recebi, foi um bálsamo na minha vida. Eu achei que ali estava a conclusão de todas as coisas”, descreveu.

Wagner de Andrade Pimenta, conhecido como Misael, foi um dos filhos que afirmou, em depoimento, que Flordelis havia sido a mentora intelectual de todo o crime. Para a deputada, isso seria apenas a forma que ele encontrou de encobrir o próprio envolvimento. “Ele está mentindo. Não sei [o porquê]. É algo que eu também gostaria de saber. Por isso eu pedi que ele fosse investigado”, pontuou ela.

“Por exemplo, no dia do velório do meu marido, por que Misael tirou todos os computadores da igreja? E não foi falado por ninguém da família, foi falado por membros da igreja que ele teve essa atitude no dia do velório. Ele foi frio. E no dia seguinte do sepultamento, ele foi a uma delegacia me incriminar. Por que ele não veio conversar comigo? Eu só sei que deveriam investigar mais a respeito dele porque muita coisa ficou realmente suspeita”, concluiu ela. Assista:

Entenda o Caso

Um ano e dois meses após a morte do pastor Anderson do Carmo, as investigações concluíram que a viúva dele, a deputada federal Flordelis, foi a mandante do assassinato. Na segunda-feira (24), equipes da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) e do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro cumpriram 11 mandados de prisão e outros de busca e apreensão contra a deputada, filhos e neta do casal e outros familiares.

Segundo a denúncia, Flordelis planejou o homicídio e foi responsável por arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime. A parlamentar também financiou a compra da arma e avisou da chegada da vítima no local em que foi executada. Ela foi indiciada pelo crime de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização criminosa majorada.

No entanto, como tem imunidade parlamentar, a pastora não será presa agora. O processo de cassação de seu cargo já está em andamento. Na próxima semana, o planejamento do presidente da câmara, Rodrigo Maia, é reunir os líderes partidários e a mesa diretora para definir o que fazer. Após o Conselho de Ética analisar a situação, o caso vai para votação no Plenário da Câmara e, então, com a maioria de votos, 257, ela pode ser cassada.

Deputada Flordelis foi acusada de ser a mandante do assassinato de seu marido, o pastor Anderson do Carmo Souza. (Foto: Reprodução)

Por enquanto, outras pessoas já foram levadas pela polícia: Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva do casal, Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica, André Luiz de Oliveira, filho adotivo, Carlos Ubiraci Francisco Silva, filho adotivo, Adriano dos Santos, filho biológico, Rayane dos Santos Oliveira, neta, o ex-PM Marcos Siqueira e a esposa dele, Andreia Santos Maia. Saiba todos os detalhes, clicando aqui.

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