Na última semana (26), a polícia concluiu a segunda fase de investigações sobre o assassinato do pastor Anderson do Carmo, mas o destino dele e da esposa, Flordelis, na noite do crime, segue cercado de mistérios. Em seu depoimento, a deputada federal afirmou que estava no bairro de Copacabana, mas os investigadores acreditam que ela tenha mentido. A maior suspeita até então é de que os dois tenham ido a uma casa de swing, onde há troca de casais, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro.
Em entrevista concedida a Roberto Cabrini, do SBT, Flordelis negou veementemente tal possibilidade e deu sua versão do que teria acontecido durante a fatídica noite. “Fomos pra Copacabana, andamos no calçadão, andamos na praia, depois fomos pro carro. Ele (Anderson) pegou uma pista deserta, não sei dizer o local, não prestei atenção no caminho. Tinha muitos carros parados ali, mas não tinha bar nem nada em volta”, alegou.
Segundo a parlamentar, o casal estacionou o carro em uma rua deserta, onde teve relações sexuais, por volta das duas horas da manhã. “Nós paramos ali, namoramos, que era uma coisa normal nossa na estrada. Ele me beijou bastante. Eu sentei no capô do carro. Tivemos [relação sexual]. Falei: ‘Amor, amanhã a gente vai acordar cedo, né?’“, contou, sugerindo então que fossem para casa.
No caminho de volta, Flordelis declarou ter avistado uma moto, que ora se aproximava, ora se afastava do carro dos pastores. “Uma moto saiu de uma rua transversal, com dois rapazes – não sei se eram rapazes ou mulher, porque estavam de casacos e capuz. De imediato, olhei pra mão deles pra ver se tinha alguma arma, não tinha nenhuma, então continuei jogando meu joguinho de celular”, comentou, sobre o veículo que teria os seguido pela Estrada da Cachoeira até o Largo da Batalha, em Niterói.
A polícia, entretanto, disse não ter encontrado a tal moto nas imagens de câmeras de segurança resgatadas para investigação do crime. “Eu tenho convicção do que eu vi, e do que eu falo. Eu não vou parar de falar isso, porque sei o que eu vi”, frisou a deputada.
Em um depoimento prestado em setembro do ano passado, uma empresária, de 32 anos, relatou à polícia que uma de suas amigas frequentava a mesma casa de swing que Flordelis, alegando ainda que a pastora teria “um quarto exclusivo lá, e que isso era muito caro”. A deputada, por sua vez, disse a Cabrini que as acusações não correspondiam com a realidade.
“Recebi (essa notícia) com indignação”, ressaltou, desmentindo em seguida as supostas trocas de casais. “De jeito nenhum! Meu marido jamais permitiria! Eu era o cristal do meu marido! Ele jamais permitiria me ver sendo tocada por um outro homem“, enfatizou, deixando claro que não tem uma visão liberal sobre o sexo.
Flordelis nega envolvimento com “rituais satânicos”, rachadinhas e tratamento diferenciado aos filhos.
Além dos relatos já conhecidos sobre as noitadas do casal em casas de swing, depoimentos prestados por um homem que morou na casa de Flordelis nos anos 90 detalham uma rotina familiar que envolvia rituais secretos com uso de sangue, nudez e sexo. A testemunha afirmou considerar que participava de uma verdadeira seita e revelou que chegou a manter relações sexuais com a pastora. O indivíduo relatou ainda que, na época, Anderson já vivia na residência e, em determinada ocasião, pediu à esposa autorização para se relacionar com uma das filhas que havia recém-chegado, o que foi aceito.
“Não tem nada de ritual satânico! Não tem nada disso na minha vida, porque eu sou pastora, sou mulher de Deus, mulher de oração! De dobrar o joelho pra orar! Eu vivo diante da presença de Deus! Se isso é ritual satânico, então eu sou satânica, porque é o que eu faço! Eu oro a Deus! Agora, fazer ritual com criança, ou sei lá o que eles estão falando… eu não aguento mais tanta coisa que estão falando a meu respeito! Ritual satânico? Eu repreendo isso!”, esbravejou ela.
Em depoimentos, alguns dos filhos de Flordelis expuseram que nem todos tinham as mesmas regalias dentro da casa. Os três legítimos e os quatro primeiros adotados teriam mais privilégios em relação aos demais herdeiros. A pastora, por sua vez, afastou essa ideia. “Não, não. Privilégio aqui em casa era igual em toda casa. Não passou de série, mão tem presente, não tem mordomia nem passeio. Obviamente, como mãe, não vou dar de presente um celular para um filho que não estudou, não passou de série, e dar a mesma coisa pra um que estudou e passou!”, exclamou. Sobre negar comida aos jovens, garantiu: “Não existe essa possibilidade”.
Ainda na semana passada, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro encaminharam à Procuradoria-Geral da República (PGR) e à Câmara dos Deputados, indícios da prática de “rachadinha” e de nepotismo no gabinete de Flordelis (PSD), em Brasília. Ela, por fim, refutou as acusações. “De jeito nenhum!”, afirmou, se propondo a divulgar todas as documentações de seu gabinete. “Sem medo nenhum, com tranquilidade!”, finalizou.
Veja a entrevista na íntegra:
Entenda o Caso
Um ano e dois meses após a morte do pastor Anderson do Carmo, as investigações concluíram que a viúva dele, a deputada federal Flordelis, foi a mandante do assassinato. Na segunda-feira (24), equipes da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) e do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro cumpriram 11 mandados de prisão e outros de busca e apreensão contra a deputada, filhos e neta do casal e outros familiares.
Segundo a denúncia, Flordelis planejou o homicídio e foi responsável por arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime. A parlamentar também financiou a compra da arma e avisou da chegada da vítima no local em que foi executada. Ela foi indiciada pelo crime de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização criminosa majorada.
No entanto, como tem imunidade parlamentar, a pastora não será presa agora. O processo de cassação de seu cargo já está em andamento. Na próxima semana, o planejamento do presidente da câmara, Rodrigo Maia, é reunir os líderes partidários e a mesa diretora para definir o que fazer. Após o Conselho de Ética analisar a situação, o caso vai para votação no Plenário da Câmara e, então, com a maioria de votos, 257, ela pode ser cassada.
Por enquanto, outras pessoas já foram levadas pela polícia: Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva do casal, Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica, André Luiz de Oliveira, filho adotivo, Carlos Ubiraci Francisco Silva, filho adotivo, Adriano dos Santos, filho biológico, Rayane dos Santos Oliveira, neta, o ex-PM Marcos Siqueira e a esposa dele, Andreia Santos Maia. Saiba todos os detalhes, clicando aqui.