O julgamento de Flordelis chegou ao segundo dia nesta terça-feira (8), no Tribunal do Júri em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Ela é acusada de ser a mandante do crime que tirou a vida do marido, o pastor Anderson do Carmo, com mais de 30 tiros. Durante o depoimento, o ex-vereador e filho adotivo de Flordelis, Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Misael, afirmou que o pastor estava ciente dos planos para assassiná-lo.
Segundo o UOL, o rapaz relatou que o pastor recebeu uma mensagem com a ameaça em seu computador no gabinete da Câmara de Deputados, em Brasília. Na ocasião, além de Misael, Anderson também teria chamado a esposa dele, Luana Vedovi Rangel Pimenta, para mostrar o documento.
“Ele me chama para dentro do gabinete dele. Aí pergunta: ‘Está sabendo?’. Eu falo: ‘Está sabendo de que, pastor?’. ‘Que estão querendo me matar'”, contou Misael. Segundo a testemunha, Anderson achou que a responsável pelo plano era Marzy Teixeira da Silva, outra filha adotiva de Flordelis e ré no processo. Além delas, a filha biológica, Simone dos Santos, a neta Rayane dos Santos e o filho adotivo André Luiz também estão sendo julgados.
“Ele tava pensando que só a Marzy estava envolvida nisso. Aí minha mulher falou: ‘Pastor, a Marzy não tem esse dinheiro para fazer isso, não'”, lembrou, revelando que tentou explicar que outra pessoa devia estar por trás do crime. Misael também garantiu que o homem contou para Flordelis sobre a ameaça, mas viu a mulher “apática” com a informação.
Segundo a Folha de São Paulo, o rapaz também revelou que foi orientado por um dos irmãos a não comer a comida de Anderson, já que Flordelis estaria tentando envenenar o marido. “Minha mãe (Flordelis) falava que ele (Carmo) não gostava de tomar remédio e tinha que dissolver no suco dele. Mas até então, para mim, era um medicamento de ansiedade”, disse. As investigações do caso apontaram que, de fato, a ex-deputada federal estava colocando arsênico e cianeto na comida do companheiro.
Misael foi adotado por Flordelis aos 12 anos de idade, mesma época em que Anderson do Carmo foi morar na casa da parlamentar como filho afetivo dela. Em suas palavras, ele sofreu uma “lavagem cerebral” no lugar. “Eu cheguei achando que seria uma família, extensão da igreja. Mas acabei, com 12 anos, cuidando de 13 bebês”, contou ao júri, que é formando por quatro homens e três mulheres.
O rapaz ainda afirmou que havia muito conflito entre Flordelis e Anderson por motivos financeiros. De acordo com ele, o pastor ficava com cerca de 60% dos lucros da venda de CDs e DVDs da mulher, além do cachê, para pagar as contas da casa. O restante ficava com a pastora. Misael foi ouvido por videoconferência, alegando que “questões emocionais” o impedem de depor na presença dos familiares.
A testemunha relatou que, na noite do crime que tirou a vida do pastor, a mãe chegou ao hospital com um “choro forçado“. “Quando ela sai do carro, já vem chorando, de terninho. Era um choro forçado. Eu conheço ela”, disse.
Mais cedo, em depoimento, o outro filho adotivo Alexsander Felipe Matos Mendes, também declarou que o choro da ex-deputada “não era verdadeiro“. “[No dia do enterro] Ela sorriu pra mim e falou: ‘Acabou’. Ela abaixou a cabeça, depois olhou pra mim e perguntou qual era o número da minha roupa, se as roupas dele serviam em mim. O corpo ainda não estava nem gelado. Eu não respondi. Ela virou para a Rayane e disse: ‘Filha, não chora. Agora a gente vai ter mais tempo, vamos sair juntas'”, relatou Alexsander.
Misael ainda contou que Flordelis decidiu tomar um filho de Vânia da Conceição, sua filha afetiva, e entregá-lo à Simone dos Santos Rodrigues, sua filha biológica, para criar o menino. “Minha mãe tirou o Moisés da mãe e deu para a Simone criar como filho. A Vânia já tinha a Clarinha, a primeira filha dela, e a Vânia acabou engravidando novamente do Moisés. E até então ninguém sabia que ela estava grávida. E aí faltando um mês, não lembro muito bem, da gestação do bebê, todo mundo fica sabendo. E minha mãe fica muito chateada. Aí fala: ‘Quando você tiver esse bebê eu vou pegar esse bebê porque você não tem condições de criar'”, disse.
No início do segundo dia de julgamento, Flordelis passou mal e precisou deixar o local, retornando cerca de 20 minutos depois. “Flordelis não estava se sentindo bem e nós tivemos que retirá-la. Ela tomou o remédio que precisava, mas fez questão de retomar ao julgamento porque não queria aparentar que estava fugindo. Provavelmente foi uma queda de pressão, mas ela também reclamou de muita dor nas costas e formigamento no braço”, explicou o advogado Rodrigo Faucz.
Anderson do Carmo foi morto em 16 de junho de 2019. O pastor foi alvejado com mais de 30 tiros na garagem da casa da família em Pendotiba, bairro de Niterói. Flordelis é acusada de ser a mandante do homicídio do marido, mas nega todas as acusações.
No ano passado, foram condenados: Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis que efetuou disparos; e Lucas Cezar dos Santos de Souza, o filho do adotivo responsável por adquirir a arma do crime. Já em abril deste ano, mais quatro réus receberam suas sentenças: Adriano dos Santos Rodrigues; o ex-policial militar Marcos Siqueira Costa e sua esposa, Andrea Santos Maia; e o filho afetivo da ex-deputada, Carlos Ubiraci Francisco da Silva.
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