Fernando Sastre de Andrade Filho falou pela primeira vez sobre o acidente de trânsito que causou a morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana. Ao “Fantástico” deste domingo (5), ele afirmou não ter ingerido bebida alcóolica no dia da tragédia e questionou a perícia realizada. O empresário teve sua prisão preventiva decretada na sexta-feira (3), após três mandados do Ministério Público, mas segue foragido.
De acordo com Fernando, ele, a namorada e um casal de amigos foram para um restaurante no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo. Em seguida, o grupo partiu para uma casa de pôquer. Em ambos os lugares, o empresário nega ter consumido destilados. Contudo, a conta foi divulgada pelo dominical, em que são listados drinks com whisky, vodca e duas águas.
“A gente chega, pede aperitivos, as bebidas que tiveram. Eu tomei água, eu pedi água (…) Eu chamo [e falo]: ‘A gente pode ir no pôquer. Tá aberto’. Ficamos lá, jogamos, eu ganhei e aí a gente vai embora. Só que a gente decidiu que ia para minha casa”, disse o motorista. Imagens de câmeras de segurança mostraram uma suposta briga entre ele e a namorada, pois de acordo com a reportagem, ela não queria que Fernando dirigisse sob efeito de álcool.
Advogado de amigo diz que todos beberam
Logo, o amigo de Fernando, Marcus Vinicius Machado Rocha, entra no banco do passageiro do Porsche, enquanto as duas mulheres vão juntas em um outro carro. O foragido, porém, negou que a troca de lugares tenha ocorrido por conta da discussão. “Quando a gente vai pro pôquer, o Marcos já vai comigo no carro do meu pai, porque ele queria conhecer o carro também”, declarou.
A colisão contra o Sandero, que matou Ornaldo da Silva, aconteceu pouco depois. Marcus sofreu ferimentos graves, quebrou a costela, teve edema pulmonar e precisou retirar o baço. Ele chegou a voltar para casa, mas foi internado novamente nesta semana. À equipe do “Fantástico”, o advogado de Marcus, José Roberto Soares Lourenço, confirmou que todos haviam bebido. “Ele [Marcus] ficou muito dividido, porque ele sabia que falando a verdade, poderia prejudicar o amigo“, relatou.
Revisão da perícia
Conforme a perícia realizada, o Porsche de Fernando Sastre, avaliado em R$ 1,3 milhão, estava a quase 115km/h quando colidiu contra o Sandero, que rodava abaixo de 40km/h. O foragido, no entanto, duvidou que essa tenha sido a real velocidade que dirigia no momento. “Então, dentro do carro, não tive essa sensação de que eu estava em tamanha velocidade. Inclusive, eu acho que seria válido uma segunda perícia, uma segunda análise, pra ter certeza dessa aferição”, sugeriu ele.
Ida ao hospital
Em um vídeo registrado pela câmera corporal de policiais militares, Fernando e a mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, são vistos tentando deixar o local do acidente. Eles foram impedidos por uma das agentes, que pediu esclarecimentos. Na gravação, os dois informam que vão ao hospital, para que o empresário seja examinado. No entanto, mãe e filho não deram entrada em nenhuma unidade médica.
“Não [estávamos tentando ir embora]. Na verdade, o que aconteceu foi que minha mãe estava me socorrendo. A gente permaneceu ali no local por mais de uma hora, uma hora e meia. Ficamos bastante tempo ali”, alegou Fernando. A reportagem, por sua vez, afirma que ele ficou apenas 40 minutos na cena, das 2h29min até 3h09min.
Enfim, o condutor do Porsche deu sua versão de por que não foi para o hospital, como ele e Daniela disseram aos policiais. “A minha mãe passa em casa para eu pegar minha carteirinha do convênio. Quando eu chego em casa, eu tenho um auto descontrole, eu fico muito nervoso com tudo aquilo que está acontecendo. Ela me dá um remédio e eu apago”, recordou.
Prisão
Agora, Fernando é um foragido da Justiça. Ele é réu por homicídio e lesão corporal gravíssima, ambos com dolo eventual, que é quando se assume o risco de matar e ferir. O pedido de prisão foi expedido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo na sexta (3), após três negativas em primeira instância. A defesa do empresário vai entrar com pedido de habeas corpus.
“A acusação está se baseando muito mais na condição social dele do que na prova dos nove (…) De classe alta, sim, para muita gente. Mas como ele falou, é só um menino (sic) que vai às 7h30 e trabalha até a noite”, rebateu Jonas Margazão, advogado do réu. Fernando, por sua vez, reagiu às notícias de que estaria sendo privilegiado no caso.
“Eu não tenho acompanhado muito as mídias, então eu não sei a dimensão que está isso. Mas eu não sou nada disso, eu não tive nenhum tratamento privilegiado. Foi um caso midiático que estourou. Pra mim, foi tudo normal, não teve tratamento privilegiado. Fui tratado como qualquer um”, opinou ele. Marzagão acrescentou que Fernando só vai se entregar quando a defesa receber do juiz a garantia de que seu cliente estará seguro na cadeia.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública reconheceu que houve falhas no procedimento, e declarou que vai responsabilizar os policiais, por não seguirem a lei e não submeterem o motorista ao teste do bafômetro. O órgão também afirmou que não dará mais detalhes do caso, que corre em segredo de justiça. Pelo mesmo motivo, o sigilo, o Ministério Público negou entrevista.
Pedido de desculpas
Ao final da entrevista, Fernando Sastre disse o que falaria caso estivesse frente a frente dos filhos de Ornaldo. “Eu penso nisso. Eu penso: ‘E se fosse o meu pai?’. Eu sei que não tem nada que a outra parte possa fazer, possa me dar ou falar que vai trazer meu pai de volta. Mas eu sei que, talvez, a única coisa que seria um pedido de desculpas sincero, do coração. Seria isso que eu poderia dizer para eles”, pontuou.
Para os filhos do motorista de aplicativo, o empresário não se arrepende do acidente. “Pra ser sincero, eu não sinto dele um pingo de arrependimento, de emoção. Tanto que depois, quando eu vi a filmagem das câmeras dos policiais, ele sequer pergunta do pai em algum momento. E a mãe dele muito menos. Para você perdoar uma pessoa, você tem que sentir que houve um arrependimento. E eu não senti. Pra mim, eles trataram meu pai igual um nada”, desabafou Lucas Morais da Silva.
“A prisão dele dá, sim, um sentimento de alma lavada. De paz mesmo, porque ele tirou a vida de uma pessoa, de um pai de família. Do meu pai”, completou o rapaz. “Ele tem que ficar lá, né? Meu esposo estava trabalhando, estava vindo do trabalho. E ele estava vindo de uma balada, né?”, analisou Francilene Morais de Caldas, viúva de Ornaldo.
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