Família de adolescente morta em escola de MG questiona versão apresentada por MP e cobra posicionamento

Melissa foi morta na manhã do dia 8 de maio

A família de Melissa Campos, adolescente de 14 anos assassinada por um colega dentro de uma escola em Uberaba, Minas Gerais, divulgou uma nota pública em que cobra o reconhecimento do crime como feminicídio. O posicionamento, feito pela tia da jovem, Marisa Agreli, veio após a Polícia Civil e o Ministério Público afirmarem que a motivação do ataque foi “inveja”, descartando bullying, misoginia e qualquer outra forma de violência sistemática. Para os familiares, no entanto, a interpretação das autoridades falha ao ignorar o componente de gênero presente no crime.

“Lamentamos que não seja dado ao bárbaro crime ocorrido o nome correto”, escreveu a tia, em nome da família. Na publicação, Marisa reforça: “A questão não é jurídica, é social”. A nota destaca que os parentes compreendem que a responsabilização jurídica do adolescente será cumprida, mas enfatiza que o debate não se encerra no campo penal. “Enquanto esse assunto não for enfrentado, nossas meninas continuarão enfrentando medo”, afirma o texto.

O posicionamento também agradece à Polícia Civil e ao Ministério Público por afastarem os rumores de que Melissa cometia bullying com os adolescentes. “A família da Melissa expressa sua gratidão por afastarem, de uma vez por todas, os infundados rumores referentes a bullying e por reafirmarem o caráter de nossa menina, nossa tão amada Melissa, que pagou com sua vida simplesmente por ser feliz demais”, diz a nota.

Ainda assim, os familiares afirmam que “quando a felicidade de uma mulher é suficiente para suscitar tamanho ódio a um homem, não há como negar o envolvimento de misoginia”.

Veja o relato completo:

Durante o inquérito, o delegado Cyro Moreira descartou motivação por ódio de gênero: “Está circulando nas redes sociais que o motivo teria sido bullying, misoginia ou qualquer coisa semelhante, mas não foi apurado nada nesse sentido”. Segundo ele, o próprio autor do crime alegou “inveja”. Em trechos do depoimento, o adolescente disse: “Ela simbolizava uma alegria que eu não tinha”.

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Relembre o caso

Melissa foi morta na manhã do dia 8 de maio, dentro da sala de aula do 9º ano, no Colégio Livre Aprender, em Uberaba. Ela foi atingida por um golpe de faca no tórax enquanto lia o bilhete entregue por um dos adolescentes. Um professor da escola, que também cursa o 10º período de medicina, tentou socorrê-la até a chegada do Samu, mas a jovem não resistiu.

O crime foi presenciado por colegas, incluindo a filha do músico Chaene da Gama, da banda Black Pantera. “Foi uma cena horrível. Eu com 41 anos nunca vi uma cena dessas. Minha filha tem 13. O ódio é uma coisa terrível, as crianças estão sofrendo”, disse.

O suspeito tentou fugir da escola, mas foi localizado horas depois. (Foto: Reprodução / Record TV)

A tragédia causou grande comoção na cidade. A Prefeitura de Uberaba decretou luto oficial de três dias e a prefeita Elisa Araújo destacou a importância do diálogo e da escuta ativa com os adolescentes: “A adolescência é uma fase complexa, cheia de desafios. E nossos jovens precisam sentir que não estão sozinhos”.

O Ministério da Educação enviou psicólogos especializados em crises para apoiar as escolas da cidade. As atividades no colégio foram suspensas por tempo indeterminado. A escola também afirmou que está prestando apoio psicológico à comunidade escolar.

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